18 Julho 2015      11:23

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REAJUSTES DE VERÃO

Há dois momentos do ano em que nos sentimos mais capazes de mudar a nossa vida. Um é pelo Natal, final de ano, quando o frio incentiva o recolhimento e a reflexão; o outro é no verão.

Depois de seis ou sete meses aos trambolhões, o mundo parece agora afrouxar a sua marcha e haverá – por poucos que sejam – uns dias para relaxar e pensar.

Centremo-nos me como podemos aproveitar estes momentos para mudar a uma afinação e ajuste da nossa vida de modo a recarregar realmente as baterias e nos dê energia e motivação para enfrentar os desafios e lutar pelos sonhos em setembro, quando o mundo voltar à velocidade cruzeiro.

Segundo o “El País”, ao longo do ano damos prioridade aos nossos compromissos e obrigações e esquecemos quase totalmente o mecanismo que nos permite chegar a tudo.

Tentamos agir e reagir em função das urgências sem duvidar sequer um pouco em castigar o corpo: come-se comida rápida e muitas vezes fora de horas, não se dorme o suficiente, não fazemos atividades física e, no caso de muitos, descontam o stress em tabaco ou outras coisas prejudiciais à saúde.

Antes de começar já a pensar no que quer fazer no próximo outono, nos seus objetivos e metas, aproveite estes meses de calma de estival para uma reflexão profunda e renovar o seu organismo.

Algumas dessas medidas poderão ser:

Cozinhe com alma.

A pressa e as contingências do dia-a-dia laboral fazem com que comamos muitas vezes fora de casa ou que se cozinhe qualquer coisa só para despachar. Podemos começar por dar ao nosso corpo outro tipo de alimentação e revitalizá-lo; devemos comer mais produtos frescos e saudáveis. Ir ao mercado pode ser um passeio cheio de surpresas agradáveis e a isso deve somar o tempo que vai passar na cozinha – pode não parecer, mas cozinhar pode ser uma das atividades mais relaxantes – e depois, na mesa, disfrutará ainda dos pratos que cozinhou.

 

Recarregue as baterias do sono

 Depois de uma comida saborosa e equilibrada, as férias permitem praticar a arte da sesta, que, de acordo com o Dr. Eduard Estivill, “não é uma invenção espanhola, senão uma necessidade do cérebro como foi demonstrado nas últimas investigações sobre cronobiologia. Todo o mundo deveria oferecer-se um bom sonho.” Se dormimos o suficiente à noite – e o verão também convida a isso – deve dormir uma sesta que não exceda os 30 minutos.

Em vez de decidir que quando chegar a setembro vai ao ginásio – e que desta é que é – aproveite o tempo agora para se pôr em forma e vá fazendo um exercício lúcido e leve. Dependendo onde estará, nade 20 minutos, passeie de bicicleta, corra um pouco pela praia ou pratique alguma forma de desporto! Só para desentorpecer o corpo libertar feromonas e relaxar a mente.

Faça-o diariamente e vai ver que recuperará as forças perdidas. Poderá assim enfrentar as necessidades da mente que tão foi tão castigada com stress, ansiedade e tensões ao longo do ano.

Um dos contos asiáticos mais conhecidos, e relacionados com o estado zen, tem como protagonista um guerreiro que vai a casa de um maestro venerado pela sua sabedoria.

Enquanto o idoso ia enchendo a chávena de já, o guerreiro explicava-lhe todas as suas façanhas e títulos conseguidos nos últimos anos.

Enquanto escutava o seu hóspede, o maestro continuava a deitar chá até que saiu da chávena e se espalhou por toda a mesa. Alarmado, o guerreiro pede-lhe que não siga deitando chá, porque a chávena já está cheia.

O idoso respondeu: “Exatamente igual à tua mente. Vens tão cheio de ti que não posso ensinar-te nada. Para poder encher a tua taça, primeiro tens que esvaziá-la.”

Do mesmo modo que uma boa dieta contribui para perder uns quilos, também dormir o suficiente e fazer exercício ajudam nessa tarefa e antes de iniciar novos desafios devemos libertar-nos de todas as sobrecargas da nossa mente e que nos impedem de receber mais.

