17 Julho 2020      09:23

Está aqui

Alentejo - a certeza de querer ir

Alentejo - a certeza de querer ir

Por Ricardo Jorge Claudino

 

 

Há quem adormeça
a olhar um horizonte vasto, sem fim. 
Há quem se canse
de percorrer estradas sem sombra à vista. 
Há quem se perca
no centro de uma vasta imensidão.

 .
Aos que aqui se reveem, 
considerem a minha opinião: 
Deixem em casa os guias, 
a moléstia e a dormência 
e venham ver o Alentejo, 
com tempo, 
sem urgência.

 .
Se não quiserem ver o Alentejo 
nada perdem e nada ganham; 
ficam pelo meio. E no meio fica 
quem tudo perdeu por não ter 
coragem de ganhar.

 .
Compreender-se-á as vossas desistências
se fundamentadas por questões alérgicas. 
Alergia ao sentir o tempo 
aprisionado nas muralhas de Marvão, Monsaraz e Mértola; 
Alergia à emoção de respirar 
um oceano de terra navegada 
pelo calo das mãos; 
Alergia ao cante que Deus criou 
para que cantando se diga: 
— a maior sorte do povo alentejano 
é o sabor dos alimentos 
que a sua dureza semeou.


Nada se constrói sozinho, 
mas foi com nada que este povo 
tudo criou. Por isso, 
se vierem ao Alentejo, 
seja de espírito aberto, 
semelhante ao dos frajais, 
que há muitos séculos prosperam 
sobre quem sempre lhes destinou 
meros segundos finais. 

 

---------------------------------------------------------------

Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático.Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta.

Imagem de capa de Miguel Claro