29 Janeiro 2015      00:00

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Jorge Leal inaugura a DESCASCAR

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O pintor Jorge Leal inaugura a DESCASCAR, no próximo dia 31 de janeiro, às 17h, no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor.

Eis o porquê do nome dado a esta exposição, pelo próprio autor.

A pintura é, de um modo genérico, associada à presença da cor. Uma pintura com muitas cores é por norma aceite como objecto correcto. Num quotidiano saturado de imagens coloridas, reais e digitais, tenho vindo a questionar este paradigma da pintura ter de ser obrigatoriamente colorida. É necessário ter em conta que a pintura não é a realidade nem tem de ser uma representação fiel do que nos rodeia. Para esse efeito a fotografia e o cinema são as ferramentas mais poderosas e eu não quero desenvolver o meu trabalho com nenhuma delas. Considero que a pintura tem o dever de propor uma alternativa à realidade; apenas assim pode manter-se como manifestação viável.

Imaginemos um fruto, uma maçã vermelha. Se a descascar estou a retirar a sua presença retiniana, estou a anular o seu reconhecimento mais imediato: a sua cor. Mas continuamos a reconhecer no fruto descascado, sem hesitar demasiado, a mesma maçã mil vezes trincada.

No último ano o processo de trabalho no ateliê tem sido esse descascar, esse retirar do excesso de pintura. Tal como uma música rock não tem de ter as notas todas, a pintura também não tem de ter as cores todas ou ser demasiado histérica. A pintura pode voltar a ser uma possibilidade de calma, alheia ao reboliço desnecessário e pueríl dos nossos dias.

Neste questionamento da pintura entra em consideração a importância fundamental do desenho no meu processo criativo. Durante muitos anos a pintura e o desenho não se relacionavam organicamente, eram dois universos distintos não colaborantes. O desenho era o meu trabalho íntimo que permanecia nos cadernos e a pintura era o lado público do meu trabalho. Havia uma perda simultânea de intensidade por ambos não se contaminarem. Também era do meu interesse perceber como poderia aproveitar o legado de alguns artistas anteriores a mim (Giacometti, van Gogh, Matisse, Guston) que questionaram igualmente a pintura. Todos eles, de algum modo, introduziram o desenho na pintura transformando-a por dentro.

O último ano de trabalho no ateliê consistiu em perceber como o poderia fazer nos meus termos. Encontrei um modo de a pintura ser desenho ao transformar esta em desenho feito com os materiais da pintura. Este processo transformativo não está terminado. Os trabalhos que constituem esta exposição são uma cristalização do que desenvolvi até aqui e antecipam possíveis desenvolvimentos.

 

Lisboa, Janeiro de 2015

Jorge Leal