14 Dezembro 2020      08:48

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Baixo Alentejo apresenta pela primeira vez saldo migratório positivo

O Baixo Alentejo apresentou pela primeira vez, em 2019, um saldo migratório positivo, de acordo com os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

De acordo com o Diário do Alentejo, até ao final do ano passado, e contrariamente ao que se verificou em anos anteriores, o saldo migratório – que resulta da diferença entre o número de imigrantes e o número de emigrantes – apresentou um valor positivo. Os dados do INE mostram que, em 2019, entre as pessoas que emigraram e as que se instaram no território, o Baixo Alentejo “ganhou” 697 pessoas.

Na região, são os concelhos de Beja (182), Ferreira do Alentejo (79) e Serpa (62) que apresentam os números mais elevados. Com um saldo migratório mais baixo, mas ainda assim, com valores positivos, encontram-se Alvito (35), Aljustrel (24) e Barrancos (3).

Em declarações ao Diário do Alentejo, a demógrafa Maria Filomena Mendes afirma que esta é “uma excelente notícia”, porque nos últimos anos – entre 2015 e 2018 – existiu sempre um saldo negativo. “Em 2019, não só se verificou um saldo diferente, como também foi um valor significativo, porque entraram 697 pessoas a mais, do que aquelas que saíram”.

Segundo a responsável, “se o Baixo Alentejo tiver um comportamento semelhante ao resto do país, podemos concluir que, por um lado, entra mais gente na região (há uma maior capacidade de atração e de fixação de pessoas) e, por outro, pode haver também uma diminuição dos emigrantes”. Se assim for, essa diminuição “é um sinal de que, em particular as pessoas mais jovens e mais qualificadas conseguem encontrar emprego e têm capacidade para fazer a sua vida na região sem ter de se deslocarem para outras zonas do país ou do mundo”.

Maria Filomena Mendes acrescenta ainda que estamos perante uma “tendência bastante significativa, não só para a dinâmica da população, como também para o desenvolvimento da região e para a sua capacidade de atração e fixação, porque o que acontece muitas vezes é que conseguimos atrair [mais população], mas é de forma temporária, e por isso, não conseguimos manter saldos positivos durante muito tempo”. “Este ano”, prossegue, “é provável que também exista uma diminuição no número de emigrantes, mas, não existem, neste momento, dados que permitam perceber e analisar a situação”.

Já o presidente da delegação da Beja da Associação para a Defesa dos Direitos dos Imigrantes (Solim), Alberto Matos, diz que o valor do saldo migratório “significa que houve um aumento do número de imigrantes registados legalmente, ou seja, legalizados com autorização de residência, o que é bastante positivo”.  

De acordo com o responsável, esta realidade “resulta, também, daquilo que tem sido feito nos últimos anos por organizações como a Solim e outras, que se têm debatido pela legalização e que têm aproveitado a nova lei da imigração”.

O saldo migratório positivo representa “um bom indicador [para a região], mas é apenas isso, porque há ainda muito a fazer para a integração e para a qualidade de vida, sobretudo da habitação. Sabemos que se vive, ainda, em condições miseráveis, principalmente nas comunidades imigrantes”, acrescenta.

Para Alberto Matos, está “montado” um “sistema de trabalho e de lucro montado, em parte relacionado com a azeitona e o amendoal”, no qual “os patrões não contratam ninguém diretamente e utilizam intermediários e empresas de trabalho temporário, sobretudo prestadoras de serviços. Algumas trabalham fora da lei e nem pagam os salários. Essa realidade é frequente nos últimos meses de campanha, em que os trabalhadores ficam à sua sorte em casas miseráveis”.

No Baixo Alentejo, principalmente no concelho de Beja, os imigrantes são de origem asiática. Há também uma fortíssima presença de imigrantes oriundos da África Ocidental, de países como o Senegal, a Guiné-Bissau, a Serra Leoa, a Nigéria ou Máli. “Vêm para cá, porque há trabalho, mesmo que às vezes sem grandes condições. Existe uma esperança de legalização, que permite que as pessoas, se estiverem a trabalhar, com contrato e a descontar para a Segurança Social, possam legalizar-se. A língua é uma barreira, mas não muito. É um obstáculo que ao fim de um ano ou dois é ultrapassado”, conclui o presidente da Solim.

 

Fotografia de inovacaosocial.portugal2020.pt