15 Setembro 2015      09:51

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MUNDO ALFABETO, MUNDO ANALFABETO

Dia 8 de Setembro assinalou-se, pela ONU e pela UNESCO, como sendo o dia Internacional da Alfabetização desde 1967. O objectivo deste dia, segundo as entidades oficiais que o assinalam, passa por sensibilizar a comunidade global para o desenvolvimento e educação, conceito com qual estou inteiramente de acordo, uma vez que nos nossos dias é essencial o acesso ao mencionado desenvolvimento e educação, de forma a ter-se alguma dignidade de vivência pessoal e profissional, cultura, literacia e no geral, educação.

Dados de 2014 dizem que existem 781 milhões de adultos no mundo inteiro que não sabem ler, nem escrever, número de facto assustador. Em Portugal a taxa de analfabetismo ronda os 5% (Censos, 2011), mas lembrem-mo-nos que há 50 anos atrás esta taxa estava na casa dos 40%. Dado o progresso a evolução é muito positiva, porém lembrem-mo-nos que segundo a História da Educação em Portugal, foi no período do Estado Novo que a educação mais progrediu em Portugal. Ora vejamos apenas dois indicadores muito evidentes: as escolas tipificadas que tínhamos (a maioria dos edifícios ainda hoje existe, sem contar com o elevado número de escolas primárias que fecharam); e a obrigação de estudar até à quarta classe.

Podemos falar em “alfabetização básica”, quando uma pessoa sabe ler, escrever e conhece as principais regras de cálculo. Segundo a UNESCO, uma pessoa é analfabeta quando não consegue ler ou escrever uma pequena frase sobre sua vida. Porém, parece-me redutor que assim seja, pois na minha óptica existem “analfabetos funcionais”, ou seja, pessoas que sabem ler e escrever mas não vão muito além disso e há ainda quem não sabe ler e escrever e possui um conhecimento enorme e uma experiência de vida capaz de enriquecer qualquer “muito alfabetizado”, não fosse uma grande parte da nossa cultura e tradições baseada na transmissão oral. Segundo Paulo Freire: "A alfabetização é mais, muito mais, que ler e escrever. É a habilidade de ler o mundo, é a habilidade de continuar aprendendo e é a chave da porta do conhecimento".

No passado dia 8 de Setembro estive na Escócia como oradora convidada, exactamente na comemoração deste dia. O Stirling Council, a entidade promotora organizou esta conferência com alguns oradores de diferentes áreas da educação e dedicou-o a educadores, professores e pedagogos nacionais.

Felizmente a educação evoluiu, tal como evoluíram muitas outras coisas, mas foi de alguma forma surpreendente verificar no que concerne aos diferentes tipos de educação existe uma extrema dificuldade em distinguir os três tipos de educação (formal, não-formal e informal), assunto o qual apresentei e debati de forma a elucidar e colaborar para uma mais e melhor educação, mais dedicada às necessidades e interesses dos alunos e aprendentes, mais focada no aluno, a dar mais atenção às competências inatas de cada um, de forma a desenvolvê-las.

De facto cabe aos nossos governos a clarificação e enquadramento dos diferentes tipos de educação no sistema educativo, de forma a providenciar resposta às mais variadas necessidades. Cabe-me concluir que à semelhança de Portugal, também na Escócia a Educação não-formal é descurada, como ainda em muitos outros países da Europa, não consigo entender o motivo, mas a Comissão Europeia reforça insistentemente a importância desta.

O dia Internacional da Alfabetização foi este ano dedicado à conexão entre alfabetização e desenvolvimento sustentável, com o mote de que “a alfabetização não apenas muda vidas, ela também as salva”. Ler e escrever é de facto essencial, mas não deveremos além disso encontrar alternativas e soluções onde cada um e cada qual encaixe, neste mundo que é a Educação?