28 Agosto 2018      13:13

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Alentejo, do paraíso turístico aos tesouros por explorar: O Castelo Real de Valongo

Com uma vasta variedade de recursos, a Região Alentejana, através de políticas de desenvolvimento sustentado, teve nos últimos anos um significativo crescimento a nível turístico. Numa perspectiva global, os dados estatísticos são por si só evidentes da oferta diversificada, onde o Alentejo surge como um dos territórios mais procurados da Europa. A grande convergência entre Municípios e a Entidade Regional de Turismo do Alentejo permitiu não só uma divulgação de excelência, como, o reconhecimento nacional e internacional através de sucessivos prémios e certificações.

Sendo este sector um importante vector da economia local importa ainda, porém, enfrentar a sazonalidade como grande desafio. Neste aspecto, de visão bem mais territorial e direccionada também para as próprias populações, é imprescindível que os municípios em conjunto com as associações locais e tutela, consigam criar planos de turismo municipais, onde o património artístico, imaterial, paisagístico, cultural e patrimonial estejam não só divulgados como sejam eles próprios os intervenientes activos da identidade local.

O crescimento do turismo em contexto rural e do enoturismo levam-nos precisamente para o próximo passo que deve ser tido em conta pelas diversas entidades regionais: a divulgação, promoção e sensibilização para o património e cultura locais.

E é neste âmbito que gostaria de divulgar um dos muitos tesouros históricos exemplo da arquitectura militar portuguesa: o Castelo de Valongo ou Castelo Real de Montoito (Freguesia de Nª Sra. de Machede, Distrito de Évora).

Com uma imponência intemporal ergue-se de forma isolada no alto de uma pequena colina, demarcado pelo divino néctar de Baco.

Túlio Espanca já o tinha referido como uma “importante fortificação medieval, única no seu género no Concelho”, é o seu isolamento e não proximidade de povoação (a não ser S. Vicente de Valongo) que torna o Castelo de Valongo um caso raro e que mereceu classificação como MN - Monumento Nacional por Decreto de 16-06-1910 (DG n.º 136). A escassa existência de documentação histórica que confirme a sua fundação, tem direccionado vários autores a atribuírem diferenciados períodos de edificação, por outro lado, a sua história confunde-se com a da Vila de Montoito que dista a apenas 6km.

Sabemos que Pero Anes atribuiu a primeira carta de foro a Montoito no ano de 1270, onde encontramos mencionado “(…) Herdade de Montouto ou Valongo (…)” (BATISTA,1976), o qual nos faz crer que o sítio de Valongo e Montoito pertenciam talvez a uma só herdade. Todavia, e sem qualquer referência directa ao Castelo nesta carta, não podemos afirmar com segurança não só a sua relação com a Vila, como também o ano ou período provável da sua edificação.

O mesmo sucede com tantos outros documentos sobre Montoito: as suas figuras mais ilustres e a própria Ordem de Malta que por aquelas bandas se estabeleceu por vários séculos. Alguns autores atribuíram-lhe como fundação os romanos, como foi o caso de Alarcão (1983), através de uma reprodução da sua planta atribuída a Gabriel Pereira, ainda que inexacta. No mesmo seguimento Rei (2000), através de um estudo métrico-construtivo e histórico-espacial, afirma que a sua planta-base de forma quadrangular e o seu espaço interno tem as medidas exactas da unidade agrária romana “actus quadratus”, sendo por isso possível definir a sua origem como romana.

Ao visitante será também possível verificar que alguns dos seus materiais de construção são reaproveitados e da mesma origem, talvez provenientes de uma “mansio” ou outra estrutura romana existente nas suas imediações. Certo é que já no séc. XIV e conforme documento existente no Cartulário do Capítulo da Sé, já existiria uma estrutura denominada de “castelo velho” mas implantada na margem oposta, em “Alcorovisca”. A riqueza histórica e singular deste Castelo, continua durante o período Islâmico onde podemos encontrar duas inscrições árabes na torre noroeste, a qual foi transformada em “qubba” com entrada em cotovelo, bem típica do período Almóada (REI, 2000).

São estas inscrições raras em construções deste período e principalmente em contexto rural que lhes dão um significado histórico de enorme valor. No início do séc. XV registaram-se novas intervenções no Castelo de Valongo, com a subida da torre nordeste transformando-a em Torre de Menagem, assim como edificação da escadaria anexa. Já por início do séc. XVI, época de construção do paço tardo-gótico, o castelo teve como alcaides Rui de Sande, conselheiro de D. João II e embaixador de D. Manuel, seguido de D. Diogo de Castro, capitão-mor da cidade, ao qual sucedeu por compra João de Sande filho de Rui de Sande (BARATA, 1904). Actualmente esta fortificação encontra-se em propriedade particular.

 

Imagem de capa de Ruin´art, Gastão de Brito e Silva

 

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