26 Novembro 2015      11:11

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MEDO MIUDINHO, PÕE-TE DE FININHO!

Olheiras, mau humor matinal, horas de sono perdidas, café, pais rabugentos, saqueadores da cama perdida, crianças com mau acordar, entre outras caraterísticas dignas de uma família à beira de um ataque de nervos. Reconhecem este cenário?

Em muitas famílias o sono é um assunto complicado. Porquê? Porque não conseguem dormir uma noite inteira, fazem turnos para ver se a criança está bem ou responder a um pedido de ajuda, não descansam convenientemente, adquirem hábitos desadequados de sono, etc.

Caso não se recordem o que é o sono, recordo-vos que o sono é uma necessidade básica humana e desempenha um papel crucial no processo cognitivo e de aprendizagem (consolidação da memória) , na concentração e no raciocínio. A falta de sono pode prejudicar o estado de alerta, na resolução de problemas, na saúde em geral, no aumento de peso (obesidade), entre outros aspetos.

Qual é muitas vezes o responsável por esta azáfama noturna? O medo… esse inimigo de todas as crianças e pais que tentam passar uma noite descansada.

O medo é uma emoção básica que nos protege, nos alerta e nos faz sofrer. O medo é essencial para a sobrevivência humana. A noção de perigo é muito importante para o ser humano ter o conhecimento das suas limitações. Estamos acostumados a contactar todos os dias com o medo, algumas vezes conseguimos entendê-lo, superá-lo, desafiá-lo ou domá-lo.

Quando somos adultos o medo vive connosco e faz parte do nosso quotidiano e neutralizamo-lo (na maioria das situações), mas para uma criança o medo pode ser um elemento mesmo desestabilizador e limitante do seu dia-a-dia, porque ainda não aprenderam a entendê-lo e a controlá-lo. Além disso, a sua noção de perigo ainda é muito diminuta, pois ainda não têm uma noção apurada da realidade ou da morte, por exemplo.

Na hora de ir dormir o escuro é o melhor amigo dos papões, dos monstros debaixo da cama, das bruxas ou fantasmas que espreitam atrás da porta do armário e do que nos é desconhecido. Face ao medo a criança pede socorro às suas figuras de conforto e de segurança, o pai e a mãe, conhecidos pelas crianças como sendo guerreiros, super-heróis ou samurais na luta contra o medo.

Apesar do acordar atormentado por um grito ou um choro penoso, os pais devem ajudar as crianças nestas alturas em que o medo faz estragos nas noites preciosas de descanso de todos os pais, especialmente nas crianças dos 4 aos 5/6 anos de idade.

Então qual é a solução para as noites mal dormidas? Agarrem numa caneta e anotem as nossas sugestões:

- Proporcionar à criança uma rotina de sono, ou seja, a hora em que a criança se deita deve ser, na maioria, a mesma todos os dias;

- Deve-se respeitar (o quanto possível) as horas de sono adequadas a cada idade;

- Evitar que a criança tenha contacto e interação com dispositivos eletrónicos (televisão, computador ou jogos eletrónicos) 1 a 2 horas antes de deitar, pois podem ser estimular e alternar os padrões de sono.

- Sente-se numa ponta da cama ou sente-se numa cadeira frente à cama do seu filho e leia ou conte uma história delicada e relaxante. Evite, ao máximo, após a leitura deitar-se ao lado do seu filho e que ele adormeça. Porquê? Porque se a criança acordar pode já não estar ao lado dele e isso pode ser um elemento perturbador na consistência e qualidade do sono.

- Se a criança demonstrar interesse procure um objeto que lhe proporcione uma sensação de segurança e conforto, como por exemplo, um peluche ou um boneco. Pode também com a ajuda da criança construir um amuleto para ter ao seu lado na hora de dormir.

- Se a criança tiver entre 8 a 10 anos converse e explique-lhe o que é o medo, crie uma estratégia, reforce a criança a conseguir resolver o seu problema sozinha, uma vez que nesta idade torna-se importante a aquisição e capacitação da sua autonomia.

- Incentive a leitura de livros pedagógicos que ajudam as crianças a combater o medo, como por exemplo, “Pôr o medo a fugir”; “As aventuras da Joana contra o medo”, de Miguel Gonçalves; “Quem tem medo do escuro?” de vários autores; “O gato e o escuro”, de Mia Couto.

- Ter brincadeiras com as crianças desde tenra idade que envolvam o escuro. Pegue numa lanterna e brinque com a criança numa caça ao tesouro no escuro, por exemplo.

O medo consegue prejudicar o nosso bem-estar. Não desvalorize o medo das crianças, mas sim explique-lhe o que é o medo, entenda-o e normalize-o através da sua sensibilidade, brincadeira, conforto e segurança.

 

Joana Fialho, Psicóloga Clínica e colaboradora na Sociedade do Bem

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