26 Maio 2015      11:09

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JOVENS À BEIRA DO DESESPERO?

Isto é totalmente verídico… Soube recentemente de um jovem, “armado” com 2 licenciaturas e 1 doutoramento, desempregado, que estava disposto a aceitar uma proposta de trabalho com um vencimento de (rufem os tambores…) 600€!!!, implicando ainda mudar-se de armas e bagagens do Norte do País para o Alentejo.

Muitos poderão encarar este caso como um choque, outros vê-lo-ão de uma forma mais banal, sem novidade face ao estado atual do nosso país.

Alguns defenderão ser uma situação que necessita urgentemente de apoio, de uma solução e que o Estado deve intervir. Já outros, pelo contrário, acreditam ser da responsabilidade do jovem procurar uma solução, tendo em conta as ferramentas ao seu dispor, deve procurar vingar e inverter a situação.

Para os mais recentes sábios e “iluminados”, que no seu melhor fato “debitam” banalidades e frases feitas sobre inovação, conhecimento e empreendedorismo, a solução deste jovem cuja infelicidade foi ter nascido em Portugal é uma só: tornar-se um empreendedor. Se for de base tecnológica ainda melhor…

Eu, como economista, confrontado com isto, interrogo-me sobre o mercado de trabalho.

O que mudou nos últimos anos para que alguém com tamanha qualificação esteja tão recetivo a aceitar uma proposta de trabalho com um salário ligeiramente acima do salário mínimo nacional?

A teoria económica tem estudado com maior ou menor profundidade estas matérias e existem inúmeras teorias para explicar o desemprego verificado no mundo real.

A exceção a este árduo e longo estudo sobre o tema pode ser encontrado na teoria Keynesiana que considera que para se entender o mercado de trabalho há que entender primeiro a dinâmica geral da economia (taxas de juro, consumo, investimento,etc.) e os seus impactos sobre o emprego.

Por seu lado, na teoria neoclássica, o mercado de trabalho apresenta uma função oferta de mão-de-obra que lhe permitirá encontrar um equilíbrio de salários reais e de emprego através da sua interação com a função de procura de mão-de-obra. Simplificando, um caso de oferta-procura e equilíbrio. Ou seja, se estivermos na praia, com calor e com sede, vamos procurar por uma água bem gelada. Se tivermos só um vendedor, ele poderá praticar um preço mais elevado do que se existirem quatro vendedores. Oferta Vs. Procura.

Mas que mercado de trabalho temos atualmente?

Dum lado temos uma grande oferta de mão-de-obra, com algum destaque para a camada jovem e qualificada, disponível a trabalhar por valores cada vez mais baixos e até mesmo naquele ciclo precário e vicioso do estágio curricular, estágio profissional, contrato a termo, recibo verde, desemprego, formação profissional, estágio….

Do outro lado temos as entidades empregadoras, que procuram ser mais competitivas através da redução dos seus custos diretos. Para tal procuram a maneira mais fácil. Diminuem a massa salarial, reduzindo trabalhadores e salários. Procuram assim o salário real mais baixo. E tendo em conta a oferta de mão-de-obra facilmente o encontram. Deste modo o equilíbrio que se obtém traduz-se em salários e empregos como os que retrato chocantemente no início desta crónica.

Isto pode levar a que nos perguntemos se esta situação reflete efetivamente um equilíbrio? Ou estaremos perante um DESEQUILIBRIO?

Justifica-se qualquer tipo de intervenção? Quer do lado da procura, quer do lado da oferta?

Se não estivermos virados para uma reflexão tão profunda, podemos questionar-nos apenas sobre o seguinte: Estarão as nossas empresas a procurar ser competitivas da melhor forma? E se houvesse uma redução dos custos energéticos, ou até um aumento da produtividade, derivada de um trabalhador mais motivado sentindo-se recompensado financeiramente pelo seu contributo? Ou até mesmo uma simples incorporação no campo da inovação? Tantas e tantas soluções para aumentar a competitividade que não através dos baixos salários….

O mercado de trabalho poderia funcionar de modo diferente e aquele jovem não precisaria de se resignar a aceitar um ordenado de 600€… Aquele e tantos outros!