8 Outubro 2019      18:03

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O jornalista revolucionário e militante, homenageado na Casa do Alentejo

A Direcção da Casa do Alentejo, a Comissão Executiva e Conselho Nacional da CGTP-IN, a Direcção de "A Voz do Operário" e o PCP, organizam uma sessão de homenagem ao jornalista e sindicalista Fausto Gonçalves e aos 120 anos que marcam a data do seu nascimento. 

A iniciativa decorre a 12 de outubro, às 17h00, na Casa do Alentejo, em Lisboa. Nascido em Tomar, no ano de 1899, filho mais velho de um abastado industrial e comerciante de calçado, José Gonçalo, sai de casa aos 17 anos, sem completar os estudos liceais. Dado a convívios e leituras de cariz revolucionário, entrou, muito novo, em forte litígio com o ambiente familiar muito conservador, mesmo provavelmente reaccionário, gerado por seu pai.~ O Congresso Operário Nacional, realizado em 1914 na sua cidade natal, desperta a sua consciência de adolescente, já solidária com as classes trabalhadoras. Começa a escrever. Lê toda a literatura que lhe passa ao alcance. Lateralmente, diverte-se a jogar futebol e é um dos fundadores do União de Tomar, que se vem a tornar um importante clube de província.

Sai da casa paterna para uma situação problemática. Encontra trabalho no Comércio em Torres Vedras, mais tarde em Beja, até se fixar em Lisboa. Abraça por inteiro o Jornalismo e a luta política. Fausto Gonçalves torna-se companheiro de Alexandre Vieira, Manuel Joaquim de Sousa, Mário Araújo, Cristiano Lima e Mário Castelhano, figuras grandes do Anarco-Sindicalismo, ideologia que respeita mas onde encontra incapacidades de afirmação para o futuro da luta dos trabalhadores. Escreve em “A Batalha”, órgão da Confederação Geral do Trabalho - que vem a tornar-se o 2º ou 3º diário português em tiragem, tendo colaboradores como Ferreira de Castro e Julião Quintinha.

Em 1917, a Revolução Russa leva-o à adesão às ideias bolcheviques e a integrar o grupo dos fundadores da Federação Maximalista Portuguesa, que surge em 1919 e vai anteceder a criação do Partido Comunista Português, ao qual pertence desde a primeira hora, estando assinalado como seu membro em toda a vigência da 1ª República. Colabora em “A Bandeira Vermelha”, dirigido por Manuel Ribeiro, além de jornalista, escritor de assinalar. Este é preso em 1920, mas quando sai da prisão assume um comportamento político diferente do que apresentava e torna-se um católico conservador.

Em 1920, assume a orientação do Jornal “Era Nova”, órgão da Federação Portuguesa dos Empregados do Comércio, onde ascende a Secretário-Geral. Nesta qualidade, é nomeado Delegado ao Conselho Confederal da Confederação Geral do Trabalho, estrutura ilegalizada em Fevereiro de 1927.

Em 1927/28, é Director do “Alvorada”, de Setúbal, onde colaborara, ainda muito novo, nos anos de 1914/15.

É redactor ou colaborador de títulos significativos da Imprensa Portuguesa, ao longo de vários anos: Além dos citados “A Batalha” e “A Bandeira Vermelha”, deixa o seu nome em o “Diário do Alentejo”, “O Rebate”, “O Tempo”, “Diário Liberal”, “Diário da Noite”, “O Diabo”, “Notícias de Coimbra”, “Gazeta de Coimbra”, Revista “Turismo”, “Mundo Gráfico” e “Luz e Vida”, do Porto.

Em 1932, funda um célebre semanário, “O Relâmpago”, cuja orientação política e conteúdo informativo leva ao seu encerramento.

É o rápido fim deste periódico que vai determinar o seu futuro de jornalista, que o regime de Salazar procura estrangular, exercendo todas as pressões junto da generalidade da Imprensa Diária para impedir a publicação dos seus textos, mesmo que retalhados por uma censura feroz.

Fausto Gonçalves orienta a sua actividade para a Imprensa Não-Diária: os atrás indicados “Notícias de Coimbra” e “Gazeta de Coimbra” são exemplo do novo caminho.

Chega a Chefe da Redacção do Boletim da Casa do Alentejo, mais tarde a “Revista Alentejana”, lugar que não abandona até a doença o arrebatar da vida profissional, e ajuda a manter com parcos meios.

Começa a editar, em 1939, o “Almanaque Alentejano”, que mantém ininterruptamente até aos anos 70 e lhe permite algum desafogo económico. Este tipo de publicação, pelo seu carácter popular e tradicional, muito o interessou e fez sair, igualmente, durante alguns anos, o “Almanaque do Algarve”.

Membro do Sindicato dos Jornalistas, do qual possuiu, até à morte, e durante muitos anos, o cartão de sócio nº1, da Associação Portuguesa de Escritores e da Sociedade Portuguesa de Geografia, recebeu vários prémios por trabalhos jornalísticos. Foi agraciado, em 1962, com o Diploma de Honra da União Meridional da Imprensa Periódica, de Nápoles, sob proposta de Gino Rovida, Presidente da Alliance Internationale des Journalistes et Écrivains Latins, à qual pertencia.

Fausto Gonçalves, nascido em Tomar, era por muitos tomado como alentejano, pois no Alentejo fixara o seu espírito e as suas energias, provavelmente desde quando, saído da adolescência, trabalhou em Beja.

Em 1945, abraça uma tarefa que se vem a tornar missão, por sugestão de Francisco Velez Conchinhas, figura de relevo da Casa do Alentejo: o “Boletim da Casa do Alentejo”, mais tarde, por sua proposta, a “Revista Alentejana”. O seu editor, Dr. Vítor Santos, confia-lhe totalmente, o periódico, onde fica, até ao fim da sua vida, como Chefe da Redacção. Sem um orçamento razoável, para além de escrever, encarregava-se da sua paginação, de grande limpidez, da impecável organização administrativa; ocupava-se, em suma, de tudo para a sua sobrevivência, fosse da publicidade fosse das colaborações, muitas delas de elevado nível. Um ponto a acentuar: a publicação da Casa do Alentejo destoava de prática comum na generalidade da Imprensa Portuguesa: as saudações periódicas e laudatórias aos Presidentes da República e do Conselho. Bem lhe custava, o arrojo.

Contribui decisivamente para a Festa dos Cantadores Alentejanos e levanta a cronologia da Acção Cultural da Casa do Alentejo, que publica em 1956.

Fonte: Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal