2 Maio 2021      10:13

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Aprender com a COVID?

Crónica eutópica #3 de Fernando Moital

Há um ano que andamos nisto: põe máscara, lava as mãos, fica em casa, queda-te distante dos outros…”congela”! Entendo bem estas regras e tento cumpri-las. Mas todas elas trazem alguma infelicidade porque nos condicionam bastante o nosso quotidiano. E se aprendêssemos alguma coisa com o “bicho”? E se, combatendo o “bicho”, vivêssemos melhor a vida? Vou dar dois exemplos.

A Escola Horta das Figueiras em Évora está equipada com um sensor de dióxido de carbono (CO2) em cada sala. Conhecer os valores de CO2 é importante.

Valores altos de CO2 dizem-nos que a sala está mal ventilada e que as portas e janelas devem ser abertas. Estes sensores ajudam a manter as salas de aula bem ventiladas, com critério e conhecimento. Nesta altura, a Escola Horta das Figueiras deve ser das poucas do país que tem este equipamento à disposição. Évora podia estar a dar o exemplo de que o vírus também se combate com conhecimento.

Podia. Mas, não o está a fazer? Não. Os sensores estão montados há mais de um ano, custaram cerca de 500 € cada, enviam os dados em tempo real pelo router da escola para Espanha, mas houve dois simples cuidados que foram “esquecidos”:

1) explicar à comunidade educativa como funcionam e a sua importância;

2) montar os equipamentos a uma altura que possibilitasse a leitura dos dados. Todos os envolvidos no projecto têm conhecimento desta situação. Nenhum dos parceiros, até ao momento, quis resolver isto. Não estamos a combater o “bicho” com o conhecimento que temos à mão. Perdemos todos. Última nota para este tópico: estes sensores foram instalados ao abrigo do projecto Mybuildingisgreen, apoiado pelo programa LIFE, que tem quatro objetivos principais, sendo um deles o de promover o melhor envolvimento da sociedade civil, organizações não governamentais e actores locais. Pois...

Outro exemplo. É consensual que o vírus se propaga mais facilmente em locais fechados. É por essa razão que a abertura dos restaurantes tem sido condicionada.

A excepção têm sido os refeitórios escolares. Assume-se que o risco decorrente da abertura dos refeitórios escolares é menor que o benefício que resulta da abertura das escolas. Os pais, aqueles que podem, evitam, com sacrifício, que as suas crianças almocem na escola. O que se podia estar a fazer melhor? A experimentar a criação de refeitórios ao ar livre nas escolas; nos espaços ao ar livre da cidade. Não é complexo e não é caro. O que nos impede de experimentar algo que funcionou há 100 anos? Ou que funciona com as esplanadas dos restaurantes? O que está a impedir a criação de pequenos espaços ao ar livre, dentro das escolas ou nas suas imediações, onde, em grupos restritos, se possa almoçar a comida que se traz de casa (ou que se foi recolher ao refeitório), aliviando ainda mais a ocupação dos refeitórios escolares? Não se pode combater o “bicho” com conhecimento e cultivar a felicidade dos momentos da vida ao ar livre? Eu acho que pode.

 

Imagem de wikipedia.org

 

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Fernando Moital, pai , cidadão, professor, ciclista, peão, dendrófilo  e  cronista eutópico. Saber mais em fernandomoital. wordpress.com/

https://www.flickr.com/photos/alacraus/