16 Maio 2015      17:52

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ALENTEJO

Disse Mark Twain que “Nozes eram muito boas até que descobriram o pão.”

Quase que se pode dizer que desde que há Homem há pão; bom, de um modo mais correto, desde que o Homem descobriu os cereais.

E em todo o mundo, poucos como o povo alentejano lhe dão tanta importância.

Mas voltemos atrás, o pão - em conjunto com o óleo, o azeite e o vinho – foi dos primeiros alimentos processados na História da Humanidade.

Os primeiros pães terão sido feitos – aproximadamente à 6000 anos, na antiga Mesopotâmia (que corresponderá sensivelmente à região que é hoje o Iraque) à base de trigo, mas a sua confeção foi variando consoante o cereal mais abundante ou existente na área geográfica de cada povo.

Mais tarde, no antigo Egito, aproximadamente há 4000 anos, descobriu-se o processo de fermentação, muito importante no pão como hoje se conhece, e terá sido descoberto por mero acaso (como tantas outras coisas na História da Humanidade). Na época, os salários seriam pagos em pão e cerveja. O processo era básico, faziam a farinha moendo os cerais com pedras e misturavam água depois como é mostrado nos túmulos de Faraós que viveram perto de 2.500 a.C..

Mais tarde, e pelo contacto com os egípcios, o pão surge em Israel onde os hebreus desenvolveram melhores técnicas e o transformaram em negócio.

Na Grécia o pão terá surgido a par do Egito, mas em Roma, e apesar da importância que mostrou ter nesta civilização, só surgiu em 800 a.C.. Aí, na base do império, foi criada a primeira escola de padeiros.

O pão terá feito parte do processo de romanização e terá chegado assim a toda a Europa, inclusive o Alentejo.

Da época parecem existir vestígios de que os romanos o fermentavam com espuma de cerveja, tornando-o mais leve e esponjoso; mais tarde, com as invasões muçulmanas, estes acabaram também por deixar a tradição das sopas, ensopados e da açorda, já que o tharid ou târida - uma das receitas muçulmanas mais antigas – consiste em mergulhar pão num caldo aromático e temperado com azeite, ao qual se pode juntar vegetais ou carne.

Sendo muitas vezes o único alimento presente à mesa dos nossos antepassados, disse Joaquim Pulga que se “Condutava” o pão conforme as posses. “Ao pobre alegrava-o a azeitona e a falca de toucinho da salgadeira, a outros sorriam a linguiça e o paio e o queijo de ovelha ou de cabra.”.

Parte essencial da gastronomia alentejana, o pão alentejano é usado em açordas, ensopados, migas, bolos, fatias douradas, doces ou simplesmente para acompanhar uma qualquer refeição, mesmo qualquer refeição, por mais estranho que possa parecer aos olhos dos menos conhecedores dos alentejanos.

No petisco também não falta seja com queijos, enchidos, azeitonas e até frutos secos e ou caracóis.

O pão é versátil, era muito duradouro e não pode faltar em casa de alentejano. E claro está, que como bom alentejano, e nas palavras de Saint- Exupéry “Nada melhor do que um pão compartilhado.”

Este vídeo da "Confraria da Moenga", com cerca de 20 minutos, demonstra bem como é o ciclo do tradicional pão alentejano.

 

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