23 Junho 2015      23:43

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CRIANÇAS E JOVENS: OS FIADORES DA DÍVIDA PÚBLICA

Atualmente, o Estado Português deve aos credores um valor superior a 200 mil milhões de euros. Quem vai pagar esta dívida? Aqueles que ainda estão por nascer, as crianças e os jovens. É sobre eles que recai, verdadeiramente, a garantia de pagamento. A dívida pública é um fardo que estão a colocar às costas dos nossos filhos, netos e bisnetos...

Mas, como se isso não bastasse, são as crianças e jovens os que mais sofrem e que mais são afetados pelo risco de pobreza. Foram pelo menos 500 mil as crianças e jovens que perderam o direito ao abono de família entre 2009 e 2012 e muitas outras viram o seu valor ser reduzido. Consequência das medidas de austeridade, que também arrastou mais 35 mil crianças para uma situação de carência alimentar.

O primeiro relatório centrado especificamente sobre as crianças portuguesas e elaborado pelo comité português para a Unicef, divulgado em outubro de 2014, refere que desde 2008 as crianças são o grupo etário em maior risco de pobreza em Portugal e que a intensidade da pobreza infantil atingiu os 33,1% em 2012, ou seja, cerca de um terço das crianças.

Para além dos governantes hipotecarem o futuro do País, ainda, penhoram os sonhos das nossas crianças e jovens. Como? Através da instabilidade familiar gerada pela perda de rendimento das famílias, pelo aumento da carga horária de trabalho, por via do despedimento dos pais e, também, devido aos cortes na educação, na saúde e na ação social de proteção a menores, ou seja, através da redução do bem-estar familiar, que em última análise, para crianças e jovens, resulta diretamente em perda de qualidade de vida.

Por outro lado, estamos a criar crianças que não têm tempo para brincar, que se sentem esmagadas pela obrigatoriedade de atingir metas curriculares, pressionadas para aprender depressa e bem e que são empurradas à força para a fase pré-adulta, negando por essa via a possibilidade de viverem a infância e desfrutarem da juventude. Enfim, e pensar que tínhamos a obrigação de mostrar às nossas crianças que a vida é um espetáculo.

Portanto, tudo leva a crer que a próxima geração de trabalhadores, Geração Dívida, enfrentará um futuro sombrio e pouco promissor, resultado das atuais opções políticas, fundamentadas através de qualidades retóricas invejáveis.

Onde colocar a culpa? O adversário mais temível da Geração Dívida é a trajetória e grandeza que a dívida nacional ainda poderá vir a assumir, dissimulado por um terrorismo silencioso, que não extermina o corpo, mas aniquila o prazer de viver, reprime a criatividade, corrói a identidade humana e mina a inteligência crítica. É forçoso refletir sobre o legado que estamos a deixar à geração vindoura.

O que fazer? Devemos agitar o debate de ideias, envolver-nos na discussão, provocar a reflecção e estimular o pensamento crítico. Duvidar das nossas verdades, avaliar as promessas políticas, exigir alternativas e exercer em plenitude o dever de cidadania.

Perante as incertezas que o futuro nos reserva e como os menores não têm direito a expressar a sua vontade no sufrágio eleitoral, temos uma responsabilidade duplamente acrescida na escolha do rumo que queremos para Portugal. O futuro das nossas crianças recai sobre as nossas mãos.

Agora os tempos são outros e juntos podemos alterar o curso da história. Pagar desalmadamente para que uns quantos possam enriquecer à custa da geração vindoura e de todos nós, é imoral, injusto e completamente inaceitável. Vamos construir o mundo de outra maneira. Desistir de Portugal não é opção.