26 Março 2023      11:24

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Ambientalistas preocupados com agricultura intensiva em Odemira

A região de Odemira, no sudoeste de Portugal, enfrenta atualmente uma situação difícil, resultado da exploração intensiva do agronegócio ao longo da faixa costeira entre Vila Nova de Milfontes e Odeceixe. Essa exploração não levou em consideração os limites do território, seus recursos, pessoas e valores naturais. Infelizmente, não houve um controle adequado por parte dos reguladores e fiscalizadores responsáveis, o que resultou na perda do equilíbrio natural da região.

Recentemente, no Dia Mundial da Água, o movimento Juntos pelo Sudoeste se uniu ao SOS Rio Mira para alertar sobre a escassez de água no concelho de Odemira e no Perímetro de Rega do Mira, que faz fronteira com o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV). Embora tenha havido chuvas no outono, a bacia do Rio Mira, que nasce na Serra do Caldeirão e deságua em Vila Nova de Milfontes, permanece frágil. A reserva de água da barragem Santa Clara não ultrapassa 37% de sua capacidade, quando a média histórica para este período do ano seria 76%.

Apesar de todas as evidências dos últimos anos e as previsões para o futuro indicarem uma diminuição significativa da precipitação e da disponibilidade hídrica, os investidores da agricultura intensiva continuam solicitando água para regar e exigindo uma mudança nas regras de distribuição. Isso beneficia quem produz mais e com maior rentabilidade, ignorando o princípio de equidade e comprometendo seriamente o abastecimento de água do maior concelho do país.

O agronegócio tem sido responsável pela plastificação de 40 quilômetros de costa no PNSACV, afetando habitats e biodiversidade de valor incalculável. Essa violação da paisagem e do território tem gerado inúmeras infrações à lei, em nome de produtos que nem sequer constituem bens alimentares de primeira necessidade. Apesar disso, a agricultura industrial representa mais de 60% da atividade econômica local, aniquilando quase tudo ao seu redor.

O Estado tem sido omisso em relação ao setor extractivista do agronegócio, não o obrigando a submeter-se a um licenciamento como acontece com qualquer outra indústria, nem a adotar medidas de mitigação de danos ambientais e sociais, como exige a lei.

Com o início de um novo ano de rega no PRM, e uma iminente descida da captação de água da barragem de Santa Clara, as atenções voltam-se para o estado do rio Mira no início da Primavera: de Santa Clara-a-Velha para jusante já não corre água no leito do rio.

 

Fotografia de agrozapp.pt