27 Janeiro 2015      00:00

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Para que ninguém esqueça!

Hoje, dia 27 de Janeiro, assinala-se o Dia Internacional de Recordação do Holocausto, 70 anos volvidos tal acontecimento, dia em que os prisioneiros de Auschwitz foram libertados, em 1945. Alguns historiadores ignoram o Holocausto, enquanto outros o admitem e consideram o maior massacre da história mundial, tendo vitimado mais de 11 milhões de civis, incluindo judeus e outros grupos étnicos, sociais e políticos.

Parece-me incrível, considerando tantas evidências que estão ao alcance dos nossos olhos, considerar este facto histórico como inexistente. É claro, para alguns ver uma fotografia num livro da história da escola secundária não é nada impressionante, tal como não o é ler sobre o assunto e poder até considerar assunto interessante, mas terá a maioria das pessoas uma noção do que se passou nos campos de extermínio? Ou mesmo uma ideia formada sobre o porquê dos acontecimentos?

Parece-me que não e faço questão nesta crónica de vos fazer uma visita guiada aos campos de extermínio situados na Polónia – Aushwitz e Birkenau.

Em 2007, tive a oportunidade de ir a Cracóvia, na Polónia, em representação da Entidade onde trabalho, no âmbito de uma reunião de trabalho de um projecto europeu. Esta reunião era suposto ter durado três dias, no entanto o coordenador adoeceu e acabámos com os trabalhos reduzidos a um dia. Este facto permitiu ao grupo organizar de improviso alguns momentos de convívio de âmbito cultural. Uma das visitas que realizámos foi aos campos de extermínio já mencionados, que foi posteriormente complementada com uma visita ao centro de Cracóvia, ao quarteirão judaico.

Chegados pela manhã a Auschwitz, iniciámos a nossa visita ao local, hoje transformado num museu e com as boas vindas de entrada – “O trabalho liberta”. Auschwitz não é muito grande e foi rentabilizado na altura de forma a poder liquidar o maior número possível de judeus, tendo apenas uma câmara de gás, mas também outros espaços mórbidos. A exposição que encontrámos no espaço mostrava montras repletas de diversos objectos pertencentes aos exterminados, dos quais me lembro: cabelos (que eram utilizados para fazer tapetes), malas de viagem; escovas de cabelo e pentes; sapatos e botas; roupas diversas; lâminas de barbear; instrumentos médico-cirurgicos dos mais diversificados (utilizados para fazer experiências médicas em crianças de forma aberrante); latas do gás que era utilizado (o gás em forma de pastilhas era depositado na câmara, sendo libertado, através do calor humano), entre outros objectos.

Visitei a câmara de gás, onde os judeus eram vitimados e de imediato queimados no forno, imediatamente situado na lateral, sendo que as cinzas eram utilizadas para pavimentar estradas. Inacreditável, como tudo era aproveitado, para as mais variadas coisas, muitas delas que persistem até hoje. Conheci a zona de castigo, espaços individuais em cimento, de forma cúbica, com um metro e meio de altura por meio metro de largura, onde os judeus castigados podiam estar até três dias, sem comer, beber, satisfazer as mais básicas necessidades e obviamente dadas as dimensões estar sempre em pé. Estes que tinham o privilégio do castigo, pois eram bons trabalhadores, pois os restantes eram enfileirados na “parede da morte”, de forma a poupar balas, pois uma bala na “parede da morte” era suficiente para matar cinco pessoas.

O transtorno era evidente em todo o grupo de visitantes. Confesso que durante muitos dias o assunto andou comigo. Parece-me impensável uma situação destas. A visita a Auschwitz terminou.

Birkenau, situado a cerca de 5 km de distância de Auschwitz, foi um campo construído para a “solução final”, pois Auschwitz já não comportava o número de mortos que era necessário. Este campo tinha quatro câmaras de extermínio. Os judeus era alojados em cavalariças pré-fabricadas, que vinham da Alemanha. Este campo tinha o luxo de ter uma linha ferroviária a desaguar directamente dentro do campo, onde eram descarregados os judeus e efectuada uma primeira triagem, pois idosos, crianças e qualquer portador de deficiência eram automaticamente mortos, excepto os que eram selecionados para experiências. Muitas mulheres eram também logo executadas, apenas as mais fortes iam trabalhar, juntamente com os homens. Já na fase final, da segunda Guerra Mundial, as cinzas já não tinham aproveitamento e eram depositadas no final do campo, num lago. Este lago, hoje, com a subida e descida das águas, continua cheio de restos mortais e emana um cheiro bastante incomodativo. O espaço está cheio de abutres, que deambulam pelo espaço, tornando-o muito desagradável. Quando soou o final da 2.ª Guerra Mundial, ainda tentaram destruir o campo, mas não foi possível, tendo sido destruídas duas câmaras e algumas cavalariças de acomodação.

Apesar de impressionante, todas as pessoas deviam visitar esta realidade, pois só assim é possível perceber o massacre que ali se passou. “O trabalho liberta?” – Era esta a promessa, de uma vida melhor, que milhões não conseguiram ter.

Silêncio!