19 Novembro 2022      13:09

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Barro da Flor da Rosa, uma marca do Alentejo

   Seguimos a nossa jornada pela fascinante cultura alentejana. Voltamos ao barro, uma verdadeira marca da região. Depois da olaria de Redondo e Nisa, vamos até Flor da Rosa, berço do imponente Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa e que chegou a ser sede da Ordem do Hospital, mais tarde designada de Malta.

   Com grande reputação, a olaria de Flor da Rosa, “desde tempos muito remotos, foi um importante e considerável centro, no abastecimento de loiça utilitária às populações do Alto Alentejo e Beira Baixa.” Desde cavar do barro até transportá-lo em carroças puxadas por machos, passando pelo seu laborioso tratamento até ir para a roda, assim era o árduo trabalho de quem praticava este ofício. As mais antigas referências a esta atividade oleira, remontam ao século XVII, ocupando no século XX, a grande maioria das famílias desta povoação. Em 1984 registavam-se nove oleiros residentes na aldeia. Em 1988, por iniciativa da Câmara Municipal do Crato, foi criada uma Escola de Olaria e que deu origem a vários cursos. Daqui saíram bons mestres oleiros, dando seguimento a esta notável arte. Rui Heliodoro, foi precisamente um deles. Com 54 anos, é o único oleiro em atividade em Flor da Rosa. Hospitaleiro, muito simpático e amistoso, assim o encontramos à nossa espera, para uma entrevista, na sua olaria.

   Depois de uma longa conversa sobre o “nosso Alentejo”, as suas gentes e tradições, foi com orgulho nos olhos que lembrou o passado: “Esta terra tinha muitos oleiros (uns 80), se vir as ruas até são largas e havia peças de barro por aí a fora”. De caráter simples, Rui Heliodoro é o portador de uma tradição que esteve em vias de extinção. E não é o facto de ser o único oleiro em atividade que o faz sentir de categoria ou status diferente. Antes pelo contrário, refere de forma humilde que: “em boa hora a Câmara fez por este ofício e eu tirei o curso”. A parte mais tradicional e clássica aprendeu com um vizinho, aprofundando outros conhecimentos com a Escola de Olaria”.

   Para compreendermos o que diferencia este barro dos restantes, Rui Heliodoro explicou-nos algumas das suas caraterísticas: “É um barro forte e bom. Resulta da decomposição dos solos graníticos”. Mudam-se os tempos e a sua produção mudou, adaptando-se a novas funcionalidades: “Antes a loiça aqui produzida era de dois tipos – a loiça de água e de fogo. A de água servia para transporte de água ou outros líquidos. A de fogo era para ir ao lume. Antigamente não havia cores, era só o barro e vidrado”. Atualmente, e preservando o traço do passado, ainda se podem adquirir algumas peças em Flor da Rosa: a caçarola, o cantil, a frigideira, o tacho com tampa, o alguidar, o cântaro, o fogareiro, as panelas de uma e duas asas, o barril e a talha. Vale a pena uma visita à Olaria de Rui Heliodoro. Lá, em típico ambiente oleiro onde a tradição vive, encontrarão estas verdadeiras maravilhas da cultura alentejana. De visita obrigatória é também a Casa Museu da Olaria em Flor da Rosa.

Não deixaria de finalizar este artigo sem uma palavra de apreço e incentivo ao Sr. Rui Heliodoro, um verdadeiro estandarte da cultura alentejana, que nos recebeu de braços abertos. Obrigado e até breve!

 

 AGOSTINHO, Isidoro. “O centro oleiro da Flor da Rosa”. p.146

 https://7maravilhas.pt/portfolio/barro-branco-da-flor-da-rosa/

 https://www.cultura-alentejo.pt/multimedia/file/pdf/exposicoes/barros_fl...