8 Julho 2015      16:57

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TRAGÉDIA GREGA

Começo com uma chamada de atenção: se não gosta de polémicas, volte para a semana, que esta crónica é capaz de não lhe agradar!

Dia 5 de julho: os Gregos votaram “Não” no referendo e desde logo o mundo regozijou com esta vitória, que os Gregos são um povo de coragem (que para muitas pessoas é acentuada no “o”), que fizeram ver à Troika que não se brinca com as pessoas e com a democracia. E há tanta coisa a dizer sobre o referendo…

Em primeiro lugar, muitas das pessoas que se manifestaram nem sabem qual foi a questão do referendo. Uma sondagem sobre isto seria interessante… E muito provavelmente ganhava o “Não” e com uma vitória bem mais esmagadora.

Em segundo lugar, o Syriza não foi eleito pelos Gregos há uns meses para combater a austeridade? Para tentar negociar a dívida (ou acabar com ela)? Para fazer frente à Troika? Ou sou eu que ando muito desatento, ou foi isto que fez com que o Syriza ganhasse. Então qual é a necessidade de referendar algo que está relacionado com o motivo pelo qual o Syriza foi eleito? A meu ver chama-se pleonasmo: e com custos para o erário público Grego. E das duas uma: ou o governo Grego procurava uma garantia que o povo continuava ao seu lado apenas 6 meses após as eleições ou então parece (repito: parece) que queriam uma desculpa para ir embora (o Varoufakis se calhar esperava…).

Em terceiro lugar, há argumentos que em meu entender não são válidos. Algures no Facebook, um indivíduo de seu nome Rodrigo Moita de Deus (que eu não conheço) deixou o seguinte post:

 

Querida Caixa Geral de Depósitos,

Tem sido muito complicado pagar os empréstimos que eu pedi. Ontem, durante o jantar, falei do assunto com a família e sufraguei a coisa. Só o mais novo votou a favor do pagamento da dívida. A esmagadora maioria votou contra qualquer tipo de penhora sobre os bens que comprei com o vosso dinheiro. Posto isto espero que a vossa administração tenha em conta a votação lá de casa e se acalmem com essa coisa das cobranças. Afinal...somos uma democracia.

Cordialmente,

Rodrigo Moita de Deus

PS: Este mês estou um pouco apertado por causa das férias. Queiram por favor transferir algum para o NIB do costume. Obrigado.

 

Com mais ou menos ironia, este é outro dos problemas que está em causa. Porque alegar, como muitas pessoas argumentam, que o facto de o povo Grego não ter decidido fazer a dívida, implica que democraticamente pode decidir pagá-la ou não tem um nome: começa pela letra “d” e até tem origem grega – demagogia!

Agora vem a parte mais interessante. Não estou a defender nem a Troika nem o Syriza. Acho é que a maior parte das questões discutidas em praça pública são inócuas. Porque o grande problema de fundo, em meu entender, é a pobre forma como as pessoas são governadas. É o facto de não haver uma responsabilização pela gestão danosa. É a já velha conversa da pesada herança que veio do passado. E basta olhar para o nosso país para perceber isso: todos falam de combater a corrupção mas quando toca a chegar aos seus interesses, os políticos encolhem-se. E transformam também eles a democracia em demagogia. Afinal de contas, é só mudar metade da palavra…