24 Março 2022      10:21

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Aluno de Évora monta rede de gravação acústica de aves e morcegos

João Albuquerque, finalista da Licenciatura em Biologia na Universidade de Évora (UÉ), está a montar uma rede de aparelhos de gravação acústica para ouvir os pássaros, mochos, corujas e os morcegos que vivem na Herdade da Mitra, de forma a perceber como a chuva e a temperatura influenciam a vida destas espécies.

Em declarações ao site Wilder, o aluno explica que o seu principal objectivo é “quantificar as relações entre os fatores meteorológicos e a ocorrência e atividade espacial e temporal de aves e morcegos”. “Penso que isto seja de extrema importância para ajudar a entender melhor de que modo os fatores meteorológicos interferem com as avaliações dos impactos das atividades humanas na biodiversidade, sendo muitas vezes um fator negligenciado”, acrescenta João Albuquerque.

As espécies na mira deste aluno de Biologia são, sobretudo, pássaros (Passeriformes), mochos e corujas (Strigiformes), e morcegos das famílias Vespertilionidae e Rhinolophidae.

Contudo, para recolher os dados sobre a ocorrência das espécies na Herdade da Mitra, João Albuquerque decidiu optar por fazer uma monitorização acústica. Neste sentido, foram colocados cinco aparelhos de gravação acústica de espetro completo, capazes de gravar não só a gama do audível como também frequências na gama dos ultrasons. Estes aparelhos estão a gravar as vocalizações de aves e de morcegos, que depois serão identificadas com ferramentas de machine learning. De acordo com João, estas “irão dar-nos dar sugestões de espécies com diferentes níveis de confiança”.

O finalista esclarece ainda que “a grande mais-valia da utilização de aparelhos de gravação acústica é o facto de ser um método totalmente não-invasivo, reduzindo os níveis de stress do manuseio dos animais e o condicionamento dos comportamentos pela presença humana, a zero”.

Além disso, “permite-nos também obter gravações debaixo de quaisquer condições climatéricas, sem sacrificarmos um pobre humano debaixo de chuva torrencial ou de um sol abrasador na tentativa de registar todas as vocalizações que ouve”.

A Herdade da Mitra é, para João, o local ideal para este trabalho, porque tem “zonas completamente distintas no que diz respeito à sua ocupação e utilização antropogénica”. Adicionalmente, há uma estação meteorológica no local que regista e disponibiliza informação a uma elevada resolução temporal.

“Há três hipóteses principais que pretendemos ver respondidas: primeiro, se há uma relação direta negativa entre o nível de precipitação e a atividade de cada um destes grupos de espécies; depois se há uma relação direta positiva entre a temperatura e atividade dos morcegos e, por fim, se os picos de atividade dos passeriformes ocorrem em valores intermédios de temperatura”, conclui o finalista em Biologia.

O trabalho de João Albuquerque, que começou pelo voluntariado na Herdade da Mitra, por sugestão de António Mira, professor na UÉ, está previsto ser apresentado perante um júri, composto por docentes da Unidade Curricular de Projeto em Ciências Biológicas II, no dia 14 de junho.

 

Fotografia de wikiaves.com.br