7 Maio 2018      15:24

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Ainda podemos acreditar nos políticos?

É com cada vez maior incredulidade que vamos assistindo aos polémicos acontecimentos na vida política nacional. Todos os dias, nos meios de comunicação e nas redes sociais, somos confrontados com suspeitas de fraude e de corrupção que recaem sobre indivíduos que desempenharam, ou desempenham cargos públicos. 

Da direita à esquerda, sucedem-se as denúncias sobre moradas falsas, peculatos, tráfico de influências e utilização indevida de dinheiros públicos, numa proporção que se torna verdadeiramente assustadora.

Onde ficam os princípios e os valores? A crise, nos dias que correm, é a este nível.

Quem vai para o mundo da política, tem que ter um comportamento irrepreensível e uma postura digna nos cargos que eventualmente possa vir a desempenhar. Foi isso que os valores de Abril procuraram transmitir às diferentes gerações de portugueses. Fizeram-nos acreditar, a dada altura, que quem nos podia representar devia ser um exemplo a seguir. Muitos começam certamente a pensar que tudo não passou de uma mera ilusão… Apenas se procura o “tacho” e o “poleiro”, como se diz na gíria popular…

Será que ninguém fica livre de práticas pouco éticas no desempenho dos cargos públicos? Não é por isso de admirar que haja um “fosso” cada vez maior entre eleitores e eleitos. E este facto pode originar o aparecimento dos tais discursos populistas e demagogos, que são no fundo, fomentados por aqueles que deviam dar o exemplo. Está a ser preparado o terreno fértil para surgimento de discursos radicais e ilusórios, à semelhança do que já aconteceu noutros contextos. Os receios não são infundados. Quem alertou para estes temas está certamente apreensivo sobre a forma como os ditos fenómenos poderão vir a ter consequências nefastas. A verdade é vamos ficando cada vez mais descrentes com a classe política.

Como se justifica que pessoas que, vivendo à sombra dos partidos e sem nenhumas provas dadas do ponto de vista profissional, fossem ocupando lugares de destaque na vida pública, apresentado em alguns casos, sinais visíveis e exteriores de riqueza? Vão passando dos cargos públicos para as “prateleiras” ou exílios dourados e vice-versa. Quais são os critérios para a seleção de potenciais candidatos no período pré-eleitoral? A utilização indevida de currículos que, afinal, nunca passaram de uma ilusão, assume-se como um argumento indecoroso para se justificar uma excecionalidade académica na ascensão político-partidária. Constituem uma verdadeira afronta para quem se esforça diariamente, com todo o empenho, a nível laboral, da docência e da investigação.

Esta é também uma questão que importa analisar. A vida política nacional corre o risco sério de se transformar num verdadeiro lodaçal e, como sempre acontece, pagam os justos pelos pecadores, aos olhos do eleitorado. Vamos ficar impressionados com as elevadas taxas de abstenção ou com a indiferença total em relação ao discurso dos políticos? Certamente que não.

É necessária uma renovação total na forma como os políticos desempenham as suas funções. Quem pretende ser eleito, tem que ter uma postura ética e moral irrepreensível. Tem que dar o exemplo e ser honesto. Não se podem usar os cargos como um meio para a obtenção de regalias ou privilégios pessoais. Tenhamos a esperança numa mudança de atitude dos que nos representam, nos diferentes órgãos de soberania. Eu ainda acredito naqueles que, felizmente, ainda vão sendo uma exceção positiva às aparentes regras negativas que se foram impondo…