26 Setembro 2015      17:43

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O VOTANTE INDECISO À LUPA

Nesta altura de eleições é ponto assente que se ouvirá falar muito de abstenção e votante indeciso. Numa coisa o votante indeciso ganha ao abstencionista: vota.
 
O votante indeciso é uma figura quase mitológica que muitos analistas e politólogos chegam até a apontar como os grandes decisores de eleições como aquelas que, e a julgar pelas sondagens, se avizinham.
 
Sobre o “votante indeciso” tudo se diz e todas as especulações são feitas, das mais sensatas às mais descabidas. É comum ouvir-se dizer que o votante indeciso, consoante o seu entusiasmo, determina o sucesso dos comícios. Do votante indeciso diz-se ainda que é um “papa-debates” e que é o resultado desses debates que dirão o seu sentido de voto – talvez por isso a nova, e pouco credível, moda do voto por sms ou chamada para escolher o vencedor dos debates.
 
É para estes votantes indecisos que as campanhas se dirigem quase em exclusivo nos últimos dias; é para eles que surge o muito usado apelo ao “voto útil”. É para eles que os marketeers políticos viram as suas análises na ânsia de conseguir ler o seu sentido de voto ou algo que os faça chegar a eles.
 
Mas como é o votante indeciso?
 
É bom começar por dizer que o indeciso é humano, de carne e osso, e que esta terminologia surge em consequência da realização de sondagens eleitorais. São aqueles que quando lhes perguntam “Em quem vai votar?” respondem “Não sei.”, resposta que demostra uma de duas coisas: ou que o eleitor se encontra num estado de indecisão, de dúvida, ou que tão pura e simplesmente não quer dar a conhecer a sua decisão sobre em que partido ou candidato vai colocar a cruzinha, isto no caso de os conhecer, pois caso contrário, surge uma terceira via: diz “não sei” porque não os conhece.
 
Normalmente a pergunta inicial de uma sondagem deste género (também caracterizadas por poucas perguntas) é: “É quem vai votar nas eleições do dia X?”, sem que exista uma prévia apresentação de candidatos.
 
Interessa pois, numa sondagem, começar por perguntar se conhece os candidatos – ou dizer quem são - para que esta terceira via se exclua e se possa obter uma amostra e um resultado mais condizente com a realidade.
 
Mas os “não sei” podem não ser todos iguais. Consoante o tipo de não sei, a veemência, a linguagem corporal os “não sei” podem indicar variadas coisas. É por isso também importante estudar e analisar a densidade da indecisão.
 
Estima-se que, em média, existam cerca de 15 a 20% de indecisos nos dias antes dos grandes comícios, mas que, após estes terem lugar, estes números baixam, apesar das dúvidas não ficarem por aqui.
 
A realização de um tipo de perguntas mais específicas e/ou a repetição da sondagem à mesma amostra uns dias mais tarde pode revelar vários tipos de indecisos: os indecisos iniciais e que quando estudados mais a fundo revelam – embora indiretamente – o seus sentido de voto, os que após novo inquérito acabam por revelar a sua opção e os que se mantêm e não revelam a sua decisão, quando já existe.
 
Estudos realizados a nível internacional permitem concluir que há características semelhantes entre os vários indecisos: normalmente estão pouco informados e têm pouco interesse nos assuntos políticos, não têm uma ideologia definida e são mais influenciáveis.
 
A par dos indecisos e com muitas semelhanças estão os votantes voláteis, os que mudam o seu sentido de voto de umas eleições para outras e que podem também fazer pender a decisão para um lado ou outro.
 
Normalmente, a maioria dos indecisos são jovens, mulheres, a população suburbana e de nível educativo mais baixo.
 
Normalmente são os votantes indecisos que estão mais preocupados com questões como a corrupção, a qualidade da classe política e a real situação económica. Não fazem crítica gratuita aos governos, mas apontam os erros de governação, embora tal não signifique necessariamente que se revejam nos partidos opositores.
 
Uma grande diferença entre os indecisos e os decididos é o conservadorismo com os indecisos desejam o futuro: não querem reinícios nem começos do zero, preferem mudanças parciais e contínuas.
 
Os indecisos decidem eleições? Se votassem todos no mesmo lado sim, podiam decidir, no entanto, qualquer previsão neste sentido é pura especulação, mas no cenário em que se apresentam as eleições de dia 4 de outubro, se votarem em massa, podem decidir quem será o próximo governo português.

 

 

A realização deste artigo teve como base um artigo de Eduardo Fidanza, aqui.

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