24 Outubro 2015      01:05

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TALVEZ...

Talvez sim, talvez não… talvez o mundo seja um ovo redondo e não oval, mas achatado nos polos. Talvez os pensamentos dos homens possam ser escritos em crónicas como esta e com isso adiantem algo de novo ao conhecimento do mundo e dos homens em geral. Por que não? É bem possível que este advérbio de dúvida se torne uma certeza e seja entendido na sua plenitude de sentidos. Talvez…

Há imensas dúvidas que todos os dias nos assaltam e nos fazem ponderar uma série de premissas que teríamos mais ou menos validadas. Talvez o mundo nunca seja um mundo livre de guerra ou de fome, ao contrário do que ambicionam os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, nunca consiga ser erradicada do mundo. Se o mundo, como o conhecemos, fosse uma balança, seria desequilibrada, como se todo o peso de uns poucos conseguisse ainda ser mais pesado do que o peso de todos os outros milhões. A analogia da pergunta faz-se com a adivinha que mete um quilo de chumbo e um quilo de penas e é de trazer a esta reflexão se não quisermos pensar em nada, o nada que é tudo na reflexão sobre o nosso ser.

Talvez um qualquer texto devesse ser uma história de tantos sítios do mundo. Talvez se devesse passar em África, nesse continente mãe, plano, onde abundam as savanas; seco, onde o deserto já conquistou as plantas que ainda resistiam às areias e aos ventos. Talvez África devesse ser uma só floresta tropical, escondida no meio dos segredos das árvores grandes, do som dos animais que a povoam. Talvez África pudesse ser um dia um continente de paz, se a história que devesse contar lá se passasse. Talvez os objetivos que referi fossem todos alcançados antes de 2020 se a ficção superasse a realidade. Uma viagem entre o norte e o sul, acabando no ponto mais remoto, numa praia com pinguins, depois de ter percorrido o largo continente, às costas de um sonho. Nesse continente que imagino, o percurso é fácil, ligeiro e sem percalços. No continente que conheço, na realidade dos dias e das televisões não é assim. Talvez o venha a ser um dia, na minha história. Talvez o venha a ser, na vontade dos que governam o mundo.

Fosse esta história contada na Ásia e seria diferente, sem tantos desertos, sem pinguins, mas com o som dos animais que ecoa no vasto continente que é igualmente diverso. Talvez aqui se contasse a história de impérios e de populações gigantes. E, mais uma vez, poderia ser que os objetivos definidos fossem alcançados, não em 2030, mas já em 2020. Houvesse vontade daqueles que governam o mundo e o caminho seria percorrido como se toda a rota da seda não conhecesse nem muros, nem castas, nem animosidades. A Ásia seria, na minha história, um tesouro de séculos, escondidos nos templos de Angkor Wat, Bagan ou Borobudur. Numa história de imperadores e reis, de reinos e especiarias, seria a história do futuro contada nas línguas de um escritor de um qualquer desses países, criticando a atualidade, vista ao espelho de um passado.

A história das Américas do Norte e do Sul seria escrita por um cronista solitário, no hemisfério, a meio, no equador, onde a sombra não se deixa avistar, sentado a escrever a longa crónica frutuosa no novo continente. Entre uma parede insonorizada, o norte não é o sul e as notícias desse norte, do que nele se passa e interfere em todos os outros continentes. Essas notícias ecoam pelo mundo fora. E no sul, o vasto que, no diferente, é igual e se tenta harmonizar em linguagem e tratados.

Mas talvez aquilo que escrevo não faça sentido. Talvez a minha intenção seja essa, porque o sentido das coisas nem sempre é claro e, quando parece transparente, às vezes dilui-se nas áreas cinzentas da vontade do ser humano. Talvez olhemos a oriente, ao sul austral. Lá, bem longe, a Oceânia deixa ecoar o som dos instrumentos musicais do povo aborígene e esquece-se na longa planície das terras da Austrália e no nosso antípoda que é a Nova Zelândia. Talvez se possam escrever muitas histórias de um passado e outras tantas do futuro. Do gelo dos polos não quero escrever. Talvez valesse a pena pela sua riqueza na preservação do nosso futuro, nessas sementes que estão guardadas em cofres gigantes...  

Talvez se escreva mesmo sobre nós europeus, nós portugueses, sobre a nossa ideia de quem somos. Talvez se ajude a entender o que nos torna únicos no pequeno retângulo. E talvez alargue o pensamento e se pense por que, na Europa, os olhares façam parte de uma história que tem medo da história que conhece bem. Que escrevam os que receiam que a história do passado se repita no espelho do futuro. Um ponto final. Talvez tudo seja uma crónica ficcional e os ventos acalmem. Talvez… Talvez…