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Arte

Mais do que a letra M

Muito mais do que a letra M, esta semana, o texto que aqui se escreve representa um elogio rasgado às pessoas cujo nome começa com a letra M, às terras que se iniciam por esta mesma letra e especialmente aos alimentos e aos produtos que também começam pelo mesmo carácter. Digamos… Medronho.

The Great Valerio

Richard & Linda Thompson - The Great Valerio, extraído com todo o cuidado de I Want To See The Bright Lights Tonight

O doce sabor da melancolia facilmente se confunde no espírito com a profundidade de uma respiração candente, ou seja, (pres)sente-se como substância, mescla de gases e energia.

Uma vez que trabalha na mente, corre-se o risco do não reconhecimento imediato ou da confusão entre os estados físicos em causa. Mais ou menos assim: sim, roça no paladar e  (é)  sólido e  (é)  suave e pouco denso e sabe a algodão doce, e parece algodão doce.

Romã

Tenho uma árvore no meu quintal. Mesmo em frente à porta da frente, há uma árvore. Uma bela árvore. Opulente, graciosa, tem flores e tem frutos. Chama-se Romanzeira. O seu nome e o nome que lhe dei eu próprio. Sabia de todos os seus significados. Da sua componente espiritual em várias religiões. A minha romãzeira crescia e medrava a cada dia. Em frente à minha porta, parecia ser ela que me indicava o caminho a seguir.

Perceves?

Agarrado à rocha mãe, sentia-se seguro. Ainda que a água por vezes batesse com mais força, Perceve percebia que ali estava seguro. Assim era e assim se sentia.

Nunca e fácil afastar-nos do lugar onde temos a segurança de que precisamos. Era o caso de Perceve. Rapaz dos seus quase vinte anos, Perceve da Silva Cruz Pereira entrou para a universidade. Tinha chumbado um ano no ciclo, por só pensar em brincadeira e não estudar como deve ser.

Nos domínios da loucura… perdão, da perfeição.

John McEnroe – No Domínio da Perfeição (2018), Julien Faraut –

Osga

Vivia com uma osga. Nas paredes do meu quarto e da minha vida, tinha uma osga comigo. Réptil que me acompanhava para todo o lado e que, agarrada com as suas ventosas, desafiava os meus medos mais irracionais. A osga olhava-me dia e noite. Por volta do meio dia agarrava um mosquito com a língua que punha de fora. As melgas e os mosquitos desesperavam com medo daquilo que poderia sair dali. A osga era infalível, cada vez que a sua língua se esticava. Muitas vezes mais longa do que o seu próprio corpo. Seria por ciúme? Sempre me intrigou e numa obtive uma resposta.

Les Yeux Sans Visage

Les Yeux Sans Visage (1960), de Georges Franju - Que os olhos mais tristes do mundo não tenham rosto parece o mais congruente dos princípios, dado o superlativo em causa, que aniquila tudo o resto. Tal como o que se segue: os olhos mais tristes, absorvidos por um extremo, não podem, muito naturalmente, deixar de ser absolutos na sua consequência – (na perspectiva do observador) são pontos de luz que uma vez descodificados, se tornam em poesia cristalina e estelar, devastadora.

N coisas

Muito, muito. Demasiado. N coisas. Tanto, tanto, uma enormidade. Nunca tinha visto tantas coisas reunidas num só local. Havia um espaço pequeno repleto de coisas. Umas absurdas, outras convencionais. Um exagero de coisas que se avolumavam.

Nico Nunes habitava nesse espaço. Era menos do que um pequeno quartinho. Era onde vivia. Nico Nunes tinha ali naquele espaço n coisas. Recolhia-as há anos e anos. Aquilo que no início parecia um gesto normal tornara-se uma obsessão, uma desordem emocional que o levaria, anos mais tarde, a ser internado num hospital psiquiátrico.

I Won’t Stand You Down Kevin Rowlands

1982/1983 – Depois do extraordinário sucesso de Too-Rye-Ay, o segundo álbum de estúdio dos Dexys Midnight Runners e também o título de Long Play mais selvagem e irredutível de que há memória, Kevin Rowland, the leader of the band, acreditou que aquele era o momento certo para dar a conhecer aos então num

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