9 Janeiro 2021      12:59

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Alentejo cria sinergia para ter jardins mais sustentáveis

O projeto liderado pela Universidade de Évora (UÉ), pretende criar jardins urbanos mais sustentáveis.

A tática baseia-se em muito no uso de plantas autóctones nos espaços verdes de localidades do Alentejo Central, num projeto poderá vir a replicar em todo o território nacional.

Tem o nome de “Plantas Nativas na Cidade – Repensar os espaços verdes urbanos” e o objetivo é o de melhorar o conhecimento e o estado de conservação do património natural e da biodiversidade da região.

Este projeto conservação de gestão do património natural, surge numa colaboração com a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC), a empresa Sigmetum – e que é produtora de espécies nativas e vários municípios da região – e com o papel fulcral de equipa multidisciplinar de investigadores da UÉ, liderados por Carla Pinto Cruz, Professora do Departamento de Biologia e investigadora no MED da universidade alentejana.

As plantas autóctones são mais resistentes ao calor e aos longos períodos de seca e o projeto pretende a conservação e gestão do património natural de modo a impulsionar o maior uso de plantas autóctones nos espaços verdes de localidades do Alentejo Central.

Plantas como o sargaço (Cistus monspeliensis), a roselha-grande (Cistus albidus), o rosmaninho (Lavandula pedunculata), o pilriteiro (Crataegus monogyna) ou a gilbardeira (Ruscus aculeatus) são alguns exemplos de espécies nativas que a equipa de investigadores vai usar em espaços verdes do Alentejo.

Este projeto é financiado pelo Fundo Ambiental e está inserido no Programa de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, do Ministério do Ambiente com um valor de 37 903,02€

“É para nós claro que a utilização de recursos vegetais próprios apresenta diversas vantagens e permite aumentar a resiliência e sustentabilidade dos nossos espaços verdes, o que é especialmente pertinente na realidade atual de intensificação das alterações climáticas” sublinhou a investigadora Carlos Pinto Cruz.

É objetivo melhorar o conhecimento e o estado de conservação do património natural e da biodiversidade da região e poder aplicar um modelo de desenvolvimento, gestão e valorização de territórios com um elevado capital natural, como as matas, os jardins ou outras estruturas ecológicas com funções paisagísticas urbanas indispensáveis ao bem-estar e qualidade de vida das pessoas que habitam a cidade e respetivas zonas periurbanas.

Este projeto já está a ser aplicado em Évora, e envolverá ainda os municípios de Montemor-o-Novo, Estremoz, Mourão e Redondo. Serão também promovidas ações de sensibilização junto dos cidadãos e dos técnicos com o propósito de alertar para a necessidade de formar as Organizações Não Governamentais de Ambiente, as Comunidades Intermunicipais e as Associações de Municípios, que de outro modo, não teriam capacidade nem suporte financeiro para executar este tipo de atividades impulsionadoras do debate em torno desta problemática.

Teresa Batista - da CIMAC e também docente da UÉ – revela que este projeto “tem um enorme potencial de replicação não só nos 14 municípios do Alentejo Central, mas em todo o continente”, e dá resposta ao delineado no Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas no Alentejo Central (PIAAC-AC) elaborado em 2018, que aponta medidas para a racionalização do uso dos recursos hídricos e a manutenção da biodiversidade, “em especial no Alentejo mas em todas as áreas do Mediterrâneo” onde se prevê até ao final do século “o agravamento das condições de seca e o aumento de fenómenos extremos como chuvas torrenciais e ondas de calor” recorda Teresa Batista, considerando ainda que o uso das espécies autóctones nas zonas verdes urbanas “afigura-se como a solução adequada, uma vez que se tratam de espécies adaptadas e mais resilientes a condições extremas e com menores necessidades de irrigação”.

Os problemas ambientais decorrentes da utilização de espécies vegetais exóticas tanto em meios urbanos, como em meios rurais, são vários, como afirmou a biologia a investigadora do MED da UÉ, Catarina Meireles e acresce que “a maioria das espécies utilizadas é muito exigente em água e o seu cultivo implica a utilização de grandes quantidades de fertilizantes, herbicidas e inseticidas”, destaca a investigadora referindo que “o elevado consumo de água associado à manutenção destas espécies, tem um grande impacto, sobretudo na região mediterrânica, onde a escassez de água é um problema cada vez mais grave”. Além de muitas destas espécies se tornarem invasoras, conseguindo “proliferar quase sem controlo passando a representar uma ameaça para as espécies nativas, para a diversidade e equilíbrio dos ecossistemas”.

Esta iniciativa possibilitará a conservação de espécies e habitats protegidos, através de um aumento da biodiversidade nativa, que permitirá não só reduzir o consumo de água e utilização de fitofármacos como potenciará a sustentabilidade e resiliência destes espaços face às alterações climáticas iminentes.

Prevê-se também uma melhoria na gestão económica em consonância com as políticas ambientais nacionais estabelecidas com a União Europeia, em particular com a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030 (ENCNB 2030), criada com o intuito de estancar a perda da biodiversidade nacional, aprofundando a sua conservação e utilização sustentável e promovendo a respetiva valorização, apropriação e reconhecimento pelos diversos agentes responsáveis e pela sociedade.

 

Imagem de revistajardins.pt