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Luís Nobre Lucas

Lisboa e o país real

Há décadas que Portugal é acusado de ter um Estado centralista e egocêntrico, em que muitos dos principais decisores políticos não conhecem a realidade dos portugueses espalhados pelo país, e em que a concentração de poder em Lisboa serve de garantia para que o controlo do Estado não se perca das mãos dos mesmos poucos de sempre.

Quem ouviu o presidente da Câmara de Lisboa referir-se na televisão ao concelho de Ovar, dizendo que era mais pequeno do que uma freguesia de Sintra, percebe a falta de pudor com que esta arrogância bacoca e ridícula é assumida.

Mas há ainda pior.

Vá para fora, no Alentejo

Sei bem o risco que corro ao escrever sobre o Alentejo para alentejanos, eu que a ligação que tenho à terra, para além da familiar, é a de apenas algumas semanas de férias por ano. Mas porque acredito que a região tem algum do melhor turismo português, e porque em tempos de pandemia se mostrou a mais segura do país, penso que a melhor opção para quem tenha a oportunidade de passar alguns dias fora de casa este ano será mesmo a de ir para fora, lá dentro. E é por isso que vou arriscar.

Autoritarismo bom

Vivemos tempos bizarros, e infelizmente temo-los aceite com estranha e preocupante indiferença. Não sei se os costumes são brandos, se o povo é sereno, ou se somos todos uma cambada de carneiros. Tenho dúvidas.

Ansiedade e depressão, a terceira vaga

Será sempre difícil prever as consequências da experiência pela qual estamos a passar, dada a falta de momentos de comparação com a mesma ordem de grandeza. Parece consensual que a crise económica será pior do que a de 2008, e que teremos de contar com uma nova vaga de infeções de cada vez que aligeirarmos as medidas de confinamento a que nos submetemos. Mas há outra consequência da alteração drástica de estilo de vida a que fomos sujeitos por este vírus: o isolamento, a solidão e o medo têm consequências psicológicas profundas.

Regresso ao Futuro

Falta cerca de uma semana para o início de um lento e gradual regresso. Não sabemos como será este regresso, nem para aonde. Sabemos que não será um regresso ao passado, porque o passado como o conhecíamos já não existe, e possivelmente ainda bem. Sabemos que não será um regresso à normalidade, como tem sido vendido, porque o que chamávamos de normal desapareceu. Não sabemos como será o novo normal. As crises são momentos de mudança. Mudarmos para melhor ou para pior já depende de nós. E este vírus mudou o mundo inteiro, de uma só vez.

Federalismo na eira e federalismo no nabal

O primeiro ministro português fez furor na semana passada ao perguntar diretamente à Holanda se queria ficar fora da União Europeia e da Zona Euro. Numa análise simplista e apressada, terá parecido a muitos que o que o nosso PM fez foi dar um tremendo murro na mesa e mostrar uma coragem política que mais nenhum líder político europeu teve. Não vou comentar a comparação com Churchill que um jornal português fez porque isso seria começar a rir agora e só parar depois da quarentena.

O pior e o melhor de nós

Os momentos de crise e de catástrofe como o que vivemos são conhecidos por esta capacidade que têm de pôr a nu as piores e as melhores características da natureza humana. Foi assim no passado mais longínquo e no passado mais recente.

A peste negra, que dizimou a Europa durante sete anos no século XIV, é apontada por historiadores como o período mais individualista da nossa história. Comunidades e famílias desagregavam-se, e a empatia e a solidariedade eram substituídas pelo egoísmo da sobrevivência.

A tragédia que se avizinha

No momento em que vos escrevo, estão diagnosticadas com Covid-19 em Portugal 331 pessoas e a comunicação social anunciou há minutos a primeira vítima mortal.

No acompanhamento da pandemia do Covid-19 tenho optado por ouvir mais epidemiologistas e matemáticos do que políticos. Não por desconfiança sistemática nos últimos, mas antes por acreditar que em cada situação há boa e má informação, e que, em matéria de progressão de epidemias, os especialistas são os primeiros.

“L'État, c'est moi”, pensa o PS

Demorou apenas 92 dias para o Parlamento dizer ao PS que o Estado não é uma coisa que possa ser abocanhada e monopolizada como este insiste em tentar, uma vez atrás da outra.

“Bons” políticos, maus gestores

O governo acaba de fazer com mestria aquilo que sabe fazer melhor: gerir os parceiros desta geringonça informal. Não é razoável acreditar que não esteja há já muito tempo previsto o aumento extraordinário das pensões mais baixas, nem que os aumentos na função pública se fiquem pelos 0,3%. O que o governo fez foi dar o que era preciso dar para ver o orçamento aprovado na generalidade, guardando na manga as cartas necessárias para a aprovação na especialidade.

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