13 Dezembro 2015      01:53

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ABUTRES CADA VEZ MAIS PERTO

Estas aves necrófagas estão subnutridas e isso tem feito com que se aproximem cada vez mais das zonas urbanas do Alentejo em busca de alimento, sendo recorrente avistamentos de grifos poisados em praças e ruas dos centros urbanos e apresentando evidentes sinais de subnutrição.

Há vários relatos de abutres que foram recuperados em centros urbanos ou muito próximo deles. O caso mais recente aconteceu-se em Vila Viçosa, no passado dia 7, quando um grifo que foi encontrado com sinais de subnutrição e sem conseguir voar.

Como revelou o capitão Ricardo Samouqueiro, oficial de Comunicação e Relações Públicas do comando de Évora da GNR, ao jornal Público, o animal foi tratado e alimentado e entregue à delegação do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas no Parque Natural do Vale do Guadiana, em Mértola, de modo a ser avaliado, recuperado e posteriormente devolvido ao seu habitat natural.

Anteriormente, em novembro, em Montemor-o-Novo já havia sido recolhido um outro grifo também em estado de subnutrição e, como revelou Dário Cardador - responsável pelo Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Santo André - ao jornal supracitado, um outro exemplar foi recuperado após ter pousado exausto e com fome em cima de uma bóia de pesca em pleno mar, na costa de alentejana. Tendo sido avistado por pescadores a cair ao mar, foi apanhado e salvo e posteriormente levado para o centro de recuperação.

Sendo algo pouco usual, a reação das populações é de algum receio, dada a estrutura corpulenta da ave mas, até ao momento, não têm representado uma ameaça para a integridade física dos cidadãos.

Estas espécies necrófagas viram a sua sobrevivência ser afetada por uma legislação comunitária que, desde 2003, obrigava à recolha dos cadáveres de animais como medida profilática contra a transmissão de doenças como a BSE (doença das vacas loucas) ou a tuberculose animal, afetando a alimentação de todo o tipo de aves necrófagas como as três espécies de abutres existentes em Portugal: o grifo (Gyps fulvus), o abutre-negro (Aegypius monachus) e o abutre-do-egipto (Neophron percnopterus), e outras aves como a águia-imperial (Aquila heliaca adalberti).

Após variados alertas feitos, essencialmente por organizações ambientalistas junto da União Europeia, a legislação acabou por ser alterada em 2011, permitindo aos agricultores passar novamente a poder deixar nos campos as carcaças dos animais mortos desde que cumpridas determinadas regras.

No entanto, a escassez de alimento continua a verificar-se e Samuel Infante, da Quercus, revela que este facto, em algumas áreas do interior, está a fazer com que estas aves acabem por atacar crias de bovinos acabadas de nascer, o que alarmou os criadores que têm recorrido ao abate das aves.  

No Alentejo existe um campo de alimentação para abutres, na herdade da Abóbada, em Vila Verde de Ficalho (Serpa), propriedade do Estado. Em Beja, existia um segundo, mas encontra-se desativado.

Em junho deste ano, o TRIBUNA ALENTEJO noticiava que o abutre-negro, ao fim de 40 anos, tinha voltado a nascer no Alentejo, ao abrigo do projeto LIFE para promoção do habitat do lince-ibérico e do abutre-preto no sudeste de Portugal.

Este acontecimento trouxe alguma esperança à preservação da espécie, num local onde era tradicional a sua nidificação, no entanto, a escassez de alimento pode colocar novamente em risco a preservação da espécie.

 

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