22 Setembro 2015      10:42

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E SE O ENSINO SUPERIOR FOSSE DIFERENTE?

Conseguem imaginar um ensino superior em que o pagamento de propinas para além de variar de universidade para universidade seja diferente de curso para curso? Tendo em conta parâmetros como empregabilidade e rendimento esperados após o ingresso no mercado de trabalho? Levando em consideração as necessidades futuras desse mesmo mercado? E em estreita ligação com o tecido empresarial?

Eu consigo, mas deve ser dos “óculos de economista” que uso no meu dia-a-dia. Com relativa facilidade até, pois vejo uma economia com base em incentivos, sejam eles positivos ou negativos que nos levam a fazer algo. Partir para a ação.

O mês de Setembro traz consigo o início de um novo ano letivo e para muitos o começo de uma aventura, o ingresso no ensino superior.

Esta experiência traz consigo muitas novidades e muitas despesas também! As propinas anuais são só uma delas e desde 2012/2013 que o seu valor já ultrapassou os 1000€. Bem sei que existem diferenças entre os valores que cada universidade cobra e que nos últimos tempos temos assistido a uma sucessão de prémios, isenções e afins, que permitem que os melhores alunos sejam beneficiados e que algumas instituições se tornem mais atrativas. Mas não chega.

O mundo e a economia de hoje permitem que tudo possa ser contabilizado, medido, estimado e previsto. Então e se...para além da informação sobre a empregabilidade dos últimos anos para cada curso houvessem também dados sobre o nível de rendimento auferido? E se a nível de políticas públicas se utilizasse o levantamento de necessidades futuras do mercado de trabalho? Tendo em conta novas atividades, setores emergentes ou o simples rejuvenescimento do tecido empresarial.

Por exemplo, é mais que evidente a necessidade de formação na área da informática. É a própria Comissão Europeia que prevê que até 2020, só em Portugal, sejam necessários 15 mil profissionais! Por oposição e tendo em conta os números da nossa natalidade, não é expectável que o mercado de trabalho procure muito por educadoras de infância. Muito pelo contrário, se olharmos para a estrutura demográfica, serão necessários profissionais na área da geriatria.

Cenários bem diferentes a ter em conta antes de integrar o mercado de trabalho. E vocações e aptidões à parte, todas as pessoas são racionais. Se chegada a altura de escolher eu tiver como opção um curso com elevada empregabilidade, com um rendimento esperado de 1.800€ e se para além disso as propinas mais baixas comparativamente a outros, há grandes probabilidades da minha decisão passar por aí.

E se o ensino superior funcionasse em perfeita comunhão com o mercado de trabalho? Permitindo assim complementar a formação ministrada na universidade. Fazendo com que que o licenciado que ingressa no mercado de trabalho possa começar de imediato a ser produtivo, rentável, evitando deste modo o ano adicional de formação na empresa, que é usualmente o tempo necessário para adquirir as competências fundamentais ao seu trabalho. Acrescente-se ainda que em algumas situações, o que se aprende na universidade torna-se obsoleto na altura de começar a trabalhar. E no fim de contas, são as empresas que melhor conhecem as suas necessidades, ou não?

Em plena campanha eleitoral, posso resumir a minha crónica em meia dúzia de chavões. Porque é que um médico, ao ingressar no mercado de trabalho irá ter um rendimento esperado elevado terá de pagar as mesmas propinas que um professor de ensino básico? E porque é que se reciclam licenciados para os converter através de passos de mágica em informáticos ao invés de incentivar a procura destes cursos com propinas mais baixas? Porque não permitir que a formação seja cada vez mais orientada para o mercado de trabalho? Com participação direta das e nas empresas?

Porque é que não podemos sonhar com um ensino superior diferente?

Ou melhor…pô-lo em prática!