Os conteúdos desnecessários que impedem a entrada de novas ideias são passíveis de serem agrupados em duas categorias:

Na primeira estão as más experiências que ainda ocupam a nossa mente e das quais atribuímos o sofrimento a terceiros; provocam tristeza, dor, culpa ou ressentimento. Temos que passar a página.

A segunda engloba frustrações por aquilo que nos propusemos fazer e não fizemos ou fizemos mal, pelos objetivos que queríamos atingir e não atingimos etc., os planos fracassados, por vezes, magoam tanto como os golpes recebidos. Por isso é importante deixá-lo também para trás e assumir o nosso direito de mudar.

 

No momento em que este tipo de toxinas entra no nosso circuito mental, precisamos de um grande esforço para nos livramos deles. A prática da meditação vai neste sentido e é uma excelente ferramenta para esvaziar a chávena em poucas sessões, já que nos ensina e treina, em grande parte, a não pensar.

Quando o nosso mecanismo, quer corporal, quer mental, funcione sem fricções nos longos dias de verão, poderá então ocupar-se da árdua tarefa de fazer planos para o novo recomeço.

Do mesmo modo que muitas crianças criam ilusões com os novos livros e novos materiais escolares e querem crescer, evoluir e dar o melhor de si, também os adultos devemos focar-nos em setembro com otimismo, apesar de que muitas vezes a rotina lhe vá dando umas machadadas. Vejamos alguns dos grandes sucessos dos objetivos estivais, os seus principais inimigos e como pode preveni-los:

Dizer adeus aos maus hábitos

Perder peso, fazer exercício e deixar de fumar ou beber são propósitos que dominam as listas de planos que se fazem quer no verão, quer na passagem de ano.

Os riscos:

O perigo sério que corre é o de planear uma mudança demasiadamente radical de hábitos do dia 31 de agosto para o dia 1 de setembro. Colocar toda essa pressão de mudança exagerada em cima dos ombros dificulta a tarefa e torna-a mais custosa.

O antídoto:

Já ter iniciado as novas rotinas saudáveis no período de férias, quando tem mais tempo e está mais relaxado, com menor pressão, permitir-nos-á manter-nos no meio da tempestade.

 

Ser mais eficiente no trabalho

Ser mais eficiente no seu trabalho, ou, se necessário, até procurar um emprego novo que lhe permita ser mais eficaz. A realização profissional é essencial para que a nova fase tenha uma cara mais agradável. Sobretudo para as pessoas mais autónomas, e que têm um certo poder sobre o seu trabalho, propõem-se a todo o tipo de melhorias.

O perigo:

Não ter em conta que muitos problemas virão de terceiras pessoas, não do nosso modo de atuação.

O antídoto:

Programar a nossa resposta pragmática e positiva, para os imprevistos que se apresentam sem dúvida na nossa ocupação.

 

Reduzir gastos

Não deixa de ser um paradoxo que seja no mês com mais despesas que decida ser mais poupado e apertar um pouco mais o cinto.

 

Perigos:

Ser pouco realistas na mecânica dos dias laborais – não terá tempo para preparar a comida e levá-la de casa todos os dias – e não ter em conta os imprevistos como as avarias domésticas, ou dos carros.

Antídoto:

Concentrar a poupança no que pode controlar, como o telefone e outras faturas, além de apontar os gastos numa folha Excel e analisar mensalmente onde gasta o dinheiro.

 

Passar mais tempo com a família

Seja focado no parceiro ou parceira ou nos filhos, este é outro clássico das listas de propósitos difíceis de cumprir.

Perigos

Uma vez que o tempo se comporta como o dinheiro – ou o investimos bem, ou mal – tal como o dinheiro, podemos pecar por excesso de otimismo ao pensar como vamos dispor dele.

Antídoto

Ir reduzindo gradualmente a despesa desde já. Comece pelos compromissos supérfluos da agenda, tudo aquilo que fazemos por obrigação e sem necessidade; conseguirá assim libertar mais tempo para o que é prioritário.

O psicoterapeuta canadiano Nathaniel Branden assegura que “um objetivo sem um plano de ação não passa de uma ilusão”. Temos que ser concretos, objetivos e realistas na hora de programar os nossos propósitos, mas, sobretudo, não esqueçamos que a felicidade não se encontra no futuro, mas sim naquilo que fazemos a cada instante.

Encha-se de luz, aproveite o sol e siga a máxima latina: “Carpe Diem".

 

Imagem daqui