11 Agosto 2015      11:54

Está aqui

A NOVA PROFISSÃO DE ENFERMEIRO

A recente confirmação da anulação das eleições de 2011 para a ordem dos enfermeiros, pelo Tribunal Central Administrativo, instiga-nos a refletir acerca do real valor desta profissão. Em causa está a realização de um ato eleitoral - o que se destinava a escolher a constituição da nova ordem dos enfermeiros - anulado pelo tribunal administrativo de Lisboa, em Dezembro de 2011. A então lista B, invocava a existência de várias irregularidades cometidas pela mesa da assembleia da secção regional sul.

Naturalmente que de um tal exemplo se devem retirar as conexas ilações. A Ordem dos Enfermeiros responsável pela regulação do exercício da profissão e pela representação da profissão revela-se incompetente na realização de um simples ato eleitoral. Portanto além das preocupações relativas às condições de exercício cada vez menos apetecíveis, doravante os enfermeiros sempre terão de considerar a incapacidade da ordem profissional que os representa.

Os enfermeiros são os profissionais qualificados mais mal pagos do setor público, ao que que acresce a cada vez maior precarização dos vínculos laborais e a sobrecarga de trabalho. Hoje um enfermeiro, em Portugal, recém-licenciado ou é desempregado, ou é explorado pela entidade empregadora ou se vira irresolúvel mente para a emigração. Para os que optam por ficar, a realidade não poderia ser mais sombria, uma vez que esta profissão só dificilmente pode ser conciliada com uma vida de família. A segurança do posto de trabalho, que noutros tempos era a palavra de ordem na profissão, faz hoje parte de um passado longínquo. Pululam assim os contratos a termo certo, os contratos a recibos verdes ou os “mini contratos” que visam contratar enfermeiros a preço de saldo. Na melhor das hipóteses trata-se de exercer uma profissão por paixão, acumulando as horas extraordinárias e colmatando as falhas decorrentes de um número de efetivos em queda livre.

E pensar que a formação dos enfermeiros portugueses ombreia com o que de melhor se faz na Europa. A excelente preparação teórico-prática das escolas portuguesas é posta ao serviço da regra do fazer mais com muito menos ou quase nada. Já os que optam por partir acabam por conseguir brilhar. Com efeito, no exterior não lhes faltam condições de exercício dignas. Equipas bem dimensionadas em função das necessidades, infraestruturas e meios técnicos de ponta, salários à altura e ordens profissionais bem mais consensuais.

A profissão de enfermagem atravessa dias difíceis, em Portugal. Hoje, talvez o exercício desta profissão esteja reservado aos mais altruístas. Aos outros, movidos por interesses mais egoístas, só lhes resta uma de duas escolhas: a da emigração ou a de reequacionar um projeto profissional num país em crise. A emergência social, consiste em antever as consequências desta realidade para os doentes. Menos enfermeiros, mais mal remunerados e sobrecarregados em termos de trabalho. A mistura parece explosiva!