2 Novembro 2014      00:00

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A Europa e a fábula dos três porquinhos

Há uma fábula que fala de três porquinhos, que se deitam à luta para preparar a chegada do lobo mau.

Uns menos preparados e outro, Prático, mais desenvolto para se prevenir das investidas do lobo.

E assim deve ser a nova Europa, calculista nos riscos que tem pela frente e visionária num projecto político-económico comum. Mas os seus líderes, além de fracos pela sua incapacidade de coesão, de concertação de esforços para carburar o elo fundamental da UE, chamado SOLIDARIEDADE, tornaram-se reféns do 4º poder da comunicação social e do mundo cibernético que potenciam todos e quaisquer problemas de uma nação à escala mundial.

Estes líderes de pacotilha tornaram-se puras marionetas de interesses económicos e de agendas mediáticas e, ao contrário dos estadistas do pós-guerra que sabiam liderar a médio prazo e para o interesse nacional, lideram em função de agiotas, de sondagens e de opiniões públicas.

Ao contrário do que seria exigível aos governantes europeus, de almejarem ser uma estrela-guia dos programas governo para um desenvolvimento sustentável e harmonioso dos respectivos países e organizações, cedem facilmente à tentação de mediar caso a caso todo e qualquer imbróglio que vai surgindo nos escaparates de imprensa.

No presente vão actuando como autênticos bombeiros, apagando fogos que vão despoletando um pouco por todo o lado, esquecendo irremediavelmente a prevenção que se exigia a quem tão importante cargo exerce. No meio de tanta atrapalhação política entre uma Europa que se quer integradora de vontades, geradora de consensos e sobretudo solidária de economias e sociedades e do extenso rol de problemáticas por sanar, resta saber qual é o caminho a trilhar pelas nações europeias e seus respectivos líderes e sobretudo qual é a dimensão que querem projectar no Mundo de uma organização que em tempos foi um paradigma único de desenvolvimento, de integração e solidariedade entre Estados.

O Tratado de Lisboa, sucedâneo de Schengen assinado em 2007 e que previa um espaço de ampla liberdade, segurança e justiça carece de novos impulsos congregadores de uma UE inovadora, revigorada e adaptável aos novos desafios do século XXI.

Dito isto, parece-me inevitável afirmar que o actual modelo da UE está esgotado e pede-se assim que o eleitorado europeu eleve a fasquia da exigência dos seus líderes, que estes por sua vez saibam gerir as diferentes conjunturas com que se vão deparando alheando-se da agenda mediática e dos lóbis económico-financeiros, sempre muito presentes, tal como deixem de agir no exercício exclusivo dos seus interesses nacionais [crise financeira e crise da Ucrânia cabais exemplos e Reino Unido lutando em primeiro lugar pela perspectiva anglófona] e moralizem os seus cargos, promovendo a total transparência dos respectivos mandatos e elevando o debate político e consequente informação disponível sobre a União Europeia [em Portugal as eleições europeias pouco dizem aos portugueses e a classe política vai-se aproveitando desse desinteresse em benefício próprio].

Será também pertinente remodelar a estrutura orgânica da UE que seja, por um lado respeitosa do princípio da igualdade de Estados, por outro que possa escolher em função da qualidade e do mérito dos seleccionados e não apenas em função de quotas estabelecidas por país, que muito deixam a desejar na busca pela qualidade e excelência.

Por último mas acima de tudo, que os políticos europeus não deixem que coesão e harmonia de princípios e acções possa ser sinónimo de desrespeito pelas idiossincrasias de cada estado-membro, pois essa atitude autoritária, anti-democrática e feita de forma obscura nos corredores de Bruxelas é que acentua grosso modo, o desinteresse e afastamento dos europeus perante a casa UE.

Tal como o porquinho Prático fez, uma casa para se habitar deve ser feita pela base e ser vigorosa. E esta Europa em vez de patrocinar desmesuradamente alargamentos inusitados e pouco integradores, deverá concentrar-se sim em arrumar a casa e tratar de unir o conciliável, bem como de dar especial enfoque a uma política supra-nacional que seja liderada por verdadeiros europeístas, conscientes de que a verdadeira união da Europa passa pela primazia da mensagem e dos objectivos comuns. Sem tudo isto, arriscamo-nos a ter uma casa de palha, caída ao primeiro sopro.

casa porcos