3 Novembro 2015      19:38

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EMPREENDEDORISMO – PARTE II

A semana passada ficou prometido que iria falar do empreendedorismo como possível solução para tentar ultrapassar o ambiente de crise em Portugal. Pois bem, aqui estamos para isso.

Mais uma vez recolhi dados para responder à questão. Uma das possíveis formas de medir o empreendedorismo é através de indicadores de demografia empresarial. Isso mesmo: taxas de natalidade e mortalidade de empresas. Recolhi para a UE dados de modo a calcular esses indicadores. Posteriormente calculei também a taxa de crescimento média para os anos desses países e fiz uma coisa que alguns economistas gostam de fazer: uma regressão, para ver se a natalidade empresarial. O resultado fica todo bonito na Figura 1.

 

Figura 1. Relação entre a taxa de natalidade empresarial e o crescimento médio. Fonte: Eurostat.

 

Interessa, claro, interpretar. A questão é a seguinte: Se Portugal quiser alcançar a média da UE em 2030, e assumindo que os outros países crescem à média que têm crescido nos últimos anos (consulte a crónica da semana passada para saber qual foi), então Portugal tem que crescer 2,46% ao ano para conseguir o objetivo descrito no início da frase. Substituindo esses valores na regressão indicada, a taxa de natalidade empresarial em Portugal para alcançar o valor de crescimento económico em causa deveria ser de 17,45%. Considerando que em Portugal existiam em 2013 cerca de 1,097 milhões de empresas, isso significa que em média deveriam nascer por ano mais de 191 mil empresas.

Curiosamente os últimos dados para 2013 até mostram uma taxa de natalidade superior, o que pode ser considerado um elemento positivo, tendo em consideração os elementos que já foram identificados nas secções anteriores.

Uma vez que a natalidade das empresas pode não ser o único indicador relevante de empreendedorismo, fez-se uma análise semelhante à anterior recorrendo a um outro indicador: a taxa TEA (que mostra a percentagem de pessoas envolvidas em negócios com menos de 3,5 anos de existência). A regressão está descrita na Figura 2. Para alcançar os 2,46% pretendidos de crescimento, Portugal necessitaria de uma taxa TEA de 11,23%.

 

Figura 2. Relação entre a TEA 2014 (fonte: GEM) e a tvm PIB 2004-2014 para os países orientados pela inovação.

 

Tal como na figura anterior, Portugal está abaixo da reta. Isso significa que, com a atividade de criação de empresas apresentada (quer seja medida pela natalidade empresarial ou pela TEA), as taxas de variação verificadas são sempre inferiores às taxas estimadas. Uma possível conclusão é que, apesar do número de empresas criado até ser relativamente elevado, essas empresas não contribuem de forma significativa para o crescimento económico. O que dá, na realidade que pensar… É o tradicional mas… e em Portugal há sempre um mas… A questão é que o perfil de empreendedorismo em Portugal é diferente daquele que considero que deveria ser. Porquê?

Espere mais uma semana…