16 Fevereiro 2016      11:25

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ALTO ALENTEJO: APRESENTAMOS DORA MARIA, A ANFITRIÃ DO FESTFADO

O Alto Alentejo prepara-se para o seu primeiro festival de fado, o FESTFADO, que arranca na próxima sexta-feira e decorre até julho, em Ponte de Sor, Portalegre. 

O festival conta com a presença de conceituados fadistas como António Pinto Basto, que actua no primeiro dia do festival,  Joana Amendoeira (18 de março), José da Câmara (15 de abril), Maria Armanda (20 de maio), Ana Lains (17 de junho) e Custódio Castelo (22 de julho). A anfitriã do festival é a fadista Dora Maria com quem estivemos à conversa.

Chama-se Dora Maria Valente Caldeira e só nasceu por mero acaso em Lisboa já que as suas origens são alentejanas, de Nisa. Em Janeiro de 2015 editou o seu segundo disco  que contou com José Cid na produção e direção musical de Custódio Castelo. 

Um dia ao escutar um fado de Amália que dizia assim “Olha a ribeirinha que sonhou ser um rio, sonho de grandeza de ribeira presa que vai com certeza deixar de sonhar” sentiu um género de chamamento. A metáfora prossegue com o rio que continua a sonhar e agora oportunamente parece desaguar neste grande projecto a que chamou “Mar de tanto Amar”.

 

Tribuna Alentejo: Como foi o fado dar com a Dora?

Dora Maria: Fui com 7 meses de idade para a cidade de Abrantes. Deve ser essa a causa da miscelânea na minha forma de ser e de estar, um toque das planícies alentejanas com laivos das planícies ribatejanas (risos).

Comecei a ouvir fado desde tenra idade, primeiro pela voz da minha mãe que me embalava ao som do fado e foi mesmo com ela que cantei os primeiros versos. A primeira vez que pisei um palco tinha 5 anos de idade e cantei mesmo sem músicos. O gosto pelo palco surgiu nesse dia…

 

Tribuna Alentejo: E essa relação dura até hoje.

Dora Maria: Durante a minha adolescência estive um pouco afastada do fado. Cantei no coro da igreja onde fui responsável pelo coro litúrgico, também cantava em vários eventos musicais.

Em 1992 fui viver para a cidade de Beja, cidade que me acolheu enquanto estudante universitária.
Durante os 5 anos que lá estive fui solista da Tuna Académica da Escola Superior de Educação de Beja (Tunãbêjas) e dois dos quais Magister Tunae da mesma. Também foi em Beja que em tertúlias de amigos todos eles ligados à música que o fado veio para ficar na minha vida. Cantava-se muito nessas tertúlias, vários estilos de música, mas o fado era o meu favorito. Francisco Fanhais, grande amigo e companheiro dessas tertúlias, sempre me dizia que o fado era a minha canção.

 

Tribuna Alentejo: E acontece então uma daquelas oportunidades que poderiam ter mudado muito a sua vida.
 
Dora Maria: É verdade. Em 1998, um grupo de artistas argentinos que iriam actuar no Pavilhão da Argentina na Expo 98, ao ouvir-me cantar num bar em Beja, convidou-me para fazer umas apresentações especiais no seu espectáculo. Tive que recusar. A conclusão do meu curso que se estava avizinhar falou mais alto. Mais uma vez o sonho foi adiado.
 
 

Tribuna Alentejo: E o que acontece depois de Beja e da sua licenciatura?

Dora Maria: Regressei à cidade de Abrantes. Deixei de cantar fado durante cerca de 6 anos. Até que um dia fui convidada para actuar numa noite de fados no Cine-Teatro de S. Pedro em Abrantes. Aí tive a certeza que a minha vida não fazia sentido sem cantar. Nunca mais parei. Pertenci a um grupo de fados de Abrantes, cantei em vários sítios de norte a sul do país e fora além fronteiras (Londres, Leicester, Genéve, Toulouse, Tours,Salamanca, Vigo, Zurique, Lichenstein, Davos ).

 

Tribuna Alentejo: É um percurso feito solitariamente o do fado?

Dora Maria: Pelo contrário. Muitos têm sido os músicos que me acompanham, nomeadamente: João Chora, Bruno Mira,Custódio Castelo, José Manuel Bacalhau, Carlos Velez, Manuel da Gama, Gilberto Silva, Fernando Silva, Custódio Magalhães, entre outros…).