A Cáritas de Beja alertou recentemente para as centenas de migrantes que chegaram do Nepal, Índia, Paquistão, Bangladesh, Gâmbia, Gana e até do Brasil à procura de uma vida melhor nos campos agrícolas do Baixo Alentejo, mas que, devido à falta de trabalho que veio com a pandemia, ficaram sem sustento.
Em declarações à TSF, Isaurindo Oliveira, presidente da Cáritas de Beja, explica que “muitas destas pessoas vêm de longe, não têm possibilidade de regressar no fim da campanha [da azeitona] e ficam por aqui”, admitindo ainda que esta limitação “pode provocar outro tipo de problemas”.
Entre estes problemas, Isaurindo Oliveira destaca o negócio da contratação de mão de obra barata promovido pelas empresas de angariação que estão a tirar partido da fragilidade económica de quem está longe da sua terra.
O responsável sublinha ainda que os proprietários das explorações agrícolas não têm contacto com os trabalhadores, uma vez que quem faz a contratação dos migrantes são as empresas intermediárias. “Muitas delas são oriundas dos países dos imigrantes. Muitas das vezes, como se costuma dizer, com alguma máfia pelo meio e os migrantes não são pagos”, denuncia o dirigente.
Acrescentando que nunca tinha assistido a tantas dificuldades por parte da comunidade migrante, Isaurindo Oliveira avança que os pedidos de apoio na Cáritas – sobretudo de ajuda alimentar – já ultrapassaram os 300 só nos primeiros dois meses do ano, o que se traduz numa subida significativa face a 2020.
O presidente da Cáritas de Beja admite igualmente que a falta de proteção das pessoas as torna alvos fáceis dos intermediários, numa altura em que o negócio está a estender-se a habitação. “Estão a aproveitar-se de uma situação para fazer da habitação um negócio da China. Há habitação onde cabem duas ou três pessoas e estão lá a viver 30, 40 ou 50. Sem condições”, refere. A Cáritas de Beja já está a acelerar processos para poder responder a um eventual aumento de migrantes sem-abrigo.
Recorde-se que se estima que, na última campanha de recolha de azeitona no Baixo Alentejo, o número de trabalhadores estrangeiros envolvidos tenha superado os 30 mil.
Fotografia de sulinformacao.pt