7 Julho 2015      15:47

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ALENTEJANO FUNDA PARTIDO POLÍTICO

É alentejano, académico e a trabalhar em Lisboa. Falamos de Joaquim Pinto, um jovem professor universitário que se considera "não politizado", apesar de ser um dos fundadores do novo partido  "Nós, Cidadãos" que está a implantar-se "paulatinamente" no Alentejo. Acredita que a alternância do PS/PSD/CDS no poder tem os dias contados. Fomos conversar com ele e procurar compreender o que muda com um novo partido político.

 

Tribuna Alentejo: Começamos por querer saber onde e quando nasceu e o que faz profissionalmente?

Joaquim Pinto: Antes de responder a essas questões, não queria deixar passar a oportunidade de salutar o vosso maravilhoso trabalho de divulgação sobre a realidade do Alentejo de quem sou. Eu nasci em Beja, na, ainda existente, freguesia de Santiago Maior e no mês de Janeiro do ano de 1975. Sou professor universitário, investigador académico e escritor.

Até aos meus 14 anos de idade, cresci numa pequena localidade chamada de Penedo Gordo, que dista 5 km de Beja, onde fiz a escolaridade primária, tendo concluído o 9º ano na escola C+S Santiago Maior de Beja, antes de seguir para Lisboa para continuar os estudos.

 

Tribuna Alentejo: Considera-se um politizado desde sempre ou o momento ditou que se envolvesse?

Joaquim Pinto: Como atrás respondi, nasci em Janeiro de 1975, o que aponta a minha conceção para o mês da revolução de Abril de 1974; neste sentido pode-se até dizer que a minha conceção tenha sido, desde logo, um ato político e, como tal, sou um politizado desde o ato de conceção (risos).

Agora mais a sério, não me considero desde sempre um politizado, não obstante as múltiplas tentativas do meu pai em me adestrar ao Partido Comunista Português. Uma das minhas áreas de docência é a Ética, que pela sua excelência é “espaço” de debate de questões como a dignidade e o valor da pessoa humana, e julgo ter sido esse aspeto, que não o momento, que me tenha levado a deixar-me envolver pela política.

Não faz muito sentido ensinarmos o que sabemos e não fazermos o que ensinamos, e foi quando me dei conta dessa grave realidade que optei por fundar, juntamente com Mendo de Castro Henriques e Pedro Quartin Graça, para citar só alguns, o movimento, agora partido, Nós, Cidadãos!. A ideia inicial não era sermos um partido político, mas, para podermos dar uma voz efetiva aos Cidadãos, a isso o movimento foi obrigado e, por coerência, eu também. Foi, então, um momento de consciência cidadã, mas permito-me ainda dizer que não sou politizado, quero manter acesa essa esperança.   

Tribuna Alentejo: Como vê o País onde vive?

Joaquim Pinto: Salta-me logo à vista, talvez por defeito de formação, o conceito de “viver”. Num país em que os cidadãos que o constituem vivem a fazer contas para terem pão na mesa, comprarem os livros para os seus filhos poderem estudar e manter a salvo de terrorismos fiscais o teto que os abriga… não se vive, está-se por aqui, e talvez se sobreviva. Não consigo conceber um país sem espaço ao sorriso, à realização vocativa, oportunidades iguais para todos; um país onde impera uma ditadura fiscal, corrupção; um país, enfim, onde as cidadãs e os cidadãos, em gerações coexistentes, tenham medo do amanhã. Isso não é vida, chamem-lhe outra coisa.

 

Tribuna Alentejo: O que correu bem com a democracia? E o que correu mal?

Joaquim Pinto: Na sua génese, por sinal grega, a democracia preconizava uma atitude de intervenção cívica por parte dos constituintes na criação e governo da polis, da cidade, ou país. Era essa intervenção cívica que estabelecia a que valores e princípios as leis deveriam obedecer, isto é, para haver cidade, ou país, era necessário haver leis, mas para haver leis era necessário o exercício da cidadania, com vista a escolher a cidade ou o país que se queria ter. Quer isto dizer que a democracia deve ter sempre como enfoque servir os cidadãos e não servir-se deles. Foi isto que correu mal, pois na sua génese, a democracia, é o melhor que temos, o problema é o seu exercício que pode e está a ser adulterado. Exemplifico, colocando uma questão: considera legitimado um primeiro-ministro que seja eleito por promessas feitas e depois não cumpridas? O sistema democrático legitimou-lhe a eleição, mas o valor democrático precisa de ser amplificado e monitorizado no seu exercício, não se extinguindo no momento do voto. Tudo isto concorre para a necessidade de uma cidadania ativa, responsável e responsabilizadora dos governantes. Somos responsáveis pelo bem-comum e o exercício da cidadania não se esgota no voto.

É óbvio que este exercício danoso da democracia serviu a alguns, facilmente identificados pelos escândalos recentes. Como em todos os sistemas, a autopreservação existe, tornando-se difícil mudar paradigmas já instituídos, o que leva à descrença, descrença que leva ao conformismo plasmado na abstenção que existe em Portugal.

