4 Dezembro 2015      14:42

Está aqui

STORMY ALENTEJO - OS CAÇADORES DE TEMPESTADES

São o André Farinho, o Daniel Reis, o David Soldado, o João Pereira, o João Santos e o José Ramos, um grupo de 6 amigos com idades compreendidas entre os 21 e os 52 anos, naturais de Pias, concelho de Serpa e apaixonados pelos dias de tempestade. Todos decidiram captar imagens desses grandes momentos, seja em fotografia ou em vídeo, e partilhá-los com o mundo inteiro. Como cenário têm o céu do Alentejo e o resultado, de cortar a respiração, pode ser apreciado na página do Facebook https://www.facebook.com/stormy.alentejo. Excusado será explicar porque são Made in Alentejo.

 

Tribuna Alentejo – Costumamos ver fotografias da planície alentejana tiradas durante do verão... O Alentejo pintado com as cores do calor, o laranja, o amarelo e o céu azul. Vocês, pelo contrário, procuram registar imagens que normalmente as pessoas não associam ao Alentejo. Como foi que esta ideia começou?

José Ramos – Antes da ideia deste projeto ter surgido, o gosto pela fotografia e pela meteorologia, mais concretamente as tempestades e as trovoadas, já era comum a todos os membros. Inicialmente foi criado um grupo privado no Facebook onde partilhamos fotografias, notícias, artigos, acompanhamento meteorológico e onde combinamos os encontros para ir fotografar. Foi dentro deste grupo que de forma simples e espontânea, um dos membros, o João Pereira, lançou a ideia de criar uma página para partilharmos as nossas fotografias.

Tribuna Alentejo – O que vos leva a procurar a tempestade, ao contrário da maioria das pessoas, que fogem delas? É a beleza das imagens?

José Ramos – Podemos considerar-nos uns caçadores de tempestades, porque enquanto a maioria das pessoas se resguarda em casa durante estes eventos, nós fazemos exatamente o contrário. Pegamos nas máquinas fotográficas e nos carros, e vamos atrás da tempestade em busca do melhor local para a registar. Por serem acontecimentos pouco vulgares, de beleza rara e sempre aleatórios em todas as vertentes, o interesse desperta aliado ao facto de provocar uma certa adrenalina por estarmos em contacto direto com a força da natureza. Quando bem sucedidos, conseguimos capturar imagens de uma beleza rara que só o esplendor da natureza nos pode oferecer.

Tribuna Alentejo – Costumam ir juntos para os locais ou mantêm uma atividade independente uns dos outros?

José Ramos – Sempre que se prevê que vai acontecer um evento, quase de imediato, começamos a combinar no nosso grupo de Facebook a disponibilidade de cada um. É difícil por vezes reunir o grupo completo por razões pessoais ou profissionais, mas consoante a disponibilidade é sempre feito um acompanhamento do evento no terreno por membros do grupo. Basicamente somos todos amigos com este gosto em comum, o que facilita em tudo.

Tribuna Alentejo – A fotografia o vídeo são hobbies ou dedicam-se a tempo inteiro? A vossa atividade profissional está ligada à fotografia ou ao vídeo ou têm alguma formação na área?

José Ramos – A fotografia e o vídeo são gostos e hobbies que partilhamos em comum entre todos, bem como a aprendizagem que é feita no terreno uns com os outros. Apenas um dos membros, o João P. Santos, está a estudar fotografia e dedica-se profissionalmente a esta área. É possível ver o trabalho dele nesta página: https://www.facebook.com/joaopsantosphotography. Destaca-se o facto de já ter sido reconhecido em várias publicações nacionais e internacionais pelo trabalho feito em fotografia noturna, visto estarmos num local privilegiado para fotografar as estrelas.

Tribuna Alentejo – Assusta-vos estar no meio das tempestades? Quais os principais riscos e que precauções tomam?

José Ramos – Assusta sempre pelo facto de que a natureza é imprevisível, mas é esse pequeno receio que desperta a adrenalina e nos faz ficar para registar o momento. É claro que cá em Portugal não temos tempestades enormes como aquelas que conhecemos dos Estados Unidos, mas temos que ter sempre em consideração algumas precauções, porque corremos sempre risco com descargas elétricas. Em termos preventivos, tentamos manter sempre uma distância considerável com o núcleo da tempestade. Até porque a fotografia fica mais interessante com a tempestade em plano de fundo, servido de cenário e complemento às planícies alentejanas. Quando nos deslocamos para fora da localidade, já temos alguns locais marcados onde nos podemos abrigar caso a tempestade nos atraiçoe. Em último caso, temos que recorrer ao abrigo do interior dos carros, que em pleno campo e no meio de uma tempestade, é o local mais seguro que pode existir.

Tribuna Alentejo – Há algum episódio engraçado associado a uma dessas saídas para captar uma imagem?

José Ramos – Um deles aconteceu numa das últimas caçadas deste ano. Começamos a fazer o acompanhamento via satélite e radar através da Internet e identificamos uma célula a crescer em Espanha, muito perto da fronteira e a dirigir-se para Portugal, mais propriamente na direção de Barrancos. Combinamos o encontro e fomos até à Serra da Adiça por ser um local com boa visibilidade. No terreno as coisas nem sempre são como imaginamos e a imprevisibilidade da natureza mostra isso. A célula tinha estagnado em Espanha e havia algo na fronteira que não a deixava chegar mais perto. É um comportamento vulgar das células que nascem naquela zona que ainda não compreendemos. Decidimos mudar a estratégia e fomos até Vila Verde de Ficalho na esperança de nos aproximar mais da tempestade. Apesar de estarmos muito perto, não tínhamos um bom local para fotografar porque para nós não basta fotografar nuvens e raios. O conjunto geral da fotografia tem que ser apetecível à vista com uma boa composição. Avançamos ainda mais no terreno e fomos até Espanha. No entusiasmo com a tempestade, começamos a reparar que o carro estava a ficar sem gasolina já perto de Aroche. Nessa altura estávamos mesmo debaixo da tempestade e continuávamos sem conseguir fotografar, ora porque o cenário não era o ideal, ora porque estava a chover. Tivemos que voltar para abastecer no Rosal de la Frontera. Sem querermos desistir, voltamos para a serra e andamos meio perdidos no meio de “caminhos de cabras” sem encontrar um bom local para fotografar. Já estávamos a desesperar porque a tempestade estava a desaparecer e o carro a dar sinais de falta de água e aquecimento do motor. Acabamos por ir até Safara e conseguimos fotografar um arco-íris já ao fim da tarde.

Tribuna Alentejo – Há quanto tempo começaram a captar as imagens da Stormy Alentejo?

José Ramos – Antes da criação da página já tínhamos algum material, uns mais que outros, mas todos os membros já tinham fotografias para partilhar. A página foi criada recentemente e o objetivo é partilhar as fotografias mais antigas dos autores, bem como partilhar as próximas fotografias que iremos capturar certamente.

Tribuna Alentejo – Quão difícil é conseguir captar um momento como os que partilham na vossa página? 

José Ramos – É extremamente difícil devido ao facto da imprevisibilidade da natureza, como já referido. Estamos dependentes de vários fatores, como o local onde estamos instalados e da atividade da tempestade. Por vezes pensamos que vai ser uma tempestade com muita atividade elétrica e no fim ficamos desiludidos por ter sido um grande fiasco. Outras vezes acontece o contrário, em que do nada surgem células bastante fotogénicas e estamos sem material para fotografar.

Tribuna Alentejo – Já pensaram em fazer alguma exposição coletiva?
José Ramos – Já pensámos no assunto, até porque temos material com qualidade para tal. |