25 Janeiro 2021      10:36

Está aqui

Bencatel divide-se na hora de votar em protesto pelo fecho da EN 254

A população de Bencatel, no concelho de Vila Viçosa, juntou-se este domingo para este votar nas eleições Presidenciais, com muitos outros a optarem pela abstenção como protesto pelo encerramento da Estrada Nacional (EN) 254.

De acordo com a Lusa, perto do pavilhão da junta de freguesia, onde foram colocadas as duas secções de voto, um grupo de pessoas juntou-se para, de forma discreta, sensibilizar outros habitantes a não votarem ou a escolherem o voto em branco.

Em declarações à agência Lusa, Fernando Almeida avisa logo que não vai votar nestas eleições, porque não vai cumprir “um dever cívico” quando não o “respeitam como cidadão”.

O corte da Estrada Nacional (EN) 254 junto a Bencatel, cujo troço faz a ligação direta entre a aldeia e Vila Viçosa, sede de concelho, causa “um transtorno enorme”, diz, sublinhando que as alternativas aumentam “o dispêndio” para as famílias e que “mais 150 euros ao fim do mês é muito dinheiro”.

Fernando afirma ainda que “as pedreiras estão em cima da estrada e os que desde há dezenas de anos andam a fazer isto sabem que não podiam chegar a menos de 30 metros da estrada, as autoridades assobiaram para o lado e, agora, como solução, cortam a estrada”.

Já Pedro Branco garante igualmente que, desta vez, não vai votar “em protesto” pela interdição da circulação naquele troço da EN254, que o obriga a ter de “fazer mais 25 ou 30 quilómetros” por dia para ir trabalhar. Além disso, “numa semana fecharam a estrada e ninguém avisou as pessoas”.

No entanto, há quem vote, como é o caso de João Capacete, de 77 anos, para quem a única preocupação foi sair de casa cedo para votar nas presidenciais “por causa do confinamento” provocado pela pandemia de covid-19 e evitar a aglomeração de pessoas.

João explica que não deixou de votar por causa da polémica em torno do fecho da estrada, mas considera que a Infraestruturas de Portugal (IP) “tem obrigação de tratar do assunto, porque a estrada é nacional” e exige “uma estrada nova e condições para passar”.

Questionado pela Lusa sobre se o descontentamento da população se reflete nas presidenciais, o presidente da Junta de Freguesia de Bencatel, José Cardoso, considera que “nem tanto” e que isso se observa nas “manifestações populares” que têm sido diárias.

“A abstenção que irá existir será aquela que já era para existir por estarmos com uma situação” de pandemia e em que “provavelmente muitos idosos não vão sair de casa para votar”, realça.

Segundo o autarca, a IP teve “dois anos para encontrar uma alternativa viável e segura para minimizar o impacto social e económico para a população” provocado com o corte definitivo da EN254 junto à aldeia.

Adicionalmente, “não teve em conta o facto de estarmos em pandemia, em que está interdita a circulação entre concelhos”, pois “a única estrada que nos liga a sede de concelho é a 254 e, agora, estamos completamente isolados do país nestes fins de semana”, refere.

Recorde-se que o corte da EN254 junto a Bencatel foi anunciado, na quarta-feira, em declarações à Lusa, por fonte oficial da IP, que alegou questões de segurança, devido à proximidade de uma pedreira.

A decisão está relacionada com a proximidade daquela estrada da pedreira “Monte d’el Rei”, que tem cerca de “134 metros de profundidade” e que se encontra a cerca de 30 metros da via, quando devia estar “a mais de 400 metros”, indicou então a mesma fonte.

A IP, que disse estar, juntamente com a câmara, a tentar “encontrar uma solução” alternativa para a circulação entre Vila Viçosa e Bencatel, indicou que a alternativa de circulação para veículos ligeiros deve ser a EN255.

Já a EN381, entre a EN4 e a vila de Redondo, é indicada pela IP como percurso alternativo dos pesados, durante as próximas duas semanas, enquanto não for feita uma intervenção na EN255.

 

Fotografia de observador.pt