Neste mesmo dia, durante várias estações e vários anos, no preciso local onde nascera a primeira semente, nasciam três hoje.
A primavera tinha começado há uns dias mas naquele amplo plano, coberto de árvores de fruto, entre as mais jovens e as mais envelhecidas, as árvores sentiam a presença uma das outras mas não falavam entre si.
No meio de todas estas árvores, há muitos anos atrás, entre amendoeiras, cerejeiras, macieiras e pereiras, nascera uma ameixeira.
Enquanto em flor, nada a diferenciava dos restantes troncos, ramos e formas de folhas de todas as árvores. A ameixeira tinha nascido única no meio daquela plantação infinita de árvores de fruto. Ninguém lhe tinha indicado que a tinha plantado ali, ninguém lhe tinha dito que seria o corpo estranho no meio de outras árvores que, ainda semelhantes, no verão já seriam muito diferentes.
No dia de hoje, aquele sábado em que as famílias vão ver as árvores em flor, foi nesse mesmo jardim que os pequenos, acompanhados pelos grandes, chegaram em alvoroço. Para alguns era a primeira vez que iriam conhecer o processo de nascimento de uma fruta.
Para eles, o conceito de árvore de folha caduca não existia… muito menos aquele das amendoeiras em flor, que em Portugal se ouviram tantas lendas… e lindas, não discutimos o seu valor. As crianças chegaram num autocarro, cheias de energia e vitalidade como todas as crianças devem ser. As professoras viram-se e acharam-se para manter a ordem naquele grupo. As crianças lá de recompuseram da viagem, alguns meio mal dispostos, outros extra-excitados e todos contentes de visitar o parque pela primeira vez.
Podemos dizer que era o início da primavera, altura em que as flores anunciavam o primeiro passo para o nascimento das frutas! A verdadeira diferença só se anunciava lá pelo meio de junho, mas nós só estamos em março, quase abril.
Para as crianças, este espaço temporal não fazia sentindo. Não o conheciam, pouco lhes interessava conhecer. Aquela seria mais uma atividade da escola. Para a ameixeira, a única, tão igual entre todas as outras, a diferença seria maior. Ter o gesto de ser reconhecida como diferente pela criançada e todos seria sem dúvida um momento especial.
Ajudaria as flores a desabrocharem primeiro? Talvez não, talvez um pouco! A ameixeira daria as ameixas mais suculentas no verão… aquelas que, infelizmente, nunca poderemos encontrar n o supermercado.
E dessa ameixeira falamos. A que está no meio de uma qualquer multidão, cujas flores são iguais a tantas outras e que delas, os ramos que florescem deixam nascer outros frutos…
Se a mesma tivesse sentimentos humanos, teria porventura sentido a aproximação do verão e de pessoas que não sabem a diferença entre uma ameixeira e uma cerejeira… e que supostamente sabem que as folhas, os ramos, e tudo, são diferentes!
A verdade é que a ameixeira é diferente; sabe que no meio de tudo, nasceria de novo diferente! E neste mês, voltou a florescer!
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