16 Fevereiro 2015      00:00

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O Correr dos dias | 16 fev "Ibra, um exemplo"

Enquanto este fim-de-semana, milhares desfilaram pelo país e usaram o Carnaval para se animar e satirizar, em Lisboa, centenas marcharam pela Grécia e contra Passos, Cavaco e Merkel. Na Madeira, Alberto João não desfilou, mas usou um chapéu tradicional da Grécia em sinal de solidariedade.

Nos protestos de Lisboa foram muitos os cartazes de apoio a Tsipras e cachecóis iguais aos do ministro das Finanças grego. Num protesto que, mais vez, correu o risco de ser partidarizado – parece que o BE quer o exclusivo de tudo o que incluí as palavras “Grécia” e “gregos” mesmo os iogurtes.

Certo, é que se as eleições fossem hoje, mesmo com toda a pressão exercida por parte da comunidade internacional – Schäuble, ministro da Finanças alemão, disse mesmo "Sinto muito pelos gregos. Elegeram um governo que se comporta de forma irresponsável" e que a Grécia estava no bom caminho até o Syriza ser eleito (Um “caminho” questionável, para mais se tivermos em conta o artigo de Geopolítica da Stratfor, publicado aqui no Tribuna (http://www.tribunaalentejo.pt/index.php/internacional/162-mundo-global/1938-o-ressurgir-da-alemanha) ) – o Syriza teria 45,4% dos votos, mais 9% que há três semanas, quando venceu as eleições. Já a Nova Democracia de Samaras, o ex-primeiro-ministro, continua a cair.

Sobre o tema, Marcelo disse na sua rubrica habitual na TV, que Cavaco e Passos tiveram "azares" a falar sobre a Grécia. Mais que “azares” terão sido falta de responsabilidade política, para mais tendo experiência suficiente para saber que era conversa que não adiantaria nada a Portugal – nem mesmo os agradecimentos alemães – e que facilmente podiam ser contrariados pelas circunstâncias internacionais num futuro muito curto.

Lá fora o Estado Islâmico voltou a divulgar vídeo. Desta vez decapitaram de 21 cristãos egípcios. Talvez seja hora da comunidade internacional perceber que se não houver divulgação, o exibicionismo deste ceifar de vidas deixará de fazer sentido.

Em resposta, o Egito bombardeou posições do Estado Islâmico na Líbia, presumível local onde a chacina terá tido lugar.

Talvez os estados devam começar a agir, mais que a reagir.

Mas a instabilidade causada por estas correntes fundamentalistas, mais marcadamente pelos acontecimentos de Paris, tiveram também na Europa mais um triste e lamentável episódio.

Em Copenhaga, capital da Dinamarca, uma sinagoga foi alvo de dois atentados no sábado. Duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas.

A primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt solidarizou-se com a comunidade judaica da Dinamarca: “Estamos devastados! Um homem perdeu a vida ao serviço da sinagoga, e estamos devastados. Os nossos pensamentos estão com a família. Hoje os nossos pensamentos estão com a comunidade judaica. Eles pertencem à Dinamarca”, assegurou.

A instabilidade e as relações perigosas entre governos e religião estão também a marcar a Turquia. Milhares contestam a “islamização” do sistema educativo.

Alunos, pais e professores acusaram o governo de substituir o ensino secular pelo religioso e as manifestações forma reprimidas por canhões de água e gás lacrimogéneo.

Segundo dados do “Economic Research Institute” aproximadamente 1500 estabelecimentos de ensino foram convertidos em escolas religiosas na Turquia, isto só entre 2010 e 2013.

Com tantos acontecimentos destes, mesmo em época carnavalescas, é quase normal que Günter Grass, Nobel da Literatura, diga que a III Guerra Mundial já começou.

Numa entrevista ao jornal alemão “Neuen Westfalische”, Grass lamentou que não exista na Europa um grupo de líderes com capacidade suficiente para assegurar a paz no continente. Destacou líderes como Olof Plame na Suécia, Willy Brandt na Alemanha e Bruno Kreisky na Áustria – de quem disse terem atuado com verdadeiras poses de Estado e que agora nos faltam “políticos com esse calibre".

Notícia do fim-de-semana foram também as tatuagens de Zlatan Ibrahimovic, jogador de futebol sueco do Paris Saint-German. Mais seguramente mais digna de destaque é a razão pelo qual as fez. Zlatan, conhecido pela sua intempestividade e irreverência, escreveu no seu corpo o nome de 50 pessoas que morreram no mundo por fome. Explica-o neste vídeo:https://www.dailymotion.com/video/x2h98g6_805millionnames_people.

Enquanto boa parte do planeta vive dias de verdadeira extravagância e exageros, será bom olharmos para o lado e dar a mão a alguém.

Luís Carapinha, editor