13 Dezembro 2014      00:00

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A Revolução dos “Guarda-chuvas” - 2 meses depois

Na quinta-feira, 11 de dezembro, foram presos em Hong Kong mais de 200 ativistas pró-democracia que ainda viviam no campo de protesto na Admiralty, a zona de negócios de Hong Kong conhecida pelos bancos e enormes centros-comerciais de Hong Kong, enquanto a polícia fazia a “limpeza" da área.

Recordamos que que os protestos de Hong-Kong começaram há mais de dois meses, a 28 de setembro, quando estudantes saíram às ruas para protestar contra a decisão do governo de Pequim em proibir, no final de agosto passado, o direito dos habitantes de Hong Kong de eleições livres, em 2017, para escolher o seu líder máximo, conhecido como “Chefe Executivo”.

Apesar disto, os manifestantes já fizeram saber que a luta continuará com outras formas de desobediência civil.

Este processo de término da manifestação começou na manhã de quinta e é visto como muitos como o ponto final desta questão, uma vez que que eram cada vez menos os manifestantes que se encontravam em Admiralty.

Após um período de 30 minutos dado pela polícia para os manifestantes desocuparem a área, começaram a desmontar tendas e a recolher lixo e outras coisas acumuladas na área ao longo destes meses. Entre os presos há caras importantes da sociedade de Hong Kong como o líder e fundador do Partido democrático, Martin Lee, a cantora Denise Ho ou o magnata da comunicação social, Jimmy Lai.

 “A luta não acabou” gritava Alex Chow, presidente da Federação de Estudantes de Hong Kong para a multidão enquanto a polícia se aproximava dos últimos protestantes de acordo com a Associated Press, via artigo da BBC.  Cerca de uma dúzia de pessoas aplaudiam a polícia enquanto isto acontecia, de acordo com o "South China Morning Post”.

Um repórter da BBC no local, John Sudworth, deu conta que o primeiro passo para o fim dos protestos foi a ordem do judicial - o processo foi interposto por uma companhia de transportes que alegava que os protesto estavam a destruir a empresa - para remover as barricadas e depois a polícia foi avançando lentamente de todos os lados, com escudos antimotim e cantando.

Restavam na área umas centenas de manifestantes que continuavam a marcar a sua posição. Foram detidos um por um e carregados na horizontal com a cara ara a frente e gritando “ Sufrágio universal verdadeiro!” até que, em poucas horas, na área só restavam os despojos que os camiões forma recolhendo.

No fim, este protesto não foi vencido pela força, mas pela fadiga. Já tinha perdido força na recusa da China em aceder às concessões feitas. Mas, para os protestantes, se este protesto acabou, a luta pela democracia ainda não.

Alguns políticos pró-democracia e académicos juntaram-se aos estudantes no local enquanto a polícia supervisionava a limpeza com cães-de-guarda.

Alguns manifestantes arrumaram as suas coisas por si na madrugada de quinta: “Provavelmente vou sair antes de a polícia chegar porque será mau para o meu trabalho se tiver o nome na polícia.” - disse à AFP um manifestante de 29 anos.

Recordemos a evolução dos protestos:

  • 28 de setembro – começa a ocupação com grupos de ativistas e estudantes a invadirem as ruas; a polícia reagiu com lançamento de gás pimenta o que aumentou aa revolta e juntou mais gente aos protestos.
  • No final de setembro/início de outubro: os protestos, que aumentam ao fim de semana, dão-se em três sítios, mas cada vez com menos pessoas.
  • 21 de outubro – Conversa entre os lideres estudantis e o Governo de Hong Kong não resultam em nada.
  • 26 de novembro – o conflito explode com a “limpeza” do campo de protesto de Mong Kok.
  • 3 de dezembro – os lideres da plataforma “Occupy Central2 terminam a campanha e entregam-se às autoridades; os protestos estudantis continuam.  

Resumindo, nos últimos dois meses os protestos evoluíram, primeiro com a “limpeza” de Mong Kok, um terceiro local de protesto, o que agitou ainda mais os ânimos, no mês passado. Na última quarta o líder dos funcionários da administração governamental pediu aos estudantes que abandonassem o local pacificamente e nessa noite mais de 10 mil pessoas juntaram-se no local de protesto cantando cânticos e slogans pró-democracia, no que foi visto como um adeus a este protesto.

Os protestos foram vistos como o maior desafio ao poder da China desde 1997, quando a Grã-Bretanha passou o poder no território aos chineses.

Os protestos do fim de setembro e inícios de outubro tiveram multidões enormes nas ruas, mas os números foram caindo e muitos habitantes começaram aa estar contra os protestos devido perturbação que as estradas cortadas causavam à cidade.

Mas significa isto que Pequim ganhou?

Carrie Gracie, editora da BBC para a China, duvida disso  e diz que, certamente, a China sentir-se-á aliviada por ver de novo o trânsito a circular na Admiralty, no entanto só chegou ao fim de uma etapa, onde demonstrou muita habilidade.

Ao deixar que os protestos esmorecessem por si mesmos e suscitando divisões em Hong Kong, deixou “revolução dos guarda-chuvas” sem oxigénio e mostrou que Pequim está preparado para lidar com rebeliões sem recorrer aos tanques e aos bastões.

Pequim não mudou sequer um pouco a sua posição inicial e descrevia os protestos como ilegais, mostrou-se imune à pressão e acabou por passar uma mensagem ao mundo: não cede!

No entanto, a única vitória da China foi a de ter silenciado as vozes internas que se levantaram para apoiar Hong Kong. É uma vitória boa para a máquina propagandista, que apresentou e criou com sucesso uma imagem que os líderes das manifestações eram “meninos mimados” que só procuram satisfazer os seus interesses pessoais à custa do bem público e que estavam aliados aos inimigos externos da China.

“Qualquer pessoa que se preocupe com Hong Kong e com as suas pessoas deve dizer “NÃO” a este sequestro da vontade pública geral para objetivos pessoais.” – dizia um o jornal “O Diário das Pessoas”, bandeira do Partido Comunista chinês.

As aspirações dos jovens de Hong Kong não contagiaram todos os jovens, uma vez que, e apesar de Hong Kong estar mais aberto à globalização e de manter um grande contacto e relações com nações ocidentais, alguns jovens chineses suspeitam muito do idealismo das mensagens políticas.

Ao fim ao cabo, desde a infância que estiveram expostos à narrativa que o exterior humilha a China.

Apesar de esta vitória relativa que evidenciou capacidade de gestão do poder de Pequim, esse mesmo poder provocou este problema e esta revolta e o mesmo está a acontecer em Taiwan, onde a China se esforça para a unificar e a população, essencialmente os jovens de deslocam no sentido oposto, como ficou demonstrado nas últimas eleições locais e o movimento “Girassol”.

Xi Jinping não perdeu nenhuma das duas, nem Hong Kong, nem Taiwan, mas terá que fazer muito mais se quiser ganhá-las.

 

 

Pesquisa, tradução e adaptação de Luís Carapinha

Fonte: BBC

Imagem de AFP/GETTY IMAGES