No rescaldo dos debates e das entrevistas que tiveram lugar esta semana, a RTP brinda-nos com um dos actos mais anti-democráticos a que se assistiu nos últimos tempos.
Em tempos de campanha e em política não existem coincidências e o tema do anunciado regresso do programa Prós e Contras é um verdadeiro atentado à democracia e ao princípio da pluralidade democrática.
Fazer um debate com o tema “teríamos um ex-primeiro-ministro preso se o Governo fosse PS” em plena campanha eleitoral é quase o mesmo que apelar ao voto directo na coligação, mesmo quando os seus representantes já haviam relativizado a questão agora em discussão.
É certo que a semana não foi muito feliz para a coligação e para as suas intenções de vitória. Começou com a vitória clara de António Costa no debate com Pedro Passos Coelho e deu todo um novo fôlego à campanha do PS e culminou com a vitória de Catarina Martins no debate com o Primeiro-Ministro, mesmo após aquela ter sido “derrotada” no debate com Paulo Portas que, na opinião de muitos, chegou mesmo a ser demasiado brando com a líder do Bloco de Esquerda.
A semana piorou com o autêntico falhanço de Vitor Gonçalves na tentativa de fazer o papel de Passos Coelho, quando este não o tinha feito na véspera.
Basta dar uma vista de olhos nas redes sociais e nas caricaturas que vão surgindo relativamente ao PS para perceber que a coligação está nervosa. Nervosa ao ponto de alguns dos seus militantes voltarem a chamar “estúpidos aos portugueses que têm uma opinião contrária à deles.
Embora censuráveis, são reacções que teremos que respeitar dada a pluralidade democrática em que nos inserimos. São opiniões partidárias formadas no seio da campanha partidária.
Oque não pode ser de todo aceitável é o facto de, termos a televisão pública a debater uma questão partidárias em pleno tempo de campanha. Só vem mostrar que para a PAF, vale tudo.
Até mesmo suspender a democracia para debater uma afirmação lançada num evento partidário ligado directamente a um dos membros da coligação, sem que o façam exactamente com as mesmas armas que os restantes partidos.
Onde anda a Entidade Reguladora da Comunicação Social? Onde anda o provedor do telespectador?
A democracia não pode ser suspensa como arma de arremesso numa campanha que, subitamente, começou a virar.
O debate a ser realizado hoje deveria sim discutir as questões actuais da justiça e não uma afirmação já por diversas vezes esclarecida.
Já tive oportunidade de o dizer. Já antes não acompanhava o programa dada a fraca moderação de Fátima Campos Ferreira. Agora, com esta clara partidarização, não contam comigo.
Os meus impostos não servem para suspender democracias em tempo algum...