3 Setembro 2021      15:18

Está aqui

“Criptomoedas? Podem substituir o Euro em 5 anos”. Quem disse? Os executivos da banca!

A Deloitte conduziu um estudo entre Maio e Abril deste ano junto de mais de 1200 executivos bancários de 10 zonas diferentes do mundo, e as respostas que obtiveram são, em grande medida, desconcertantes e fascinantes, considerando alguns resultados obtidos como “sísmicos” para a indústria financeira internacional, e que afectarão, nos próximos anos, qualquer organização ou indivíduo que utilize um banco.

Segundo o estudo “Deloitte’s 2021 Global Blockchain Survey”, o sistema financeiro está a sofrer um abalo forte em resultado da rápida evolução e expansão do mercado dos activos digitais registados em blockchain, e 76% dos executivos da indústria financeira acreditam que os cripto-activos serão uma forte alternativa ou substituição das moedas fiduciárias como o Euro ou o Dólar nos próximos 5 a 10 anos.

Uma maioria clara de 81% dos executivos considera que a tecnologia blockchain, que serve de suporte aos cripto-activos, é uma tecnologia amplamente escalável e que já atingiu uma muito confortável confiança e adopção generalizada. Enquanto isso, 73% acham que as empresas devem adoptar rapidamente a tecnologia blockchain e os cripto-activos como a Bitcoin, Ethereum ou Cardano sob pena de perderem vantagem competitiva relativamente a quem o faz.

Linda Pawczuc, uma das coordenadoras do estudo, chega a concluir que aquilo que foram os fundamentos da banca desde os seus primórdios tornaram-se substancialmente em pressupostos ultrapassados, que obrigarão a indústria a reinventar-se de forma a voltar a encontrar uma razão de existência e de geração de valor e crescimento.

Acrescento que não terá sido ao acaso que já este ano, gigantes do sistema financeiro mundial, como Goldman Sachs, JP Morgan Chase ou Morgan Stanley tenham começado a incluir derivados de Bitcoin e outros cripto-serviços na sua gama de produtos, ou que alguns bancos centrais tenham criado a sua própria criptomoeda ou moeda digital nacional.

Todavia, o mais desconcertante de tudo isto, é o facto de os media generalizados ainda se encontrarem numa postura de demonização da cripto-revolução em curso, pegando em detalhes menores relativamente ao uso de determinadas pseudo-criptomoedas para fins criminosos ou esquemas fraudulentos, ao mesmo tempo que se ignoram os benefícios de uma tecnologia revolucionária como a Blockchain, uma tecnologia de rede aberta (onde qualquer pessoa pode participar, utilizar e tomar decisões), sem fronteiras (que não é condicionada por nenhum Estado central, mas sim pelos seus utilizadores), neutra (resistente a interesses particulares) e resistente à censura (onde não é possível alterar ou violar qualquer informação registada no passado). Estes são os verdadeiros pontos que devem ser amplamente divulgados e debatidos, não é o valor da bitcoin nem o aproveitamento fraudulento de certos criminosos, são os benefícios amplamente revolucionários desta tecnologia.

Podemos apenas imaginar se, caso esta tecnologia já existisse e tivesse sido implementada na banca nacional em finais dos anos 90, se bancos como o BPN ou BES tinham conseguido esconder as informações que esconderam, que levaram em grande medida ao seu colapso. Numa rede que regista perpetuamente todas as informações, como a blockchain, nunca nenhum banco teria escondido ou destruído informação alguma, e provavelmente, todos os alarmes teriam soado bem mais cedo, evitando os desfechos catastróficos que vivemos com o colapso desses bancos, que pagaremos até ao fim da vida.

E à medida que os cripto-activos, como as cripto-moedas, os NFT’s e toda a expansão do mundo dos negócios descentralizados, incluindo negócios de índole financeira (De-Fi), se começam a afirmar com uma postura de peso no mundo do dinheiro, por cá, aparentemente, preferimos dedicar-nos a perder o comboio do futuro com discussões irrelevantes sempre que o tema vem à tona, normalmente, devido a razões, também elas, irrelevantes.

Termino assinando por baixo uma importante nota deixada pela Deloitte no estudo que apresentou: “A participação da banca, das empresas e dos indivíduos no mundo dos cripto-activos já não é uma simples opção, mas sim algo inevitável.”

A blockchain é em 2021, aquilo que a internet era em 1995, a incubadora do futuro dos negócios.