Tem 33 anos, nasceu e cresceu em Santiago do Cacém e a vida levou-a a várias paragens. Tem formação na área da Química Tecnológica e Engenharia Mecânica. Falamos da Leonor Capote que mudou radicalmente de vida quando abandonou a carreira na indústria e passou a dedicar-se aos produtos artesanais. É ela a cara da Maria Mercearia, uma loja à boa maneira antiga.
Tribuna Alentejo: Leonor, como se parte da química tecnológica e se chega aos produtos artesanais? Como se operou essa mudança?
Leonor Capote: Vivi até aos 18 anos em Santiago do Cacém e quando terminei o curso de química tecnológica, na Escola Tecnológica do Litoral Alentejano, estávamos em 2000. E eu decidi ir trabalhar para Alcácer do Sal.
Estive a trabalhar aí durante 10 anos, numa fábrica de transformação de papel medical, na qual adorei trabalhar.
Nesta empresa fui Controladora de Qualidade, Assistente de Ambiente, Higiene e Segurança no Trabalho. Foi também esta empresa que me apoiou na continuação da ninha vida académica, podendo assim continuar a evoluir academicamente, estudei Engenharia Mecânica e Higiene e Segurança no Trabalho.
Foi então que fiquei grávida pela 1.ª vez e decidi regressar a Vila Nova de Santo André.
Tribuna Alentejo: E sonhou alguma vez fazer o que faz hoje?
Leonor Capote: Não posso dizer que era um sonho antigo. Foi antes uma alternativa ao desemprego, que rapidamente se tornou numa meta a atingir, tentando tornar esta alternativa em algo gratificante e motivante. “Sonhos” (risos), tenho agora que vejo o potencial deste negócio.
Tribuna Alentejo: Como lida com as diferenças entre aquilo que foi o seu percurso profissional e a actividade empresarial?
Leonor Capote: Não existe de facto uma ligação directa entre a minha anterior vida profissional e o que faço agora. Mas realmente todas as nossas experiências e vivências são fundamentais para o sucesso. O facto de ter trabalhado em áreas tão rigorosas e exigentes fez de mim uma pessoa que valoriza a qualidade. Na verdade era uma mulher da indústria que agora apoia e promove o que é artesanal.
Tribuna Alentejo: Até onde chegam os produtos que vende?
Leonor Capote: Neste momento operamos apenas no mercado local.
A exportação dos nossos produtos é feita pelos nossos clientes que quando saem de Vila Nova de Santo André para visitar familiares emigrados não deixam de passar pela Maria Mercearia e levar um pouco do nosso Alentejo a quem está fora.
Tribuna Alentejo: Qual a sua posição na empresa?
Leonor Capote: Eu sou a mentora fundadora e trabalhadora da Maria Mercearia. Como é óbvio não faço tudo sozinha, desde o início que sempre pode contar com a ajuda de familiares e amigos.
A decoração e construção da loja foi feita com a ajuda e o apoio dos meus grandes amigos Carlos e Estrela Campos.
Na confecção de alguns produtos que comercializo, conto com a ajuda da minha mãe e do meu pai, da Madalena e do Celestino Capote.
As receitas, essas, têm as mais variadas fontes, mas as mais relevantes são sem dúvida a dos Folares, da mana Cristina Capote e a do Pão de Rala da Estrela Campos, são produtos de referência da minha loja.
No dia-a-dia conto com a ajuda de uma amiga, a Vera Lopes e do meu companheiro Marco Vasconcelos.
Tribuna Alentejo: Como foi desenvolver a ideia até ao negócio?
Leonor Capote: Não foi um processo muito longo, desde a altura em que comecei com a minha irmã a fazer pão bolos e salgadinhos para dar e vender a amigas até à abertura da loja foi muito pouco tempo, cerca de 4 meses.
Eu e a minha irmã a Cristina começamos a fazer estas coisas com a ajuda da nossa mãe a “marca” era “Receitas das Manas”. Eu vi nesta ideia uma alternativa ao desemprego, foi então que arregacei as mangas e decidi - vamos lá fazer uma coisa com pernas para andar.
Amadureci a ideia e ao pesquisar encontrei tanta coisa que se faz de bom no nosso Alentejo. Há sem dúvida neste momento muitas pessoas a fazer tanta coisa que merecem ser dadas a conhecer. Juntando isto à tradição das lojas de bairro, dando-lhe um toque diferente com o fabrico próprio de alguns produtos, nasceu a Maria Mercearia, inaugurada em 12 de Outubro de 2013.
Tribuna Alentejo: O que sente que a faz destacar dos serviços dos concorrentes?
Leonor Capote: Não acho que tenha nada a mais que a concorrência, é uma loja diferente e só por isso dá que falar. Acho que a minha dedicação aos clientes e à melhoria contínua da loja é que me tem feito evoluir. No fundo não tenho nenhum produto que os meus concorrentes não possam ter tão bom ou melhor.
Somos diferentes pelo simples facto de todo o nosso pequeno fabrico poder ser visto pelo cliente enquanto faz as suas compras.
Tribuna Alentejo: Isso é de facto diferenciador. E o futuro, como está pensado?
Leonor Capote: Aumentar a nossa variedade de produtos de fabrico próprio bem como a dos outros produtos que compramos para vender.
Na grande maioria já identificados. Vender na Maria Mercearia apenas frutas e legumes biológicos é outro dos nossos propósitos.
Exportar os nossos produtos é sem dúvida um passo muito importante a dar por mim e por todos os pequenos produtores.
Tribuna Alentejo: E como promovem a Maria Mercearia?
Leonor Capote: O boca a boca é a melhor das campanhas. Mas também temos uma página no FaceBook.
Tribuna Alentejo: E o que faz quando não está a trabalhar?
Leonor Capote: Neste momento sou apenas mãe de duas meninas, as Marias de 3 e 4 anos, e sou empresária. Quando não estou a trabalhar para a Maria Mercearia estou a brincar com as minhas filhas.
Mas não dou por terminada a minha vida académica, que neste momento está parada. Pretendo retomar e concluir algumas coisas que comecei.
Tribuna Alentejo: E as dificuldades empresariais que sente no país?
Leonor Capote: Muitas… Mas as principais são uma população com o poder de compra enfraquecido e os escassos apoios a quem começa do zero.
Tribuna Alentejo: Foi um gosto conhecê-la. Quer partilhar uma mensagem com aqueles que estão neste momento à procura de uma oportunidade?
Leonor Capote: Se tens uma ideia de negócio não te deixes intimidar pelos obstáculos que encontras no caminho, agarra neles e constrói o teu sonho. Tudo é possível, eu que o diga.
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