18 Março 2016      09:33

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ALENTEJO: ISTO NÃO SE COPIA NEM SE REPRODUZ, É ÚNICO

Margarida Fortunato, natural de Mértola, e Renato Vaz, natural de Lisboa, são os nomes por detrás da marca Myrtilis Gourmet e gerem, a partir de Corte Gafo de Cima (Mértola) a produção de doces, condimentos, bolachas, biscoitos, entre outros produtos. Fomos à descoberta da história da Margarida, do Renato e da Myrtilis Gourmet. Saiba mais em https://www.facebook.com/myrtilisgourmet/timeline


 

Tribuna Alentejo – A Margarida é natural de Mértola e foi a partir da sua terra que criou a Myrtilis Gourmet. Nunca chegou a “sair” de Mértola?

Margarida Fortunato – Saí de Mértola com poucos meses de idade e fui viver para a região da grande Lisboa. Nasci aqui no concelho de Mértola na aldeia de Corte Gafo de Cima para onde voltei há cerca de 16 anos.

Tribuna Alentejo – Contem-nos um pouco da vossa história. Como se conheceram? Em Mértola, em Lisboa ou algures a meio do caminho?

Renato Vaz – Conhecemo-nos em Lisboa, por lá casamos e tivemos o nosso filho. Em 1999 decidimos por impulso mudar as nossas vidas e viemos viver para o concelho de Mértola. Já aqui tínhamos uma casa de férias, na Corte Gafo de Cima, onde passámos muitos fins de semana e de onde sempre nos era difícil sair no domingo para regressar a Lisboa. Lembro-me que quando aqui comecei a vir havia uma convivência muito grande nos diversos cafés que ainda existiam. Lembro-me que se cantava o “cante”, se comia e se bebia e se ouviam histórias. Os “nossos velhos” eram o motor dessa convivência. Foram partindo e a terra foi ficando mais pobre. Mas ainda resta muita tradição que é preciso preservar e respeitar.

Tribuna Alentejo – A Myrtilis Gourmet é uma marca relativamente recente, com cerca de 2 anos. Esta foi a vossa primeira incursão na área empresarial?

Margarida Fortunato – O meu marido é empresário desde 2000, dedica-se a consultoria empresarial na área da ciência e tecnologia dos alimentos. No entanto, sempre tivemos ideia de fazer algo relacionado com as tradições alimentares do Sul. Essa oportunidade surgiu há cerca de 2 anos e assim começamos a criar os produtos Myrtilis Gourmet ou MYG que é a alcunha da marca. Acima de tudo identificamo-nos com o que fazemos, gostamos de cada um dos nossos doces, de cada uma das nossas conservas vegetais, de cada um dos produtos que criamos aqui na nossa pequena unidade de fabrico. Gostar do que fazemos é o principio. A atividade empresarial que lhe está associada é uma consequência. Mas obviamente que criamos os nossos produtos para serem consumidos pelas pessoas. Mas o que queremos transmitir é os nossos produtos não são simplesmente um doce dentro de um frasco, ou trufas de conserva ou biscoitos numa caixa de alumínio. Os nossos produtos têm história. Há uma parte intangível em cada unidade que produzimos que contém um pedaço da terra, desta natureza que nos rodeia, da história das gentes com quem aprendemos. E isto não se copia nem se reproduz: é único.

Tribuna Alentejo – A que atividade profissional se dedicavam antes? Estava relacionada com o mundo dos sabores?

Renato Vaz – A Margarida foi professora num período inicial da sua vida profissional e depois sempre se dedicou à atividade pública em autarquias, onde está agora. Eu desde sempre trabalhei em inovação e desenvolvimento de novos produtos e processos agroindustriais em grupos internacionais dedicados à produção alimentar. Quando viemos para o Sul fundei a minha empresa de consultoria e continuo nessa atividade, mas de uma forma independente como consultor. Os sabores sempre nos acompanharam porque sempre gostámos do campo e do mundo rural.

Tribuna Alentejo – Como surgiu a ideia da criação da Myrtilis Gourmet?

Margarida Fortunato - Exatamente porque sempre quisemos, desde que mudamos a nossa vida de Lisboa para Mértola, dedicar parte da nossa atividade à transformação e valorização de produtos locais. Quisemos faze-lo de uma forma profissional, cumprindo todas as regras da legislação alimentar europeia e acima de tudo apostando muito na qualidade da apresentação e na diversidade de produtos, sempre com os olhos postos na tradição alimentar do sul.

Tribuna Alentejo – Como podemos adquirir os vossos produtos? É possível comprar através da página do facebook?

Renato Vaz – Os nossos produtos estão disponíveis no comércio local na região em que a MYG se encontram designadamente em Mértola e em Beja, e também em algumas lojas selecionadas da região da Grande Lisboa. Temos também já a decorrer algumas tentativas de exportação, apoiados em parceiros dinamizadores de mercados e de negócios. Estamos também presentes em algumas plataformas de comércio eletrónico. Quem quiser comprar-nos diretamente os produtos porque está em locais onde estes não se encontram disponíveis pode sempre contactar-nos através da nossa página de facebook.

Tribuna Alentejo – De que forma o Alentejo está presente nos sabores da Myrtilis Gourmet?

Margarida Fortunato – A maior parte das matérias primas que usamos, e as mais importantes, são de proveniência local, algumas produzidas por nós próprios. Também por isto utilizamos nos nossos rótulos a marca Natural.Pt que nos foi outorgada pelo Instituto de Conservação da natureza e Florestas por utilizarmos produtos com origem no Parque Natural do Vale do Guadiana.

Tribuna Alentejo – Como é um “dia normal de trabalho”? Quem faz parte da equipa para além dos dois?

Renato Vaz - Depende das épocas do ano. Só produzimos doces e conservas vegetais nas alturas em que as matérias primas respetivas estão naturalmente disponíveis. Porque queremos respeitar os ciclos da Natureza. Por isso podemos ter até 3 pessoas a trabalhar em períodos de maior atividade, dedicando-se desde a receção e lavagem das frutas e vegetais, passando pelo corte e preparação, até à confeção, embalamento, pasteurização e rotulagem.

Tribuna Alentejo - Como é gerir a sede deste negócio a partir de Mértola?

Margarida Fortunato – É como gerir a partir de qualquer outro ponto do mundo, com exceção de que noutro lugar não teríamos acesso aos produtos que aqui existem. O acesso aos meios logísticos e os contactos com os clientes fazem-se normalmente, sendo que a única infraestrutura mais fraca é a internet. Seria bom, por outro lado, que existisse uma maior dinâmica colaborativa ou mesmo associativa entre os diversos empresários do concelho e parece que algo se está a desenhar nesse sentido.

Tribuna Alentejo – Que mensagem gostariam de deixar aos leitores do Tribuna Alentejo?

Renato Vaz – Aos que já conhecem os nossos produtos agradecer terem experimentado e desejar que continuem a consumir; aos que ainda não conhecem, que os provem. A todos prometemos continuar a fazer com que a Myrtilis Gourmet e os produtos Myg sejam um repositório de sabores, de experiências sensoriais e de valores e tradições do Alentejo e do Sul da península ibérica.