18 Abril 2021      14:12

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Casa do Alentejo recorda Abril revivendo passado de resistência

A Casa do Alentejo, em Lisboa, vai recordar Abril  e os episódios de Resistência ocorridos neste marco do Alentejo na capital.

Os primórdios da Casa do Alentejo remontam ao início do séc. XX, quando as graves dificuldades vividas no Alentejo vão forçar a emigração das populações do mundo rural para a cidade, em especial para Lisboa e periferias. Desenraizados das suas terras, os emigrantes alentejanos desejam criar instituições, que lhes permitam o convívio entre comprovincianos e os ajudem a amenizar a nostalgia das suas paisagens, amigos e familiares distantes, mas vão, igualmente, procurar intervir e manter vivas as tradições culturais da sua região de origem.

Graças a uma conjugação de esforços, a agremiação foi fundada e, um dos impulsionadores, Jacinto Fernandes Palma interrogava-se à época:” Se existiam em Lisboa 10 mil alentejanos, porque não havíamos de ter uma casa onde todos nos reuníssemos como uma só família?”, sendo o Grémio Alentejano, finalmente fundado a 10 de Junho de 1923, no Bairro Alto, conhecendo, até hoje, diferentes instalações.   

Em 1939, por força legislativa, passa a designar-se Casa do Alentejo e morava já nas excelentes instalações do denominado “Palácio Alverca”, espaço onde se realizaram-se importantes debates, com protagonistas e personalidades  destacadas nas diferentes áreas do conhecimento e das artes do séc. XX em Portugal.

Além do apoio e defesa de tudo o que ao Alentejo concerne, a associação Regionalista sempre revelou preocupações de natureza cultural e social e chegou até a ter um posto médico para assistir os alentejanos na metrópole.

No período do Estado Novo, estas preocupações não desapareceram e, apesar de se terem sentido os constrangimentos deste período da história nas atividades levadas a cabo pela agremiação alentejana, a Casa do Alentejo revelou ao TA que “é com orgulho que registamos na nossa agremiação alentejana o acolhimento de instituições culturais de outra natureza, de resistência ao cinzentismo imposto e vigiado.”

Exemplo disso foi, em pleno 1947, o jantar de homenagem à jornalista Maria Lamas, intelectual empenhada na promoção cultural e cívica das mulheres do seu país, onde era objeto de repressão.

Na Casa do Alentejo reuniram, em 1952, Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro, e que, na presença de grande número de escritores, apreciaram e aprovaram os estatutos da denominada “Sociedade Portuguesa de Autores”.

Nesta “embaixada” alentejana tentou-se ainda promover a realização de um congresso que debatesse os grandes problemas do Alentejo e a forma de os tentar resolver, mas as autoridades dirigiram o país nunca o permitiram, sendo que diferentes casas ou associações regionais sedeadas em Lisboa eram livres de o fazer.

A “Revista Alentejana” era quiçá a única publicação, no conjunto da Imprensa nacional, que nunca deu as habituais saudações ao Chefe do Estado ou festejou o Regime Fascista, tendo sido também alvo do lápis azul da censura, como se notou na proibição da publicação de um artigo do Professor Lobo Vilela, sobre o alentejano Bento de Jesus Caraça. e que celebrava um homem expulso da Universidade que brilhantemente servia, simplesmente por combater a escuridão do Regime. Era proibido falar de Jesus Caraça, fosse onde fosse, fosse para quem fosse.

Contrariando as diretrizes do sistema, o Boletim da Casa do Alentejo teve um número especial comemorativo do 30ª Aniversário da Associação, em 1953, onde noticiou a morte do Professor Bento de Jesus Caraça, com as seguintes referências: “espírito cintilante e culto; considerado Mestre de Matemática, falecido prematuramente”.

Em 25 de Abril de 1974, a “Revista Alentejana”, então dirigida por Fausto Gonçalves, noticiava o conteúdo do telegrama enviado à Junta de Salvação Nacional, “fazendo votos para que consiga levar a bom termo a defesa dos altos interesses da Nação”, reforçando a força que esta publicação sempre deu à revolução noticiando a destituição das vereações de diversos municípios alentejanos, na sequência de assembleias populares, a ocupação de herdades pelos trabalhadores e o desencadear da Reforma Agrária.

No seu estatuto editorial, publicado em junho de 75, Fausto Gonçalves divulgou, entre outros princípios, advogar “o direito de liberdade de expressão, acompanhar o “Movimento das Forças Armadas na sua via para o Socialismo, defender a Independência de Portugal”, e condenar “a exploração do Homem pelo Homem”.

A Casa do Alentejo teve em homens como Fausto Gonçalves, Victor Santos, Velez Conchinhas ou Ramon de la Féria entre outros, o esteio e a defesa das suas raízes.

A direção da Casa do Alentejo revelou ao TA que “persistentemente, continuaremos a defender os princípios destes homens, que sonharam e lutaram por uma sociedade mais justa e igualitária.” prosseguindo que “Estamos certos de que os dirigentes da Casa do Alentejo que nunca deixaram de lutar, ultrapassando restrições e normas que lhes impunham, estariam, hoje, 25 de Abril, ao nosso lado, defendendo o Alentejo: Um Povo, uma Cultura, uma Região.”

 

Imagem de publico.pt