6 Maio 2020      19:14

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Ansiedade e depressão, a terceira vaga

Será sempre difícil prever as consequências da experiência pela qual estamos a passar, dada a falta de momentos de comparação com a mesma ordem de grandeza. Parece consensual que a crise económica será pior do que a de 2008, e que teremos de contar com uma nova vaga de infeções de cada vez que aligeirarmos as medidas de confinamento a que nos submetemos. Mas há outra consequência da alteração drástica de estilo de vida a que fomos sujeitos por este vírus: o isolamento, a solidão e o medo têm consequências psicológicas profundas.

Somos seres essencialmente sociais, e a evolução da nossa espécie dependeu em grande medida disso mesmo. Gostamos de nos ver, de falar cara a cara, de nos cumprimentarmos, e de abraçarmos as pessoas de quem gostamos. E habituámo-nos a fazê-lo em total liberdade, na exata medida da nossa necessidade pessoal. De um momento para o outro, sem pré-aviso, fomos forçados a contrariar a nossa natureza. E mesmo agora que gradualmente readquirimos os nossos hábitos sociais, não deixaremos de o fazer com condicionalismos e com medo. Será assim na melhor das hipóteses durante os próximos meses, na pior durante os próximos anos. E isso afetou-nos.

Um terço dos portugueses reconhece ter hoje sintomas associados à depressão: tristeza profunda e duradoura; apatia e falta de motivação generalizada; baixa autoestima; angústia e desespero; pensamentos recorrentes sobre a morte. Os principais motivos identificados são a alteração de rotinas no trabalho e na família, a incerteza laboral e financeira, e a necessidade de adaptação à mudança. Entre a população mais afetada estão as mulheres, os jovens, os desempregados, quem tem menos escolaridade, vive em zonas rurais ou tem doença crónica. Mas também é sabido que as doenças do foro psicológico são transversais à sociedade e que ninguém está imune.

O SNS 24 (808 24 24 24) tem uma opção de aconselhamento psicológico. Muitos psicólogos tomaram também a iniciativa de disponibilizar consultas por videochamada, de forma a fornecer uma resposta à distância para o aumento das solicitações. Se identificar sintomas destas perturbações, ainda estigmatizadas, em si ou nos seus familiares e amigos, não tenha vergonha de procurar ajuda. Em sociedades desenvolvidas, deve ser tão natural como ir ao médico quando se está doente.