6 Fevereiro 2015      00:00

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Mercearia de Marvão Made in Alentejo

Catarina Machado estava grávida de oito meses do seu segundo filho quando ficou desempregada. Resolveu então criar o seu próprio negócio em Marvão: a reprodução de uma mercearia antiga, típica das aldeias e vilas alentejanas. A mercearia de Marvão tem como intenção valorizar os produtos sobreviventes ao tempo e à massificação do consumo e simultaneamente dar destaque a Marvão enquanto produto turístico.

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Tribuna Alentejo: A Catarina estava grávida quando ficou desempregada e soube dar a volta à situação, lançando-se na construção deste projeto que foi o de reproduzir uma mercearia antiga num sítio encantador como o é Marvão. Por quê uma mercearia e não outro negócio qualquer?

Catarina Machado: Porque conhecendo bem o meio sabia o que aqui fazia falta. Não existia uma mercearia na vila. Marvão conta actualmente com certa de 120 habitantes permanentes que não tinham onde comprar um quilo de açúcar ou um pacote de sal. A Mercearia veio suprir uma falta que existia e dirige-se tanto ao marvanense com aos turistas. Não foi fácil criar um negócio a partir do zero e mantê-lo em contexto de crise, mas celebrámos já o terceiro aniversário, expandimos o negócio para outras áreas (Estalagem de Marvão – Casa de Campo, no mesmo edifício) e realizamos regularmente vendas online.

 

TA: Na altura em que ficou desempregada equacionou deixar a sua vila para ir em busca de novas oportunidades de trabalho noutras zonas do país ou mesmo fora de Portugal?

CM: Sim sei dúvida, com a minha formação tinha perfeita consciência que nunca voltaria a trabalhar na minha área mantendo-me em Marvão. O meu marido fez pressão para recomeçarmos a vida num outro lugar porque tinha facilidade de pedir transferência mas fui eu que não quis. Porque para mim, mudar de terra ou de país iria saber-me a derrota e isso é algo que eu nunca poderia aceitar.

A decisão foi tomada com base numa questão muito simples. Na altura já tínhamos dois filhos e colocámo-nos a questão: Onde é que os nosso filhos vão crescer mais felizes?

Como a resposta foi Marvão, pois é onde temos as nossas raízes e as nossas famílias, tudo o resto foi construído a partir daí.

As ideias de negócio não faltaram e tivemos muita ajuda de familiares e amigos na construção e implementação deste projecto. Foi muito arriscado investir num contexto assim mas passados três anos, não me arrependo.

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TA: Qual a sua área de formação? Já tinha alguma experiência na área comercial?

CM: Nenhuma. Tirei o curso de História e depois duas pós graduações em Ciências Documentais e Gestão Autárquica. Trabalhei 11 anos como bibliotecária e arquivista. A área comercial foi assim um desafio absoluto.

Como gosto muito de estudar fiz logo no início uma formação para empresários e depois foi com a experiência que aprendi.

Acabei por desenvolver outras competências, e isso dá-me muito gozo. É tão importante fazer a gestão da “papelada” da empresa como fazer limpezas ou repor mercadorias. Quando se tem garra e vontade de vencer, tudo é uma aprendizagem útil.

 

TA: Que produtos podemos encontrar à venda na Mercearia de Marvão?  O que a distingue das lojas Gourmet?

CM:  Sinceramente nunca uso o termo Gourmet, nunca me habituei a ele. A Mercearia tem duas secções distintas mas que se complementam em termos de negócio: a mercearia tradicional do dia a dia e depois a parte dos produtos regionais e artesanato.

 Desde o princípio que contactei todos os produtores locais e os tenho representados no meu espaço: Vinhos e licores, queijos e enchidos, doçaria, compotas e azeites. O melhor do Alto Alentejo, resumindo.

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TA: Que produtos estão mais pensados para os turistas que visitam Marvão?

CM: Não há produtos específicos porque os turistas procuram coisas bastante distintas. O que agrada a um brasileiro nem sempre é o que agrada a um nórdico. Mas ambos procuram qualidade e procuram aquilo que é genuíno. E é isso que lhes tento dar.

Algo que desde o início me deu muito gozo desenvolver e que continua a crescer à medida que vou tendo mais ideias é a marca própria. A Mercearia de Marvão tem um vinho, um azeite, um bombom, um conjunto de compotas, de sabonetes, de bolos ou de peças de artesanato que são só nossas. São produtos que são da terra e que nos distinguem pela sua autenticidade.

 

TA: De forma a página do facebook (https://www.facebook.com/merceariamarvao/timeline ) ou o blogue que mantem contribuem para a divulgação da mercearia? Aproxima, de alguma forma, os clientes?

CM: Sem dúvida que sim. Não só permitem divulgar o que vendemos mas são também um escape e uma forma de comunicação. Vivo dentro de muralhas e conheço todos os meus vizinhos e respectivas famílias e nem sempre é fácil ver sempre as mesmas caras todos os dias. O facebook e o blogue são mantidos porque me dá muito gozo escrever e comunicar. Gosto muito quando me dizem: vim cá a Marvão conhecer a Mercearia porque a sigo no facebook. Mostra a importância da internet e das redes sociais nos nossos dias, permite-nos chegar muito longe estando sentadas à frente de um computador. Esforço-me muito por mostrar aquilo que esta terra tem de bom e único, sinto-me uma privilegiada por viver aqui e gosto de o partilhar com os outros.

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TA: Há alguma história interessante relacionada com a Mercearia de Marvão que queira contar?

CM: Ui, há tantas. Lidar com o público é muito rico e interessante.

A mercearia é um ponto de encontro na vila, onde se sabem notícias e onde se conversa com os vizinhos. Sempre disse que a minha maior conquista era ter conseguido a adesão dos habitantes da vila ao meu negócio. São eles a minha maior riqueza porque me garantem o dia a dia. Mas partilho uma história que mostra que o meu negócio é de carácter familiar:

DEFEITO PROFISSIONAL

Na semana passada levei o micro merceeiro à consulta de desenvolvimento no Hospital de Portalegre.
Falando com a pediatra sobre o peso do cachopo, disse:
- Já viu Doutora, um bebé que quando nasceu pesava menos do que um pacote de açucar, agora já pesa mais do que uma saca de batatas!
- Ah, mas o peso dos bebés compara-se a mercearias?
- ...

TA: Que mensagem gostaria de deixar sobretudo às mulheres que se encontram numa situação de desemprego no Alentejo?

CM: Há uma mensagem que li algures e que para mim faz todo o sentido e que diz assim:

“Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, conseguem mudanças extraordinárias”