19 Agosto 2015      16:45

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ÉVORA - VÍTIMAS DA INQUISIÇÃO DESCOBERTAS EM LIXO

Em Évora já se sabe que cada buraco que se faz arrisca-se nova descoberta arqueológica, ainda assim, uma equipa de arqueólogos foi surpreendida quando procediam a escavações de rotina nas traseiras da prisão no edifício sede da Inquisição. Não esperavam encontrar, numa numa pilha de lixo, dezenas de restos mortais de vítimas das acusações de heresia por parte da Inquisição, presume-se que mortos entre 1568 e 1634.

O Departamento de Biologia da Universidade de Évora interveio também no processo e entre os restos mortais encontrados - naquele que é atualmente o Fórum da Fundação Eugénio de Almeida - estão as ossadas de 12 adultos (três homens e nove mulheres) e quase um milhar de ossos de mais 16 pessoas, como relata a revista norte-americana Forbes.

Havia na época regras e códigos que indicavam o modo de enterrar as vítimas em função do crime de que eram acusados e julgados - os condenados por bruxaria eram enterrados com a cara para baixo; os condenados por islamização eram deitados de lado etc. – mas a disposição das ossadas revela, por si só, o modo como estas pessoas terão sido tratados pelos executores e que poderão não ter sido queimados nem enterrados, tendo sido simplesmente atirados para ali junto com vários tipos de lixo, o que indicia o facto de poderem não ter sido julgados.

O achado – estudado em 2013 por uma equipa do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra, composta por Bruno Magalhães, Teresa Matos Fernandes e Ana Luísa Santos – faz parte da edição de setembro deste ano, 2015, de um dos mais conceituados jornais da especialidade, o Journal of Anthropological Archaeology”.

Neste artigo, vem revelado que manuscritos da Inquisição permitiram identificar 87 prisioneiros que morreram durante o período em que os corpos terão sido depositados na “lixeira”, provavelmente acusados de promover o judaísmo ou heresia.

A realização de uma escavação arqueológica, mais alargada e aprofundada na área, permitiria uma melhor compreensão deste período da História caracterizado pela intolerância religiosa, pois nas campanhas em 2007 e 2008, só foi escavada uma área de aproximadamente 21 metros quadrados, cerca de 12% da área total da lixeira em questão.

Notícia da TVI relata que a Lusa tentou contactar hoje os três investigadores portugueses, mas sem sucesso.

Recorde-se que a Inquisição em Portugal instaurou 44.817 processos – aproximadamente 2000 foram acusados de judaísmo – e executou 2.064 pessoas.

 

(atualizado)

Imagem de Bruno Magalhães cedida à Forbes