11 Abril 2015      00:20

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Myanmar

A existência de um país na Ásia chamado Myanmar poderá deixar-nos, nos primeiros instantes, a pensar onde se situa. Tomando o meu caso específico, sempre me referi a este país como Birmânia, entre a Tailândia e a China. Visitei-o há pouco tempo. Não tendo planeado com antecedência e sendo um destino sempre desejado mas considerava-o pouco provável. A surpresa foi, porém, superior às expetativas. Sabia que encontraria templos, grupos étnicos tradicionais e um povo relativamente fechado, dada a sua história e acontecimentos políticos das últimas décadas.

Até 1948, a Birmânia foi colonizada pelos britânicos. Dada a independência, foi uma democracia até 1962, quando uma junta militar instituiu um regime ditatorial naquele país. Desse período conhecemos as sanções aplicadas pelo ocidente, a prisão domiciliária de Aung San Suu Ki, líder da oposição e Prémio Nobel da Paz. O país esteve praticamente fechado ao exterior, governado por um regime opressor que, em 2011, influenciado em parte pela entrada na ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) promoveu eleições concedendo ao partido de Suu Ki 44 dos assentos no Parlamento e a libertação da líder da Liga para a Democracia.

 A partir desse ano, o turismo começou a crescer no país e, no ano anterior entrou 1 milhão de turistas no Myanmar, prevendo-se a entrada de 2 milhões em 2015. Farei parte desse conjunto na sequência da minha visita. A possibilidade recente de um visto online facilitou a concessão de vistos que, antes, tinham de ser pedidos na Embaixada do Myanmar em Banguecoque e demoravam usualmente três dias. Mas, o que é o Myanmar? Vale a pena uma visita? Sem dúvida que sim. Embora a distância para alguém a residir em Portugal seja considerável, as diferenças culturais e a possibilidade de conhecer este país que mantém ainda aspetos tão peculiares compensam as horas passadas dentro de um avião e o valor do bilhete. E porque vale a pena?...

A chegada a Yangoon passava das 21 horas. A cidade estava pouco iluminada, pelo menos aquilo que se conseguia espreitar ao sobrevoar os céus da antiga capital. Até há poucos anos a capital era Yangoon tendo tido no passado capitais famosas como Bagan ou Mandalay. Neste momento e por decisão do governo do país, a capital foi construída de raíz e chama-se Naypydaw. Das surpresas na chegada a primeira foi a condução pela direita tendo a esmagadora maioria dos veículos o volante também à direita, uma simbiose muito curiosa entre os sistemas britânico e continental de condução. O estado de conservação dos edifícios deixa muito a desejar mas dá um ar de uma vivência em dias passados que já não se encontra facilmente. Na capital não se deve perder a visita ao templo de Shwe Dagon, o mais conhecido de todos.

Neste templo, como em todos os outros, impressiona a forma, a proximidade, a espiritualidade dos birmaneses na sua relação com o Budismo. Os dourados dos templos fascinam, a serenidade dos monges impressiona e o som das campainhas ao passar do vento ajudam à introspeção. Só por isto, Yangoon vale a pena. Valerá muito mais pela simpatia dos birmaneses e pela sua solicitude.

Myanmar vale a pena pelo encontro com o lago Inle, uma viagem ao por do sol num lago cuja comunidade vive dele e para ele. Desde mercados flutuantes a hortas flutuantes, mosteiros elevados em estacas e produção de artesanato à tona da água, onde mulheres-girafa espreitam pelas janelas das construções em bambú, como se o tempo não passasse e as ondas fossem reflexo dos barcos que se agitam diariamente a transportar turistas, arroz, beringelas gigantes e adormecessem na dança dolente dos pescadores a remar dançando.

Vale ainda pelas cavernas de Pindaya, pelo maior número de imagens de Buda, num templo escondido nas profundezas da montanha e vale pelos inúmeros templos com mais de 8 séculos de história que se escondem e encontram em Bagan. Vale pela imensidão de um terreno que apresenta surpresas a cada instante, pelos passeios entre templos numa terra tostada pelo Sol.

Já não encontraremos lá Filipe de Brito e Nicote ou Nga Zingar como lhe chamaram os birmaneses, cuja história vale a pena conhecer mas haverá um pouco da sua presença em Sirião.

Por tudo isto, valerá a pena visitar o Myanmar como também valerá sem dúvida a pena acompanhar a evolução política deste país. Integrado na ASEAN, tem previstas eleições gerais em novembro deste ano. Suu Ki anunciou há poucos dias que pondera boicotar as eleições. Será interessante ver a evolução para a democracia deste país, como ver de perto as mudanças que lá ocorrem todos os dias.