15 Abril 2015      14:06

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GERAÇÕES ABANDONADAS PELA POLÍTICA

A maioria das pessoas da minha geração está afastada da política. Muitas razões poderiam ser aqui referidas, contudo, parece prevalecer a ideia de que a política se desvinculou de nós e que, na generalidade, somos desconsiderados no contexto do calculismo dos atos eleitorais, marginalizados pelo foco implacável dos principais partidos políticos.

No entanto, a maioria destas pessoas está preocupada com o seu futuro e isso é tudo o que importa para mudar o rumo dos acontecimentos, o rumo das opções políticas, enfim, o rumo do quotidiano das nossas vidas e transmitir esperança às próximas gerações.

Todavia, a cada ato eleitoral assiste a promessa de ser o mais significativo para determinada geração e a derradeira oportunidade para a mudança do rumo das políticas. Mas, um breve exercício de reflexão sobre as oportunidades concedidas, na última década, às gerações situadas entre as faixas etárias dos dezoito aos trinta anos, coloca em evidência que coletivamente o nosso sistema político e económico falhou. E que estas gerações estão a herdar a responsabilidade de um mundo repleto de problemas, para o qual a atual safra de políticos no poder parece ter poucas ou nenhumas soluções.

Por outro lado, enquanto se assiste, em Portugal, à destruição sistemática de postos de trabalho e à debandada dos jovens mais qualificados, testemunhamos a maior ofensiva, jamais desencadeada, contra as funções sociais do Estado, nomeadamente no acesso à educação, à saúde e à segurança social. E ainda para ajudar, em Portugal, as opções politicas tendem a aprofundar e consolidar o modelo da mão-de-obra barata e de baixo valor acrescentado, restabelecendo mecanismos de exploração e dependência, perante uma economia que continua frágil, desequilibrada e a premiar os mais ricos. Num país em que, cada vez mais, os pais para ajudar os filhos sem emprego endividam-se, ante um (des)governo que consente e tolera relações contratuais com os jovens baseados em estágios 'ad aeternum'. Esta é deveras a rude realidade dos factos no presente. Convém, por isso, chegar a um consenso sobre os problemas enfrentados atualmente por estas gerações e os tipos de política que estas gerações reclamam para o nosso futuro coletivo.

E da União Europeia, com que ajudas ou apoios poderemos contar? Na minha perspectiva, trata-se de uma questão de resposta difícil e complexa. Pois a União Europeia, nesta sua mais recente encarnação, instala-se desconfortavelmente diante da possibilidade de total irrelevância geopolítica, dominada pelos interesses de uma classe capitalista transnacional, cada vez mais poderosa e obscenamente rica, constituída, entre outros, por oligarcas, CEOs, magnatas da comunicação social e os seus respetivos exércitos de lobistas, blogueiros, comentaristas e pseudointelectuais, que impulsionam uma campanha organizada a partir de um fundamentalismo confiante e agressivo de direita conservadora. Recordo, que foi esta mesma União Europeia, que permitiu e agilizou os processos que possibilitaram aos Estados nacionais, cada vez mais endividados, socorressem as corporações transnacionais “demasiado grandes para falir”. Quando nesta mesma Europa subsistem milhões de pessoas na pobreza. Neste contexto, comprovo que a União Europeia insiste em esquecer o seu verdadeiro propósito, quando não assume que a luta contra a crise da dívida dos estados membros deveria e poderia sobrecarregar menos as economias dos estados em dificuldades. Com este modo de atuação, a União Europeia remete para segundo plano os valores do respeito pela dignidade humana, da igualdade e do respeito pelos direitos humanos.

Naturalmente, pelo que oiço, pelo que vivencio e presencio, anoto que o debate em torno do nosso futuro coletivo é determinante na prossecução de soluções que suportem os interesses e dinâmicas intergeracionais.