11 Julho 2015      13:54

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CAIAR SEMPRE

Chega o calor e começam as caianças. Dá-se início a mais um processo distintivo do Alentejo. As casas voltam a ser de um branco reluzente e tudo renasce, ano após ano, em cumprimento de uma tradição funcional e ancestral.

A cal possui propriedades única: de proteger do calor, da humidade e é antibacteriana e antifúngica. Propriedades que nem todas as tintas da era moderna possuem.

Por muito modestas que fossem as posses familiares, a caiança era, logo após os bens de primeira necessidade, a prioridade.

A palavra cal provém do latim ‘calce'/'calces' e crê-se que deriva do pré-celtico, em que significava “rochedo' ou “abrigo”; é um composto químico identificável como óxido de cálcio.

A cal era vendida em carroças, puxadas por burros, que passavam na rua, pelos caleiros ou “homem da cal”, e que gritavam "Cal bran…ca! Cal bran…ca!". Era vendida a peso numa balança de pratos daquelas que persistem ainda na memória de todos nós. Depois, ele e o burro seguem caminho.

No ano passado, em Évora, um grupo de cerca de 40 jovens quiseram reavivar esta tradição ao abrigo de um Programa de Voluntariado da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Na altura, à Renascença, Gustavo Val-Flores, do departamento do centro histórico da Câmara de Évora e responsável pela dinamização do projecto, que "Tentamos reabilitar um pouco daquilo que existiu, em tempos, e que era a lógica comunitária da caiação. Ainda se vê um pouco isso na parte rural do Alentejo, em que a comunidade se junta para caiar as suas casas. Tentamos fazer esta ponte entre a aplicabilidade do material que é a cal, um excelente revestimento, uma questão de herança cultural, mas também preservar essa lógica comunitária.”

No início de junho, foi a Câmara de Beja a avançar com a candidatura da Cal a Património Imaterial da Humanidade, como o Tribuna Alentejo noticiou.

Numa cooperação entre o a Câmara de Beja e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), a candidatura das actividades associadas aos fornos de cal artesanal do Alentejo lá está a seguir o seu percurso e segundo Rosário Veiga (LNEC) esta arte é identificadora sobretudo do sul do Alentejo e já muito rara na Europa, daí ser tão importante preservar esta tradição.

Agora vá apanhar um solinho, não vá ficar branco/a como a cal…

 

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