Com os dinheiros que caíram a rodos pela telha desta união europeia, iludiram os cidadãos através da construção desenfreada e excessiva de equipamentos estruturais: estradas, auditórios, ginásios, estádios e etc. Anos depois, chega-nos a factura, na qual se encontra facturado o que foi aplicado desnecessária e erradamente, e o que foi para parte incerta. Mas pasmem-se, somos nós, cidadãos, que somos acusados de viver acima das nossas possibilidades, quando nos vestiram com um fato europeu, mas nos romperam os bolsos. Temos auto-estradas, mas não temos dinheiro para andar nelas, temos auditórios e estádios, mas não temos dinheiros para assistir aos espectáculos. Temos energia e água, mas estão ou vão estar em que mãos? Enfim, retiraram-nos os meios económicos para viver condignamente e isto tem que ser denunciado e combatido.

    

Tribuna Alentejo: E como vê os partidos políticos?

Joaquim Pinto: Veja, eu sou um dos fundadores de um movimento que, para dar voz aos Cidadãos, teve que se formar como partido, pois tal não foi uma vontade, mas sim uma necessidade, porque o sistema eleitoral não permite candidaturas de Grupos Independentes de Cidadãos à Assembleia da República. Fizemo-lo porque fomos corajosos ao ponto de entrar no sistema para lutar contra estas e outras incoerências da nossa democracia e sistema eleitoral. Posso dizer que, entre outras coisas, criámos um partido sem “donos”, sem interesses camuflados e obediências perversas. Este partido é dos cidadãos. É um partido de mudança e apresenta-se como uma alternativa válida. É um partido que se pode dizer do extremo centro, porque vai lutar por mudar o jogo político contra o atual arco da governação. E quando me refiro a centro, faço-o no sentido de eixo de sustentação para uma sociedade mais justa. Neste sentido, vejo os partidos como acabei de descrever, mas só há um assim, o Nós, Cidadãos!, que é um movimento que gostaria de ter voz sem ter que ser partido. Vamos lutar para que no futuro seja diferente.

 

Tribuna Alentejo: Teve experiência em algum partido anteriormente?

Joaquim Pinto: Sim, fui candidato à assembleia municipal de Sesimbra pelo Partido Ecologista os Verdes. Sou defensor da ética ambiental, mas por princípio, não por partidarismo.

Tribuna Alentejo: Como se está a implantar o Nós, Cidadãos no Alentejo?

Joaquim Pinto: Paulatinamente, pois somos um partido com recursos limitados. Não obstante, com carolice e dedicação dos nossos apoiantes, nomeadamente através das redes sociais, temos já núcleos em Sines, Évora, Odemira e Elvas. Esperamos expandirmo-nos rapidamente a outras localidades.  

Tribuna Alentejo: Que objetivos pretendem atingir nestas que serão as primeiras legislativas para o Nós, Cidadãos?

Joaquim Pinto: Como referi, somos um partido à imagem das Cidadãs e dos Cidadãos, com recursos limitados, mas honesto e empreendedor; e dependendo da coragem de cada um em mudar este sistema, que não funciona, podemos ser uma agradável surpresa já nas próximas eleições. Especificamente, no meu Alentejo, pretendemos ganhar a confiança de quem luta por sobreviver, pessoas e pequenas empresas, não com promessas vãs, mas com o compromisso de falar verdade e sermos a sua voz. Sermos a voz das Cidadãs e dos Cidadãos passa por assumir totalmente esse compromisso com a verdade, lutando sempre para que não existam mais famílias a viver com medo do amanhã. E que sorriam, pois não é à toa que o nosso símbolo é um sorriso, pretendemos devolver o sorriso aos portugueses.

Tribuna Alentejo: Vê semelhanças na vida política espanhola ou grega com Portugal?

Joaquim Pinto: É dos países do sul que está a vir uma forte mensagem de mudança, e até de revolta, diria, algo facilmente verificável pela emergência de inúmeros movimentos de cidadania, concretamente na vizinha Espanha. É evidente uma relação tendenciosa nesta união monetária que apenas sustenta alguns “senhores” e relega o povo para a “escravatura”. Os jornais deveriam informar mais os cidadãos sobre o que está por detrás da crise grega. Tal como em Portugal (2011-2014), o papel da Troika na Grécia foi simplesmente o de transferir as dívidas colossais da Banca privada europeia para os Cidadãos da Europa, devastando, pessoas, famílias e pequenas empresas, entre as quais as portuguesas e as gregas. A maior parte das pessoas não concebe a dimensão desta enorme trafulhice, não por falta de inteligência, mas pela anestesia em que os envolveram.  

Tribuna Alentejo: Acredita no fim da alternância no poder do PS/PSD/CDS?

Joaquim Pinto: É inevitável o fim do ciclo do chamado arco de governação, como sucedeu em Espanha, Itália e Grécia. Só não sei quando chegará, mas gostaria que fosse em breve.

Tribuna Alentejo: O que muda com o Nós, Cidadãos?

Joaquim Pinto: Por um lado, muda desde já o semblante da geografia política, pois somos o partido dos cidadãos, o que infere desde logo um distanciamento das políticas neo-liberais levadas a cabo pelos partidos do arco da governação, mais preocupadas com os mercados do que com os cidadãos. Por outro lado, estamos perante um novo e diferente olhar para a dignidade da pessoa, através de uma nova atitude de solidariedade. É um novo paradigma de cidadania, uma nova exigência de responsabilidade no exercício de cargos públicos e renovada coragem na luta contra a corrupção. O próprio nome do partido, Nós, Cidadãos!, é, em si mesmo, um programa político, mas convido todos a ler todo o nosso programa no site do Nós: www.noscidadaos.pt.