11 Setembro 2021      09:42

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11 de setembro de 2001 - "America under attack"

Atacaram as torres gémeas e derrubaram o sentimento ilusório de segurança no Ocidente.

Há 20 anos, às 8:46h (13:46h hora de Lisboa) o voo 11 da companhia americana “American Airlines”, com destino inicial para Los Angeles, embateu na Torre Norte do World Trade Center (WTC).

O avião, que tinha levantado voo às 7.59h, em Boston, levava a bordo 11 membros da tripulação e 81 passageiros, 5 dos quais terroristas. Pouco depois, ainda sem que o mundo dispusesse destas informações.

Na RTP, eu via um José Rodrigues dos Santos - com um passado jornalístico com momentos difíceis como os conflitos em Timor Leste, Angola, África do Sul, Koweit, Iraque, Bósnia e Jugoslávia - pasmado, em silêncio, sem perceber o que se estava a passar, atónito, face às imagens que chegavam em direto dos Estados Unidos, via CNN, e a tentar explicar o que estava a acontecer nas imagens que se viam em direto.

De vários ângulos, de várias fontes, as imagens sucediam-se e só uma coisa era unânime: o espanto e a escassa informação daquilo que estava a acontecer.

Ainda se faziam conjeturas sobre as causas do primeiro embate e, 16 minutos depois, 9:03h em Nova Iorque, 14:03h em Portugal, um segundo avião embate na segunda torre de um dos centros económicos norte-americano e do mundo: o Wall Trade Center.

Após este segundo embate, os rodapés da CNN diziam já “America under attack” (América sob ataque) num dia em que não foram só as torres a ruir; o mundo ocidental democrático nunca mais seria o mesmo. A noção de segurança desvaneceu com a queda das torres e o rasto do ó chega aos dias de hoje com a retirada forçada, vergonhosa e irresponsável do Afeganistão.

Um ataque ao coração do mundo ocidental deixava a nu as fragilidades das vivências que se estabeleceram num pós-guerra fria e em breves momentos a geopolítica mundial e História do mundo voltou a mudar.

No mundo fantástico de Hollywood já se tinham realizado produções sobre todos os modos de “tentar” destruir algo importante nos Estados Unidos: dinossauros, gorilas gigantes, extraterrestres, ameaças nucleares, intempéries massivas etc. Sempre com um final onde os EUA ressurgiam como resilientes e vencedores.  Mas em todas estas mega produções hollywoodescas nunca se pensou no mais óbvio e mais realista (quiçá por ser possível a sua realização): um avião comercial cheio de combustível e sequestrado por terroristas, no caso, islâmicos.

Na base do atentado terrorista estava a organização terrorista a Al-Qaeda - liderada por Osama bin Laden, milionário saudita, ex-aliado dos norte-americanos, desde o Afeganistão - e que lutavam - e lutam - “contra os cruzados e os judeus”.

Um terceiro avião caiu no Pentágono causando a morte de mais 55 militares e um quarto avião sequestrado, o do voo 93 da United Airlines e que seguia para S. Francisco - com sete membros da tripulação e 33 passageiros, além dos 4 terroristas infiltrados - foi alvo de uma revolta dos passageiros e tripulação contra os terroristas e provocaram que o avião se despenhasse numa floresta de Shanksville, no estado de Pensilvânia, às 10:03h locais. Crê-se que o objetivo dos terroristas seria levar o avião a embater na casa da Democracia americana, o Capitólio.

Nos aviões morreram 246 pessoas. À hora que se deu o primeiro embate, estavam cerca de 17 400 civis segundo o NIST (Instituto Norte-americano de Estatística e Tecnologia). No conjunto dos atentados deste dia morreram 2 996 mortes, 19 deles terroristas, sendo que o número de vítimas viria a aumentar com o tempo, pois as poeiras e inúmeros produtos cancerígenas libertados naquele dia viria a provocar doenças fatais a mais algumas pessoas.

Surgiram inúmeras teorias de conspiração sobre estes atentados e que levantavam muitos factos e dados suspeitos. Depois da célebre Cimeira do Açores, num clima ainda de consternação e de muita empolgação face a uma retaliação, surge uma desastrosa invasão no Iraque, com base e justificação numa suspeita infundada de existência de armas químicas.

O Médio Oriente - que nunca foi muito estável na gestão da geopolítica e da paz - continuou em guerras e convulsões sociais sucessivas criando milhões de refugiados que procuram a Europa como boia de segurança e salvação.

Nomes como Bin Laden, Al Qaeda, Guantanamo, Estado Islâmico, talibãs, entre outros, tornaram-se conhecidos e comuns nas notícias e seguiram-se mais atentados e atrocidades, um pouco por todo o mundo, embora muito do destaque tenha recaído sobre os ataques ao mundo ocidental.

Hoje, passados 20 anos, nos cerca de 65.000 metros quadrados onde estavam as torres gémeas, está agora o “Ground Zero”, um memorial ao acontecimento composto por quatro torres, um museu e um centro comercial.

Nesse museu está uma frase do escritor clássico romano, Virgílio - e que reproduzimos na citação de hoje do Tribuna Alentejo - “Nenhum dia te poderá apagar da memória do tempo.” Nada apagará; é inegável: o mundo mudou neste dia de 2001.

Mas também deste dia, guardam-se ainda as mensagens deixadas, via telefone, por pessoas que estavam no WTC ou nos aviões aos seus familiares, amigos e entes queridos (gravações disponíveis no Youtube), cientes do seu destino, e são todas de amor; não ódio, não raiva, algum medo, é certo, mas sobretudo amor. Acreditemos que, voltando à época Clássica e a Virgílio: “Amor vincit omnia” (o amor vence tudo”). Plante-se esperança sobre o entulho; faça-se luz sobre as sombras do medo. Liberdade e Direitos Humanos não são negociáveis.  

 

 

Artigo reescrito com base nos artigos publicados no Tribuna Alentejo ao longo dos anos.

Imagem de DOUG KANTER para a EPA em brasil.elpais. com