4 Julho 2015      09:34

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FIM DAS TOURADAS EM ÉVORA?

O número de manifestações contra as touradas cresce e com ele o número de pessoas que se junta em coro aos que pedem a sua proibição. Basta citar o exemplo do que tem acontecido aqui ao lado na vizinha Espanha, com forte tradição tauromáquica e onde, apesar disso, a resistência contra ela cresce.

Em 2010 o Parlamento Catalão votou pela proibição das touradas na região. Mais de 100 000 cidadãos assinaram uma petição a pedir o fim das touradas, facto que foi considerado pelo poder. Em 2009 uma sondagem Gallup revelou que 76% dos espanhóis não está interessada em touradas. Barcelona declarou-se pela abolição das touradas em 2010.

Mas as tentativas de acabar com as corridas de touros são ancestrais em todos os países onde elas acontecem (Portugal, Espanha, Itália, Sul de França e nalguns países da america-latina). Algumas com sucesso, outras nem por isso.

 

Tentativas de abolição das touradas são recorrentes na história

Já o papa Pio V (1585) ameaçava de excomunhão todos quantos participassem ou assistissem  a “esses espetáculos sangrentos e vergonhosos dignos de demónios e não dos homens”. O que teve resultados por essa via apenas em Itália.

Como consequência das sucessivas indepências na américa-latina a Argentina acaba por abolir as touradas em 1899. Segue-se Cuba (1901) e Uruguai (1912). No México chegou a ser proibida em 1890 mas veio a ser recuperada posteriormente. Nicarágua e Panamá juntaram-se recentemente aos países onde as touradas foram abolidas (2010 e 2012 respetivamente). 

Em Portugal Passos Manuel decreta a sua proibição em 1836, sem grande efeito até aos dias de hoje, sendo que nessa matéria o que de mais relevante aconteceu nos últimos anos foi a proibição de touros de morte (onde o animal é morto durante a corrida), proibição dúbia e polémica na medida que deixou de fora locais onde " a tradição" ainda fala mais alto.

 

Fim das touradas está mais próximo em Évora?

Há quem acredite contudo que estão a ser dados passos no país para que "cidade a cidade" as touradas vão deixando de acontecer, à imagem do que aconteceu na Catalunha, em Espanha.

É o caso de um movimento de cidadãos que conseguiu recentemente levar uma petição pelo fim dos circos com animais em Évora, que se tranformou em resolução da Assembleia Municipal daquela cidade, com o apoio do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista e que "obriga" a Câmara Municipal (CDU) a proibir os circos com animais no Concelho, "num prazo de 6 meses".

"Consideramos que Évora deu um passo importantíssimo na promoção do bem-estar animal e na elevação do nível civilizacional do nosso país." É a declaração entusiasmada de Susana Cunha, da associação pela defesa dos animais "Cantinho dos Animais", e que esteve envolvida no movimento pelo fim dos circos com animais em Évora.

Quando confrontada com a possibilidade de vir a ser utilizada uma estratégia semelhante para a proibição das touradas na cidade, Susana Cunha admite que "não será fácil erradicar esta prática sem um suporte legal a nível nacional." Para já defende que é preciso acabar com a utilização de dinheiros públicos no apoio à tauromaquia e com a proibição da entrada de crianças nos espectáculos tauromáquicos."

A ativista vai contudo mais longe. "A posição do Cantinho dos Animais em relação à tourada é conhecida – somos contra esta e qualquer outra forma de entretenimento que envolva violência ou sofrimento de qualquer animal – e fazemos questão de o mostrar publicamente, tal como aconteceu nos passados dias 28 e 29 de Junho, em que encerrámos o nosso stand na Feira de S. João como forma de protesto pela realização de duas touradas (foi com grande satisfação que vimos que a Escola de Artes PIMTAI/ PIMteatro e o Bloco de Esquerda também encerraram os seus stands pela mesma razão).

A mesma assertividade é encontrada no Bloco de Esquerda, nas palavras de Bruno Martins, que é também eleito na Assembleia Municipal de Évora. "Somos pela abolição deste espectáculo degradante que desmerece quem o apoia ou o frequenta. Por isso, não deixaremos de em cada momento tomar as posições e apresentar as propostas que consideremos adequadas para que em Évora seja dado um passo em frente e se proíba a realização de touradas".

 

Prudência no PS e PSD e silêncio da CDU

Quando confrontados com esta matéria PS e PSD remetem o assunto para quando ele se der, isto é, uma análise a uma eventual proposta de proibição das touradas apenas quando ela for colocada na Assembleia Municipal.

José Policarpo, dirigente do PSD defende antes maior fiscalização e adianta que  o PSD de Évora não é contra a utilização de animais nos espectáculos de circo, desde que "sejam observados os regimes jurídicos que enquadram esta questão. Refiro-me, designadamente, que se garanta a salubridade pública e que sejam garantidas as condições médico veternárias necessárias e um enjaulamento condigno aos animais. O que na maioria das vezes isso não sucede. Para isso, ter-se-á de reforçar a fiscalização para o efeito."

O mesmo dirigente lembra ainda que o assunto das touradas diz respeito a tradições do Alentejo e que há economia em torno desta atividade, que é preciso ter em conta, concluindo que se trata também de matéria de consciência individual e que os eleitos na Assembleia Municipal (PSD e CDS) terão liberdade de voto para o efeito.

Do PS a resposta vinda de Capoulas Santos é lacónica: "Se tal proposta for apresentada o PS analisará o seu conteúdo, discutirá internamente o assunto e só depois se pronunciará, como é norma num partido democrático. Certamente, e independentemente da opinião do partido, tal como sucedeu quanto à interdição de animais selvagens em actividades circenses, será dada liberdade de voto aos membros que participem em órgãos onde tais questões se decidam."

Até ao fecho desta edição não recebemos qualquer resposta da CDU, força política que governa a Câmara.

 

Imagem de capa daqui.