18 Maio 2015      11:25

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REGRESSO PARA QUE PAÍS?

Esta semana, por duas vezes, Cavaco Silva referiu-se à importância do regresso dos jovens emigrantes a Portugal.

Não posso deixar de notar que, após ter dedicado a sua vitória eleitoral aos jovens, esta seja a única vez que oiço Cavaco Silva dirigir-se-lhes em concreto, curiosamente no final do seu mandato.

Quase cinco anos se volveram e o Presidente da República não conseguiu proferir uma única palavra de apoio aos jovens do seu País, nem mesmo quando se ouviu o Primeiro-Ministro aconselhar os jovens a emigrar.

Se a prioridade de Cavaco Silva é o regresso dos jovens a Portugal, onde estava nesta altura?

Qual a opinião do Presidente quanto aos quase 40% de jovens desempregados no seu País?

Cavaco Silva defende o regresso dos jovens que emigraram a Portugal. Eu também o defendo, mas não para este Estado de coisas.

Como podemos desafiar um jovem a regressar a um País onde não existem oportunidades de emprego?

Como podemos desafiar um jovem a regressar a um País onde é censurado e posto de parte apenas por demonstrar certas e determinadas qualidades que levam os seus concorrentes a minimizá-lo.

Qual o futuro que o Portugal de hoje poderá oferecer a estes jovens que, decerto, querem regressar ao seu País?

Um futuro repleto de precariedade, estágios profissionais e insegurança laboral?

A verdade é esta: existem poderes instalados e pessoas que, por estarem tão confortáveis no seu posto, tentam eliminar a todo o custo toda e eventual concorrência.

Ao não proferir palavra durante todo o seu mandato, Cavaco Silva está a apoiar todos estes interesses.

Ao não actuar nestas situações, com os poderes que a Constituição lhe confere, Cavaco Silva está a dizer aos jovens que não acredita neles. Que mais vale mudarem para um País onde o seu trabalho seja realmente reconhecido. Sem medos de concorrência. Apenas valorizando a criatividade.

Uma vez uma professora disse-me: “Isto lá fora é uma selva!” e esta é a verdade. Todos o sabemos.

Nesta selva empresarial, os jovens que querem realmente permanecer no seu País necessitam de uma real garantia de permanência, não de estágios profissionais que se perpetuarão no tempo até alguém ter a coragem de incentivar a contratação efectiva de profissionais qualificados e com cartas para dar.

Esta é talvez uma das maiores vagas de emigração jovem que temos assistido. E tal deve ser visto como um grito de alerta.

Se esta afirmação do Presidente da República tivesse vindo em tempo útil, teria sido a primeira a incentivá-la mas, mais uma vez, Cavaco Silva deixou os seus interesses partidários falar mais alto.

Longe vai o tempo em que Cavaco se aproximou de ser o Presidente que mais exerceu o Poder de Veto.

Actualmente Cavaco Silva é o Presidente que mais tem apoiado o seu Partido em detrimento do futuro do País que jurou representar e nestas condições é certo que os jovens regressarão, mas certamente para dar um redondo não a esta política e regressar ao País que apostou neles, aguardando pela derradeira oportunidade em Portugal.

Uma oportunidade pela qual valha a pena lutar.